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Intestino Inflamado Pode Explicar O Cansaço Prolongado Pós-COVID

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 23 de jun.
  • 5 min de leitura
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Pesquisadores descobriram que problemas intestinais antes e depois da COVID-19 podem estar ligados à fadiga crônica persistente, conhecida como Síndrome Pós-COVID. O estudo mostra que alterações no sistema imunológico e inflamação intestinal podem ter papel importante nesse cansaço prolongado. Monitorar sintomas digestivos pode ajudar a prever quem corre maior risco e melhorar o diagnóstico e o tratamento.


A COVID-19, causada pelo vírus SARS-CoV-2, foi inicialmente identificada como uma infecção respiratória, mas com o tempo, cientistas perceberam que seus efeitos vão muito além dos pulmões. Muitos pacientes relataram sintomas persistentes mesmo após a recuperação da infecção aguda, quadro conhecido como Síndrome Pós-COVID (SPC). 


Um dos problemas mais comuns entre esses pacientes é a fadiga intensa e duradoura, que em alguns casos se assemelha a uma condição chamada Encefalomielite Miálgica ou Síndrome da Fadiga Crônica (EM/SFC). Ambas as síndromes compartilham sintomas como cansaço extremo, dificuldades cognitivas e mal-estar após esforços simples. 


No entanto, como não existem exames laboratoriais definitivos para essas condições, o diagnóstico ainda se baseia nos sintomas descritos pelos pacientes, tornando a estimativa de casos um desafio. 

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Estudos mostram que cerca de 1% a 10% das pessoas infectadas com SARS-CoV-2 podem desenvolver sintomas semelhantes aos da Encefalomielite Miálgica ou Síndrome da Fadiga Crônica, o que indica que os números dessa síndrome podem dobrar nos próximos anos. 


Assim como na Síndrome da Fadiga Crônica, muitas vezes a Encefalomielite Miálgica começa após infecções virais. Pesquisadores acreditam que essas condições envolvem alterações no sistema imunológico, disfunções intestinais e problemas no funcionamento das mitocôndrias (as “usinas de energia” das células). 


Em especial, um sistema imunológico desregulado pode levar à produção exagerada de substâncias inflamatórias chamadas citocinas, que interferem no funcionamento normal do corpo.


Apesar de ser uma doença respiratória, a COVID-19 afeta também outros órgãos, especialmente o intestino. O vírus pode danificar diretamente as células que revestem o trato digestivo ou causar esse dano por meio da inflamação ativada pelo sistema imunológico. 

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Essa lesão afeta a barreira intestinal, uma estrutura essencial que impede a entrada de microrganismos e toxinas na corrente sanguínea. Quando essa barreira é comprometida, como foi observado em casos graves de COVID-19, substâncias como proteínas da família da zonulina e fragmentos de DNA bacteriano podem ser detectadas no sangue, sugerindo inflamação intestinal.


Pesquisas mostram que a COVID-19 pode alterar a composição da microbiota intestinal (as bactérias benéficas que vivem no intestino), o que afeta o sistema imunológico e a proteção intestinal. 


Além disso, a enzima ECA-2, que o vírus usa para entrar nas células, é muito presente no intestino, sugerindo que o trato gastrointestinal pode servir de reservatório viral mesmo após a infecção aguda passar. Uma meta-análise revelou que 22% dos pacientes com Síndrome da Fadiga Crônica relatam sintomas gastrointestinais, reforçando a ideia de que o intestino tem papel central nessa condição.


Neste estudo, os pesquisadores da Medical University of Vienna, Austria, analisaram pacientes com fadiga persistente após a COVID-19, comparando seus sintomas e histórico médico com amostras biológicas como sangue, saliva e fezes.


O objetivo era entender melhor como o vírus afeta o corpo a longo prazo e identificar fatores de risco e possíveis marcadores que ajudem a prever quem pode desenvolver a Síndrome da Fadiga Crônica. 

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Os resultados mostraram que pessoas com problemas intestinais antes da infecção tinham mais chances de desenvolver fadiga pós-COVID. Esses pacientes apresentaram alterações em marcadores inflamatórios específicos, como níveis aumentados de IL-6 (uma citocina pró-inflamatória), níveis reduzidos de IL-33 e desequilíbrio entre as moléculas LBP e sCD14, que indicam inflamação e ativação do sistema imune.


Com base nesses achados, os cientistas propõem que a COVID-19 pode causar fadiga crônica por meio de inflamação intestinal persistente e comprometimento da barreira intestinal. Isso permite que substâncias indesejadas entrem na corrente sanguínea, provocando reações no corpo todo. 


Monitorar sintomas intestinais antes e depois da infecção pode ajudar a identificar precocemente as pessoas com risco de desenvolver a Síndrome da Fadiga Crônica. Com esse conhecimento, os médicos poderão desenvolver melhores formas de diagnóstico, tratamento e prevenção, oferecendo mais qualidade de vida aos pacientes afetados.

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Essa figura mostra, de forma simples, como a COVID-19 pode causar um tipo de cansaço extremo e duradouro chamado de Síndrome Pós-COVID (ou COVID longa), especialmente quando há envolvimento do intestino. Quando uma pessoa se infecta com o vírus SARS-CoV-2, isso pode danificar a barreira protetora do intestino, permitindo que substâncias e microrganismos escapem para o corpo, desencadeando inflamações. Isso pode causar sintomas como fadiga intensa. O estudo também descobriu que pessoas que já tinham problemas intestinais antes da COVID-19 parecem ter mais chance de desenvolver essa fadiga. Para investigar isso, os pesquisadores analisaram amostras de sangue, saliva e fezes de quatro grupos: pessoas com fadiga pós-COVID, pessoas que se recuperaram da COVID sem fadiga, pessoas com fadiga pós-Epstein-Barr e pessoas saudáveis. Os resultados mostraram alterações em substâncias inflamatórias no sangue (como IL-6 e IL-33), especialmente nas pessoas com fadiga e que já tinham queixas intestinais antes da infecção. Isso sugere que cuidar da saúde intestinal pode ser importante para prevenir ou tratar a fadiga após a COVID-19.



LEIA MAIS:


Gastrointestinal Barrier Disruption in Post-COVID Syndrome Fatigue Patients

Johanna Rohrhofer, Viktoria Wolflehner, Johannes Schweighardt, Larissa Koidl, Michael Stingl, Sonja Zehetmayer, Joana Séneca, Petra Pjevac, Eva Untersmayr

Allergy. 15 May 2025 


Abstract:


Post-COVID Syndrome (PCS) is the term for a condition with persistent symptoms in a proportion of COVID-19 patients after asymptomatic, mild, or severe disease courses. Numbers vary, but the current estimate is that after COVID-19 approximately 10% develop PCS. The aim of our study was to evaluate the impact of SARS-CoV-2 infection on the gastrointestinal (GI) tract and associations with the development of PCS with fatigue, post-exertional malaise (PEM), orthostatic dysregulation, autonomous dysregulation, and/or neurocognitive dysregulation. By combining medical record data from a prospective observational study with symptom analysis before, during, and after SARS-CoV-2 infection, we aimed to identify potential risk factors and predictive markers for PCS. Additionally, we analyzed blood, saliva, and stool samples from this well-characterized PCS patient cohort to biologically validate our findings. We identified significant associations between pre-existing GI complaints and the development of PCS Fatigue. PCS patients showed higher LBP/sCD14 ratios, lower IL-33 levels, and higher IL-6 levels compared to control groups. Our results highlight the critical role of the GI tract in PCS development of post-viral Fatigue. We propose that the viral infection disrupts pathways related to the innate immune response and GI barrier function, evidenced by intestinal low-grade inflammation and GI barrier leakage. Monitoring GI symptoms and markers before, during, and after SARS-CoV-2 infection is crucial for identifying predictive clinical phenotypes in PCS. Understanding the interaction between viral infections, immune responses, and gut integrity could lead to more effective diagnostic and treatment strategies, ultimately reducing the burden on PCS patients.

 
 
 

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