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Estatinas e Depressão: Ciência Diz Que Essa Combinação Não Funciona

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 14 de ago.
  • 5 min de leitura
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Pesquisadores testaram se o uso da sinvastatina, um remédio para reduzir colesterol, poderia ajudar no tratamento da depressão em pessoas com obesidade. Todos os participantes tomaram o antidepressivo escitalopram, e metade também recebeu sinvastatina. Após 12 semanas, não houve melhora extra nos sintomas da depressão para quem usou a sinvastatina, mas o medicamento reduziu o colesterol e a inflamação, melhorando o perfil cardiovascular.


A depressão, também chamada de transtorno depressivo maior, é uma das doenças que mais afetam a qualidade de vida no mundo. Aproximadamente uma em cada seis pessoas terá depressão em algum momento da vida. A obesidade também é um grande problema de saúde pública: atualmente, cerca de uma em cada oito pessoas no planeta atende aos critérios para esse diagnóstico. Essas duas condições muitas vezes acontecem juntas. 


Quando uma pessoa tem apenas uma delas, o risco de desenvolver a outra aumenta em cerca de 50% a 60%. Tanto a depressão quanto a obesidade estão ligadas a doenças crônicas, como problemas cardíacos e diabetes, e também a um risco maior de morte precoce. Por isso, é urgente encontrar tratamentos mais eficazes para quando as duas ocorrem ao mesmo tempo. 

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As estatinas são medicamentos normalmente usados para reduzir o colesterol no sangue. Elas agem bloqueando uma enzima importante para a produção de colesterol no fígado. Mas, além desse efeito, pesquisas já mostraram que as estatinas podem influenciar processos no corpo que também têm relação com a depressão, como a inflamação, a produção de novos neurônios, a regulação dos hormônios do estresse e o funcionamento de certos neurotransmissores. 


Alguns estudos sugeriram que pessoas que usam estatinas teriam menor risco de desenvolver depressão, mas outros não confirmaram essa ligação.


Ensaios clínicos, que são estudos controlados e organizados para testar um tratamento de forma confiável, já avaliaram o uso de estatinas junto com antidepressivos. Alguns estudos menores encontraram bons resultados, indicando que a combinação poderia reduzir os sintomas da depressão. Porém, pesquisas mais recentes, maiores e melhor conduzidas, não mostraram vantagens claras. 


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Até agora, nenhum estudo desse tipo havia sido feito especificamente com pessoas que têm depressão e obesidade ao mesmo tempo. Esse grupo é considerado mais difícil de tratar, pois tende a ter sintomas mais duradouros e maior resistência aos medicamentos convencionais.


Para investigar isso, pesquisadores fizeram um estudo em que compararam dois grupos de pacientes com depressão grave e obesidade. Todos receberam o antidepressivo escitalopram, mas metade recebeu também a sinvastatina, enquanto a outra metade recebeu um comprimido placebo, que não tem efeito ativo. O objetivo era descobrir se a sinvastatina ajudaria a melhorar mais a depressão do que o tratamento apenas com escitalopram.


O estudo foi realizado em nove centros médicos na Alemanha e incluiu 161 pacientes adultos. Os participantes foram acompanhados por 12 semanas. Nas primeiras duas semanas, todos tomaram 10 miligramas de escitalopram por dia, aumentando para 20 miligramas até o fim do estudo. Quem estava no grupo da sinvastatina recebeu também 40 miligramas por dia desse medicamento.


O principal resultado que os cientistas analisaram foi a mudança na pontuação de um questionário que mede a gravidade da depressão, chamado Escala de Avaliação de Depressão de Montgomery-Åsberg, do início até o final do tratamento. Os pesquisadores também avaliaram outros aspectos da saúde mental e exames de sangue relacionados ao risco cardiovascular.

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No fim do estudo, não houve diferença significativa entre os grupos em relação à melhora dos sintomas da depressão. A sinvastatina não trouxe benefícios adicionais sobre o efeito do escitalopram no tratamento da depressão, nem nos outros indicadores de saúde mental avaliados.


Por outro lado, a sinvastatina reduziu de forma clara o colesterol ruim (lipoproteína de baixa densidade), o colesterol total e a proteína C-reativa, que é um marcador de inflamação no corpo.


Em resumo, este estudo mostrou que, para pacientes com depressão grave e obesidade, adicionar sinvastatina ao tratamento com escitalopram não ajudou a melhorar a depressão. No entanto, o medicamento trouxe benefícios para a saúde cardiovascular, o que pode ser importante para reduzir riscos futuros de doenças do coração.



LEIA MAIS:


Simvastatin as Add-On Treatment to Escitalopram in Patients With Major Depression and Obesity: A Randomized Clinical Trial

Christian Otte, Woo Ri Chae, Deniz Yildirim Dogan, Dominique Piber, Stefan Roepke, An Bin Cho, Samuel Trumm, Michael Kaczmarczyk, Jelena Brasanac, Katja Wingenfeld, Stefanie Koglin, Johannes Wieditz, Klaus Junghanns, Michael Lucht, David Prvulovic, Tillmann H. C. Krüger, Jan Terock, Moritz Haaf, Tobias Hofmann, Nicole Mauche, Jan Philipp Klein, Hans Jörgen Grabe, Andreas Reif, Kai G. Kahl, Deborah Janowitz, Gregor Leicht, Kim Hinkelmann, Maria Strauß, Tim Friede, and Stefan M. Gold

JAMA Psychiatry. 2025;82;(8):759-767.

DOI: 10.1001/jamapsychiatry.2025.0801


Abstract: 

 

Major depressive disorder (MDD) and obesity are common noncommunicable disorders associated with substantial disease burden, which frequently occur comorbidly. Intriguingly, converging lines of evidence from animal models and genetic and observational studies have suggested a biological link between obesity, metabolic syndrome, and depression. Several small randomized clinical trials (RCTs) have suggested the antidepressive potential of statins. To examine whether simvastatin added to escitalopram is efficacious in improving depressive symptoms compared with add-on placebo. This was a confirmatory, double-blind, placebo-controlled, multicenter RCT. Adults with MDD and comorbid obesity from 9 tertiary care settings in Germany were enrolled in this analysis. Data were analyzed from July to October 2024. Simvastatin (40 mg per day) or placebo as add-on to escitalopram (10 mg for the first 2 weeks, then increased to 20 mg until the end of study) in a double-blind fashion for 12 weeks. The primary outcome was change in Montgomery-Åsberg Depression Rating Scale (MADRS) score from baseline (week 0) to week 12. From August 21, 2020, to June 06, 2024, a total of 161 patients were enrolled at 9 sites in Germany, of which 160 patients were included in the intention-to-treat analysis (placebo: n = 79, simvastatin: n = 81; mean [SD] age, 39.0 [11.0] years; 126 female [79%]). Retention in the trial was excellent (95.6%), and blinding was effectively maintained. There were 4 serious adverse events with no difference between the groups. Primary end point analysis in the intention-to-treat sample showed no significant treatment effect of add-on simvastatin in MADRS scores (mixed models for repeated measures least squares mean difference, 0.47 points; 95% CI, −2.08 to 3.02; P = .71). No effects of simvastatin treatment were observed in any of the mental health–related secondary end points. However, simvastatin treatment significantly reduced low-density lipoprotein cholesterol (simvastatin, −40.37 mg/dL; 95% CI, −47.41 to −33.33 mg/dL; placebo, −3.78 mg/dL; 95% CI, −11.18 to 3.62 mg/dL; P < .001), total cholesterol (simvastatin, −39.07 mg/dL; 95% CI, −49.42 to −28.73 mg/dL; placebo, −4.89 mg/dL; 95% CI, −15.64 to 5.87 mg/dL; P < .001), and C-reactive protein (simvastatin, −1.04 mg/L; 95% CI, −1.89 to −0.20 mg/L; placebo, 0.57 mg/L; 95% CI, −0.28 to 1.42 mg/L; P = .003) compared with placebo. The study failed to meet its primary end point. This demonstrates that simvastatin did not exert additional antidepressive effects when added to escitalopram in patients with comorbid MDD and obesity, despite improving the cardiovascular risk profile. Trial Registration; ClinicalTrials.gov Identifier: NCT04301271

 
 
 

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