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Esquizofrenia e Cannabis: Um Novo Exame de Sangue Pode Revelar o Risco

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 1 de abr.
  • 4 min de leitura

Cientistas analisaram o sangue de pessoas com esquizofrenia, uso excessivo de cannabis ou ambos para entender como essas condições afetam o metabolismo. Eles descobriram alterações em certas moléculas de gordura, sugerindo que a cannabis pode influenciar processos ligados à esquizofrenia. Essas descobertas podem ajudar no desenvolvimento de novos tratamentos no futuro.


A esquizofrenia (SZ) é uma doença psiquiátrica grave e crônica que afeta aproximadamente 1% da população mundial ao longo da vida. Trata-se de um transtorno que compromete a percepção da realidade, podendo causar alucinações, delírios e dificuldades cognitivas. 


Além do impacto emocional e social, a esquizofrenia reduz a expectativa de vida dos pacientes em até 15 anos, principalmente devido a complicações associadas, como suicídio, doenças cardiovasculares e falta de acesso adequado ao tratamento. 


Atualmente, não há cura para a esquizofrenia, e os tratamentos disponíveis buscam apenas controlar os sintomas.


Muitos fatores podem contribuir para o desenvolvimento da esquizofrenia, incluindo predisposição genética e influências ambientais. Embora os sintomas da doença geralmente apareçam no final da adolescência ou início da vida adulta, acredita-se que o transtorno tenha origem muito antes do surgimento dos primeiros sinais, possivelmente ainda no desenvolvimento fetal. 


No entanto, a ciência ainda não conseguiu identificar com precisão os mecanismos biológicos exatos que desencadeiam a esquizofrenia. 

A cannabis, uma das substâncias psicoativas mais consumidas no mundo, tem sido associada a um aumento no risco de desenvolvimento da esquizofrenia, especialmente quando o uso começa na adolescência. 


Estima-se que 10% dos usuários regulares de cannabis desenvolvam transtorno por uso de cannabis (CUD), uma condição caracterizada por dependência e dificuldades em controlar o consumo. Além disso, cerca de um terço das pessoas diagnosticadas com esquizofrenia também apresentam CUD. 


No entanto, ainda não está claro por que algumas pessoas desenvolvem esquizofrenia após o uso de cannabis, enquanto outras apenas desenvolvem o transtorno por uso da substância.


Nos últimos anos, cientistas têm utilizado a metabolômica, uma abordagem que analisa pequenas moléculas chamadas metabólitos, para entender melhor as diferenças entre indivíduos com esquizofrenia e aqueles que fazem uso de cannabis. 


Um dos focos dessas pesquisas está nos lipídios, um grupo de moléculas que inclui gorduras e óleos e desempenha um papel essencial no funcionamento do cérebro. Os lipídios fazem parte das membranas das células nervosas e estão envolvidos na comunicação entre os neurônios.

Neste estudo, os pesquisadores investigaram os perfis lipídicos no sangue de três grupos de indivíduos:


  1. Pacientes diagnosticados apenas com esquizofrenia.

  2. Indivíduos com transtorno por uso de cannabis (CUD).

  3. Pacientes que apresentavam ambos os transtornos (esquizofrenia e CUD).


Para identificar possíveis biomarcadores que diferenciem esses grupos, os cientistas utilizaram uma técnica chamada cromatografia líquida acoplada à espectrometria de massa de alta resolução (LC-MS). Essa técnica permite detectar e quantificar centenas de metabólitos (pequenas particulas) no plasma sanguíneo.


O sangue foi escolhido como matriz biológica porque sua coleta é minimamente invasiva e reflete mudanças metabólicas em todo o corpo.


A abordagem utilizada no estudo foi lipidômica não direcionada, o que significa que os pesquisadores não estavam buscando um metabólito específico, mas sim analisando globalmente as variações nos perfis lipídicos entre os grupos estudados. 

Os cientistas identificaram 119 metabólitos, dos quais 16 foram validados com alto nível de confiança. Entre os achados mais relevantes:


  • Redução de acilcarnitinas (moléculas envolvidas no metabolismo energético), como octanoilcarnitina e decanoilcarnitina, em todos os grupos de pacientes em comparação aos controles saudáveis.


  • Diminuição de N-acil aminoácidos (NAAAs), como N-palmitoil treonina e N-palmitoil serina, nos indivíduos com transtorno por uso de cannabis. Esse mesmo padrão foi observado nos pacientes com esquizofrenia e no grupo com diagnóstico duplo.


  • Aumento dos níveis de 7-desidrodesmosterol, um metabólito envolvido na produção de colesterol, nos pacientes com esquizofrenia e diagnóstico duplo.


Essas descobertas sugerem que tanto a esquizofrenia quanto o uso crônico de cannabis podem estar associados a alterações metabólicas importantes, especialmente no metabolismo lipídico. 


A redução das acilcarnitinas, por exemplo, pode indicar um problema na utilização de energia pelas células cerebrais. Já a diminuição dos NAAAs sugere uma possível disfunção no sistema endocanabinoide, que regula vários processos cerebrais e é fortemente influenciado pelo consumo de cannabis.


Ao identificar esses padrões metabólicos, os pesquisadores esperam abrir caminho para o desenvolvimento de novos biomarcadores para a detecção precoce da esquizofrenia e do transtorno por uso de cannabis. Além disso, compreender essas alterações pode ajudar na criação de estratégias terapêuticas que atuem sobre vias metabólicas específicas, melhorando o tratamento desses transtornos psiquiátricos.



LEIA MAIS:


Uncovering metabolic dysregulation in schizophrenia and cannabis use disorder through untargeted plasma lipidomics

Aitor Villate, Maitane Olivares, Aresatz Usobiaga, Paula Unzueta-Larrinaga, Rocío Barrena-Barbadillo, Luis Felipe Callado, Nestor Etxebarria and Leyre Urigüen

Scientific Reports. 14, Article number: 31492 (2024)

DOI: 10.1038/s41598-024-83288-5


Abstract: 


Cannabis use disorder affects up to 42% of individuals with schizophrenia, correlating with earlier onset, increased positive symptoms, and more frequent hospitalizations. This study employed an untargeted lipidomics approach to identify biomarkers in plasma samples from subjects with schizophrenia, cannabis use disorder, or both (dual diagnosis), aiming to elucidate the metabolic underpinnings of cannabis abuse and schizophrenia development. The use of liquid chromatography-high resolution mass spectrometry enabled the annotation of 119 metabolites, with the highest identification confidence level achieved for 16 compounds. Notably, a marked reduction in acylcarnitines, including octanoylcarnitine and decanoylcarnitine, was observed across all patient groups compared to controls. In cannabis use disorder patients, N-acyl amino acids (NAAAs), particularly N-palmitoyl threonine and N-palmitoyl serine, showed a strong downregulation, a pattern also seen in schizophrenia and dual diagnosis patients. Conversely, elevated levels of 7-dehydrodesmosterol were detected in schizophrenia and dual diagnosis patients relative to controls. These findings suggest a potential link between metabolic disruptions and the pathophysiology of both disorders. The untargeted lipidomics approach offers a powerful tool to identify novel biomarkers, enhancing our understanding of the biological relationship between cannabis abuse and schizophrenia, and paving the way for future therapeutic strategies targeting metabolic pathways in these conditions.

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