top of page

Treinar a Mente Para Sentir: Nova Abordagem Acelera Recuperação Na Esquizofrenia

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • há 14 horas
  • 4 min de leitura
ree

A esquizofrenia não afeta apenas o pensamento lógico, mas também a forma como a pessoa entende e se relaciona com os outros. Pesquisas mostram que o sucesso na recuperação depende fortemente da cognição social, especialmente da capacidade de interpretar emoções e intenções. O estudo analisou 102 pacientes e mostrou que melhorar essas habilidades pode ajudar as pessoas a viverem com mais autonomia e estabilidade. Treinar o cérebro para compreender melhor o comportamento humano é, portanto, uma das chaves para uma vida funcional na esquizofrenia.


Pesquisas realizadas ao longo de quase três décadas mostram que pessoas com esquizofrenia enfrentam grandes desafios não apenas nos sintomas psiquiátricos, mas também em suas capacidades cognitivas, ou seja, nas funções mentais que envolvem pensar, compreender, lembrar e interagir socialmente.


Esses desafios, tanto neurológicos quanto sociais, são uma das principais barreiras para a recuperação e o retorno a uma vida funcional.


Por isso, cientistas têm desenvolvido programas chamados “remediação cognitiva”, que são conjuntos de exercícios e treinamentos mentais voltados para melhorar tanto a cognição “pura” (como memória, atenção, planejamento e raciocínio) quanto a cognição social (a capacidade de entender emoções, intenções e comportamentos das outras pessoas). 


Essa abordagem tem mostrado resultados promissores, especialmente quando aplicada nas fases iniciais da esquizofrenia, um momento crucial para evitar o agravamento da doença e reduzir a incapacidade a longo prazo.


ree

Estudos anteriores, feitos com pessoas em fases mais crônicas da esquizofrenia, mostraram que há uma interligação entre o pensamento racional e o pensamento social. De forma simples: as funções cognitivas básicas, como memória e atenção, afetam o modo como uma pessoa entende e reage socialmente; e essa cognição social, por sua vez, influencia fortemente a capacidade de manter uma vida funcional, como trabalhar, estudar e se relacionar.


Em média, pessoas com esquizofrenia têm um desempenho cognitivo que é cerca de dois desvios-padrão abaixo da média de pessoas sem a doença, o que significa uma diferença marcante em habilidades como memória, raciocínio e aprendizado.


Já as dificuldades de cognição social, como reconhecer emoções ou interpretar gestos e intenções, são cerca de um desvio-padrão abaixo da média. Ambos os tipos de déficit contribuem para a dificuldade em manter a vida cotidiana e relacionamentos estáveis.


Pesquisas desde o final dos anos 1990 já indicavam que, embora a neurocognição (as funções mentais básicas) e a cognição social estejam relacionadas, elas são funções distintas do cérebro. Em uma grande análise com mais de 2.600 pacientes, foi observado que a cognição social tem maior impacto sobre a vida prática das pessoas do que a neurocognição. 


ree

Estudos mais recentes, incluindo mais de 3.700 pacientes em fases iniciais da esquizofrenia, confirmaram essa relação: quanto mais prejudicada a cognição social, piores são os resultados funcionais, como emprego, relações sociais e autonomia.


Para entender melhor esse mecanismo, pesquisadores desenvolveram um modelo mediador, uma forma de análise que mostra como um fator influencia outro indiretamente. Nesse modelo, a neurocognição afeta a cognição social, que por sua vez afeta o resultado funcional. Assim, o impacto do raciocínio e da memória sobre a vida prática se dá, em grande parte, através da capacidade social e emocional da pessoa.


Um estudo recente testou essa hipótese com 102 pacientes em tratamento ambulatorial, todos nos primeiros anos da doença. Foram avaliadas três dimensões:


  • Neurocognição, que inclui memória, atenção e raciocínio;


  • Cognição social, que engloba habilidades como empatia e interpretação de intenções;


  • Resultado funcional, que se refere à capacidade de viver de forma independente e interagir socialmente.


Os pesquisadores utilizaram um método estatístico chamado análise de caminho, que permite medir como um fator influencia outro direta e indiretamente. 


ree

Os resultados mostraram que, de fato, a cognição social medeia a relação entre o raciocínio e o funcionamento diário, confirmando a hipótese. Dentro das várias habilidades sociais testadas, apenas uma, chamada inferência social (a capacidade de deduzir o que os outros pensam ou sentem), teve um papel realmente determinante.


Ou seja, o estudo indica que o impacto dos déficits cognitivos na vida cotidiana das pessoas com esquizofrenia ocorre, em parte, porque essas dificuldades prejudicam a forma como elas entendem e respondem aos outros. Assim, melhorar a cognição social, especialmente a inferência social, pode ser um dos caminhos mais promissores para a recuperação funcional.


Essas descobertas reforçam a importância de programas de reabilitação cognitiva que sejam abrangentes, incluindo não apenas treino de memória e atenção, mas também o desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais.



LEIA MAIS:


Social cognition as a mediator between neurocognition and functional outcome in early course schizophrenia

Anju Kotwani, Jessica A. Wojtalik, Douglas D. Gunzler, Matthew J. Smith, Wilson J. Brown, Rochanne L. Honarvar, Martha Sajatovic, Matcheri S. Keshavan, and Shaun M. Eack

Psychiatry Research, Volume 351, September 2025, 116594


Abstract: 


Social cognition is an established mediator between neurocognition and functional outcome in schizophrenia, but there is limited evidence for this model specifically in the early course, which is a critical window for intervention to reduce long-term disability. This study aimed to test the social cognition mediator model in the early course of schizophrenia and identify social cognitive subdomains that may have stronger indirect effects on the relationship between neurocognition and functional outcome. This secondary analysis utilized baseline cognitive and functional outcome data from a cognitive remediation trial for outpatients with early course schizophrenia (N = 102). A path analysis approach was used to compute mediation of social cognition (mediator; composite index and subdomain scores) on the relationship between neurocognition (predictor; composite index) and functional outcome (outcome; composite index). Significant positive associations were observed between neurocognition, social cognition, and functional outcome. As previously observed, the mediation effect of the social cognition composite was significant (p = 0.042). Of the seven social cognitive subdomains, only social inference (p < 0.001) emerged as a significant mediator. Reverse mediation models (mediator; neurocognition) were non-significant. Results suggest that the impact of cognition on functional outcome in the early course occurs, in part, through the impact of neurocognition on social cognition, which subsequently influences functional outcome. In addition, social inference is possibly an important treatment target of functional recovery in the early course of the condition, highlighting a potential future research direction. These findings further support the provision of comprehensive cognitive remediation approaches to facilitate functional recovery.

 
 
 

Comentários


© 2020-2025 by Lidiane Garcia

bottom of page