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Doenças Autoimunes Podem Dobrar O Risco De Depressão E Ansiedade

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 8 de jul.
  • 5 min de leitura
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Pessoas com doenças autoimunes, que envolvem inflamação crônica no corpo, têm quase o dobro de chance de desenvolver problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade. Esse estudo com mais de 1,5 milhão de pessoas no Reino Unido sugere que a inflamação no corpo pode estar ligada ao nosso bem-estar emocional, reforçando a conexão entre corpo e mente.


Doenças autoimunes são condições em que o sistema imunológico, que normalmente protege o corpo contra vírus e bactérias, passa a atacar por engano os próprios tecidos saudáveis do organismo. Isso pode causar inflamação, dor e danos em órgãos ou sistemas específicos, como articulações, pele, intestino, cérebro ou tireoide.


Ainda não se sabe exatamente por que isso acontece, mas fatores genéticos, hormonais e ambientais podem estar envolvidos.


Pesquisas recentes têm mostrado que nosso sistema imunológico, especialmente quando está constantemente ativado por inflamações, pode ter uma ligação direta com nossa saúde mental. Isso significa que, além de afetar nosso corpo, a inflamação pode também influenciar o modo como nos sentimos emocionalmente, podendo contribuir para condições como depressão e ansiedade.


Estudos anteriores descobriram que pessoas com altos níveis de inflamação no sangue, medida por substâncias como a proteína C reativa (PCR) e a interleucina-6 (IL-6), são mais propensas a desenvolver sintomas de depressão. Esses marcadores diminuem quando a pessoa responde bem ao tratamento com antidepressivos, o que reforça essa relação. 


Além disso, pessoas com transtorno bipolar ou ansiedade generalizada também costumam apresentar sinais mais altos de inflamação em comparação com pessoas saudáveis. Isso pode ser observado tanto no sangue quanto em sinais de inflamação no cérebro. 

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Para entender melhor essa conexão, cientistas começaram a investigar se reduzir a inflamação pode ajudar no tratamento de transtornos mentais.


De fato, medicamentos anti-inflamatórios, usados junto com antidepressivos ou estabilizadores de humor, têm mostrado resultados positivos, embora modestos, em aliviar os sintomas. Isso sugere que a inflamação crônica pode ter um papel importante no desenvolvimento de distúrbios emocionais.


No entanto, nem todos os estudos mostram uma relação clara entre inflamação e saúde mental, em parte porque muitos deles têm poucos participantes, o que torna difícil tirar conclusões firmes. Como medir inflamação em milhares de pessoas é caro e trabalhoso, os cientistas vêm procurando alternativas para estudar essa relação de forma mais ampla e acessível.


Uma dessas alternativas é usar dados de grandes estudos populacionais, como o Our Future Health (OFH), um enorme projeto de pesquisa no Reino Unido que pretende acompanhar 5 milhões de adultos ao longo do tempo. Já em 2025, mais de 1,5 milhão de pessoas haviam participado. Essas pessoas responderam a perguntas sobre sua saúde, fizeram exames físicos e doaram sangue, permitindo aos cientistas cruzar essas informações com dados médicos fornecidos pelo sistema público de saúde britânico (NHS).  

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Embora nem todos tenham biomarcadores de inflamação medidos diretamente, pessoas com doenças autoimunes, como lúpus ou artrite reumatoide, podem ser consideradas como tendo inflamação crônica, já que essas condições envolvem um sistema imunológico constantemente ativado.


Neste estudo, os pesquisadores, da University of Edinburgh, UK, usaram esses dados para investigar se pessoas com doenças autoimunes tinham mais problemas de saúde mental. Eles compararam dois grupos: um com cerca de 38 mil pessoas que relataram ter uma das seis doenças autoimunes ao longo da vida, e outro com mais de 1,5 milhão de pessoas sem essas doenças.


Os resultados mostraram que pessoas com doenças autoimunes tinham uma taxa significativamente mais alta de transtornos mentais, como depressão, ansiedade e transtorno bipolar. Por exemplo, quase 29% delas relataram algum transtorno afetivo ao longo da vida, contra 18% no grupo sem doenças autoimunes. 

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Esta figura mostra que pessoas com doenças autoimunes têm uma chance maior de também sofrerem de problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade. Cada gráfico representa um tipo diferente de transtorno afetivo (como depressão, ansiedade ou transtorno bipolar), e os pontos coloridos mostram a porcentagem de pessoas com essas condições em diferentes grupos: quem não tem doença autoimune (à esquerda), quem tem qualquer doença autoimune (segundo ponto), e depois cada uma das seis doenças autoimunes específicas (como lúpus, esclerose múltipla e artrite reumatoide). As linhas tracejadas ajudam a comparar os grupos: a linha azul representa a média entre quem tem doença autoimune, e a vermelha, entre quem não tem. Em todos os gráficos, vemos que as taxas de problemas de saúde mental são mais altas entre quem tem doenças autoimunes, o que reforça a ideia de que a inflamação crônica do corpo pode influenciar também o bem-estar emocional e psicológico.


Elas também tinham mais sintomas de depressão e ansiedade no momento da pesquisa. Mesmo após levar em conta fatores como idade, sexo, etnia, renda, dor crônica e histórico familiar de problemas emocionais, as pessoas com doenças autoimunes ainda tinham um risco quase 50% maior de apresentar esses transtornos.


Esse estudo, com um número enorme de participantes, reforça a ideia de que viver com inflamação crônica, como no caso de doenças autoimunes, pode aumentar bastante o risco de desenvolver problemas de saúde mental.


Embora o estudo não prove que a inflamação cause esses transtornos, ele sugere fortemente que existe uma ligação importante entre corpo e mente. Futuras pesquisas deverão explorar mais a fundo os mecanismos dessa relação para que novos tratamentos possam ser desenvolvidos.



LEIA MAIS:


Affective disorders and chronic inflammatory conditions: analysis of 1.5 million participants in Our Future Health

Arish Mudra Rakshasa-Loots, Duncan Swiffen, Christina Steyn, Katie F M Marwick, and Daniel J Smith

BMJ Mental Health 2025;28:e301706.


Abstract: 


Chronic inflammation is associated with psychiatric disorders. If inflammation is linked mechanistically to mental health, people living with chronic inflammatory conditions may experience mental health issues at higher rates than others. To test this hypothesis, we analysed data from 1 563 155 adults living in the UK within the newly launched UK-wide Our Future Health research cohort. Participants were split between two groups: people with self-reported lifetime diagnoses of six autoimmune conditions (n=37 808) and those without these diagnoses (n=1 525 347). Lifetime prevalence (95% CI) of self-reported lifetime diagnoses of any affective disorder (depression, bipolar disorder, anxiety) was significantly higher (p<0.001) among people with autoimmune conditions (28.8% (28.4% to 29.3%)) than in the general population (17.9% (17.8% to 18.0%)), with similar trends observed for individual affective disorders. Prevalence of current depressive symptoms (9-item Patient Health Questionnaire (PHQ-9) ≥10, 18.6% vs 10.5%) and current anxiety symptoms (7-item Generalised Anxiety Disorder Scale (GAD-7) ≥8, 19.9% vs 12.9%) was also higher among people with autoimmune conditions. Odds of experiencing affective disorders, calculated using logistic regression models, were significantly higher in this group compared with the general population (OR (95% CI) = 1.86 (1.82 to 1.90), p<0.001), and these odds remained elevated when adjusting for the effects of age, sex, ethnicity (OR=1.75 (1.71 to 1.79), p<0.001) and additionally, for household income, parental history of affective disorders, chronic pain status and frequency of social interactions (OR=1.48 (1.44 to 1.52), p<0.001). Overall, the risk of affective disorders among people living with autoimmune conditions was nearly twice that of the general population.  Although the observational design of this study does not allow for direct inference of causal mechanisms, this analysis of a large national dataset suggests that chronic exposure to systemic inflammation may be linked to a greater risk for affective disorders. Future work should seek to investigate potential causal mechanisms for these associations.

 
 
 

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