Diferenças Entre Homens e Mulheres Podem Mudar o Tratamento Da Esquizofrenia e Do Transtorno Bipolar
- Lidi Garcia
- 22 de set.
- 4 min de leitura

Homens e mulheres podem apresentar o transtorno bipolar e a esquizofrenia de formas diferentes. Os homens tendem a ter início mais precoce, mais sintomas graves e maior risco de usar drogas e fumar. Já as mulheres costumam ter mais sintomas emocionais e melhor desempenho em alguns testes de memória e atenção, mas também apresentam mais problemas de saúde física, como alterações da tireoide e enxaquecas. Esses resultados mostram que o tratamento precisa considerar as diferenças entre os sexos para ser mais eficaz.
O transtorno bipolar e a esquizofrenia são doenças mentais graves que compartilham alguns sintomas em comum, como dificuldades de raciocínio e a presença de episódios psicóticos (alucinações, delírios e perda de contato com a realidade). Apesar dessa semelhança, elas também apresentam diferenças importantes em como começam, no seu desenvolvimento ao longo do tempo e nos mecanismos cerebrais envolvidos.
Um ponto que tem chamado a atenção dos pesquisadores é como o sexo da pessoa (ser homem ou mulher) pode influenciar esses transtornos. Isso porque já se sabe que homens e mulheres podem ter diferentes idades de início dos sintomas, apresentar manifestações clínicas distintas e até variar em aspectos cognitivos e de qualidade de vida.
Por exemplo, na esquizofrenia, homens costumam ter início mais precoce e sintomas mais graves, enquanto mulheres têm maior presença de sintomas emocionais. Já no transtorno bipolar, mulheres estão mais propensas a quadros de hipomania e homens apresentam mais frequentemente episódios de mania e maior risco de uso de substâncias.

Além dos sintomas, existem também diferenças cognitivas. Em linhas gerais, mulheres tendem a se sair melhor em memória verbal e habilidades sociais, enquanto homens apresentam vantagem em raciocínio espacial e velocidade motora. No contexto de doenças mentais graves, essas diferenças aparecem de maneira variada.
Alguns estudos sugerem que homens com esquizofrenia apresentam maiores prejuízos em memória e aprendizado verbal desde o primeiro episódio de psicose, enquanto outros trabalhos não encontram diferenças relevantes entre os sexos.
Outro ponto investigado são as doenças físicas que aparecem junto com os transtornos mentais graves. Pessoas com transtorno bipolar e esquizofrenia têm mais chances de desenvolver hipertensão, diabetes, enxaqueca e até alguns tipos de câncer quando comparadas à população em geral.
Ainda assim, há nuances: homens tendem a apresentar mais hipertensão, enquanto mulheres têm mais problemas de tireoide. Já no caso da enxaqueca, ela é muito mais comum em mulheres, tanto na população geral quanto em pessoas com transtorno bipolar.

Para entender melhor essas diferenças, os pesquisadores da Universitat de Barcelona (UB), Espanha, analisaram dados de mais de 1.500 pessoas. O estudo incluiu três grupos: indivíduos com transtorno bipolar (543 pessoas), indivíduos com esquizofrenia (517 pessoas) e um grupo de comparação formado por pessoas sem doenças mentais (456 indivíduos).
Essas pessoas foram avaliadas em diversos aspectos: idade, características sociodemográficas, sintomas clínicos, presença de doenças físicas, desempenho em testes de memória, atenção e outras funções cognitivas, além da qualidade de vida e do funcionamento social. Ou seja, não se tratava apenas de analisar os sintomas psiquiátricos, mas de olhar para a saúde mental e física de forma mais ampla.
Depois de coletar todos esses dados, os pesquisadores aplicaram modelos estatísticos para comparar homens e mulheres dentro de cada diagnóstico, e também para comparar os diferentes grupos entre si (bipolar, esquizofrenia e pessoas saudáveis). Isso permitiu identificar em que pontos o sexo da pessoa tinha impacto nos sintomas, na cognição e nas comorbidades.

Os achados mostraram que o sexo influencia tanto no início da doença quanto no comportamento relacionado ao uso de substâncias e na presença de doenças físicas. Homens com esquizofrenia tiveram maiores taxas de tabagismo e uso de drogas.
Já no transtorno bipolar, as mulheres apresentaram melhor desempenho em testes de memória verbal e velocidade psicomotora em comparação com os homens. Além disso, tanto homens quanto mulheres com transtornos mentais graves relataram maior frequência de problemas na tireoide em relação às pessoas sem doenças mentais.
Os resultados reforçam que o sexo da pessoa não é um detalhe secundário, mas um fator central na forma como o transtorno bipolar e a esquizofrenia se manifestam. Isso significa que estratégias de tratamento devem levar em conta essas diferenças, seja no cuidado com sintomas, na prevenção do uso de substâncias ou no manejo de doenças físicas associadas.
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Influence of Sex and Diagnosis on Clinical Variables and Neurocognitive Performance in Severe Mental Illness. Results From the PsyCourse Study
Maria Serra-Navarro, Maria Heilbronner, Brisa Solé, Roger Borràs, Anabel Martinez-Arán, Kristina Adorjan, Alba Navarro-Flores, Mojtaba Oraki Kohshour, Daniela Reich-Erkelenz, Eva C. Schulte, Fanny Senner, Ion-George Anghelescu, Volker Arolt, Bernhard T. Baune, Udo Dannlowski, Detlef E. Dietrich, Andreas J. Fallgatter, Christian Figge, Markus Jäger, Georg Juckel, Carsten Konrad, Jens Reimer, Eva Z. Reininghaus, Max Schmauß, Andrea Schmitt, Carsten Spitzer, Jens Wiltfang, Jörg Zimmermann, Sergi Papiol, Urs Heilbronner, Peter Falkai, Thomas G. Schulze, Eduard Vieta, Carla Torrent, Monika Budde, and Silvia Amoretti
Acta Psychiatrica Scandinavica, 03 September 2025
Abstract:
Bipolar disorder (BD) and schizophrenia (SZ) are serious mental illnesses (SMI) with overlapping symptoms but distinct differences in onset and course. Sex differences are an area of growing interest in SMI. This study aims to examine potential interactions between sex and diagnosis across a broad range of variables, to compare males and females within SZ and BD, and to investigate sex-specific group differences. A total of 1516 individuals were included in a cross-sectional study using baseline data from the multicenter PsyCourse Study, including BD (n = 543), SZ (n = 517), and healthy controls (HC) (n = 456). Sociodemographic characteristics, clinical symptoms, psychosocial functioning, quality of life, neurocognitive performance, and somatic comorbidities were assessed. Generalized linear models were used to analyze differences between groups and sexes. False Discovery Rate (FDR) and Bonferroni post hoc comparisons were performed. Significant interactions were identified in age (p = 0.001), age at treatment (p = 0.05), illness duration (p = 0.03), illicit drug use (p = 0.01), and smoking (p = 0.05). Differences in substance use were observed across groups and sexes, with the highest rates found in males with SZ. The BD group showed better functioning and neurocognitive performance compared with the SZ group. Within the BD group, females reported better performance in verbal memory (p = 0.003) and psychomotor speed (p < 0.001) than males. Moreover, both females and males with SMI showed higher rates of thyroid alterations compared with HC (p = 0.01 for females and p = 0.002 for males). Significant sex differences were observed in substance use and somatic comorbidities. Interactions between diagnosis and sex underscore the importance of considering both factors in clinical assessments. These findings highlight the need to tailor sex-specific treatment for each patient. Further research is needed to explore the role of sex hormones and other biological and societal factors in the presentation and course of these disorders.



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