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Descoberta Promissora: Exame de Pele Identifica Doença Rara do Cérebro Com 90% de Precisão

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 6 de mai.
  • 4 min de leitura

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Esse avanço pode revolucionar o diagnóstico da paralisia supranuclear progressiva (PSP), uma doença neurodegenerativa rara e com com evolução sombria. Com uma simples biópsia de pele, os médicos poderão confirmar a doença de maneira menos invasiva e mais rápida, ajudando os pacientes a receberem o tratamento e o acompanhamento adequados mais cedo. Além disso, alta precisão do teste pode melhorar a seleção de participantes para estudos clínicos, o que é fundamental para o desenvolvimento de terapias mais eficazes no futuro.


A paralisia supranuclear progressiva (PSP), ou Síndrome de Steele Richardson Olszewski, é uma doença neurodegenerativa rara que afeta de forma grave a coordenação motora, o equilíbrio e a capacidade de engolir. Ela pertence a um grupo de doenças cerebrais causadas pela morte gradual de células nervosas, e compartilha semelhanças com outras doenças mais conhecidas, como o Parkinson. 


No entanto, a paralisia supranuclear progressiva tem suas próprias características e desafios, especialmente no diagnóstico, que costuma ser difícil e frequentemente confundido com outras condições. Isso se deve, em parte, à falta de testes específicos e acessíveis que consigam identificar a doença de forma precoce e precisa.


Nas doenças neurodegenerativas, como a paralisia supranuclear progressiva, um dos processos-chave é o acúmulo de proteínas mal dobradas dentro das células nervosas.


Essas proteínas, como a tau ou a alfa-sinucleína, perdem sua forma normal e passam a se agrupar de maneira anormal, o que interfere no funcionamento das células e contribui para sua morte. 

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Esse acúmulo prejudica diferentes regiões do cérebro e do sistema nervoso, resultando em sintomas progressivos como rigidez muscular, quedas frequentes e dificuldades de fala e deglutição.


Atualmente, essas proteínas mal dobradas podem ser detectadas no líquido que circula no cérebro e na medula espinhal (líquido cefalorraquidiano), obtido por meio de uma punção lombar. No entanto, esse procedimento é invasivo, nem sempre está disponível e não pode ser realizado em todos os pacientes. 


Como resultado, muitos casos são diagnosticados apenas com base nos sintomas observados pelos médicos, o que pode levar a erros, especialmente em doenças menos comuns como a paralisia supranuclear progressiva. Isso também prejudica a pesquisa, já que pacientes com diagnósticos incorretos podem acabar participando de estudos voltados para outras doenças, como o Parkinson, comprometendo os resultados.

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RMN e DaTscan (teste de imagem nuclear que permite aos médicos ver os níveis de dopamina do cérebro) são característicos na paralisia supranuclear progressiva (PSP). Imagem: “‘Round-the-houses’ sign” por James B. Rowe, University of Cambridge Department of Clinical Neurosciences, Cambridge, Cambridgeshire, UK. Licença: CC BY 4.0


Com isso em mente, pesquisadores desenvolveram um teste inovador baseado em biópsia da pele para detectar diretamente a presença de proteínas tau mal dobradas, específicas da paralisia supranuclear progressiva. 


A ideia surgiu de estudos anteriores em que os cientistas haviam criado um teste para identificar a proteína alfa-sinucleína mal dobrada (característica do Parkinson) na pele. Esse teste já havia  mostrado bons resultados e estava sendo validado para uso em pesquisas e, futuramente, em clínicas.

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Mecanismos de interação neurónio-oligodendrócito potencialmente envolvidos na acumulação de α-syn: captação oligodendroglial de α-syn dos neurónios circundantes e ambiente extracelular, por meio de endocitose e difusão transmembranar passiva. Imagem por Lecturio.


Usando a mesma tecnologia, os pesquisadores adaptaram o teste para reconhecer uma forma específica da proteína tau que se acumula em pessoas com paralisia supranuclear progressiva. Essa técnica, chamada de ensaio de amplificação por semeadura (SAA), age como um tipo de “detector de proteínas defeituosas”: se a proteína mal dobrada estiver presente, o teste consegue amplificá-la e tornar sua presença visível.


O ensaio de amplificação por semeadura (SAA, na sigla em inglês) é uma técnica de laboratório que funciona como um "teste de multiplicação" para detectar pequenas quantidades de proteínas mal dobradas que estão associadas a doenças neurodegenerativas, como Parkinson ou paralisia supranuclear progressiva (PSP). 


Se houver uma pequena "semente" de proteína defeituosa na amostra (como da pele ou do líquido do cérebro), o teste cria um ambiente controlado que permite que essa proteína se multiplique rapidamente, como se fosse fermento fazendo um pão crescer.


Ao final do processo, os cientistas conseguem identificar se essa proteína anormal está presente, mesmo em quantidades muito pequenas, ajudando a diagnosticar a doença com alta precisão. É como aumentar o volume de algo quase inaudível até que fique claro e inconfundível. 

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O ensaio de amplificação por semeadura (SAA). Imagem Lou et al. ACS Chemical Neuroscience Vol 15/Issue 18


Os resultados foram promissores. Em amostras de pele de pacientes com PSP, o teste detectou tau mal dobrada em 90% dos casos. Por outro lado, a proteína quase não foi encontrada em pessoas com outras doenças semelhantes, como Parkinson, atrofia multissistêmica e degeneração corticobasal, e nunca foi detectada em pessoas saudáveis. 


Isso mostra que o teste tem tanto alta sensibilidade (detecta a doença quando ela está presente) quanto alta especificidade (não dá falso positivo em quem não tem a doença).

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Esse avanço pode revolucionar o diagnóstico da PSP. Com uma simples biópsia de pele, os médicos poderão confirmar a doença de maneira menos invasiva e mais rápida, ajudando os pacientes a receberem o tratamento e o acompanhamento adequados mais cedo. 


Além disso, a precisão do teste pode melhorar a seleção de participantes para estudos clínicos, o que é fundamental para o desenvolvimento de terapias mais eficazes no futuro. Pesquisadores agora estão realizando testes multicêntricos, ou seja, em diferentes hospitais e centros de pesquisa, para validar o uso clínico desse novo exame.



LEIA MAIS:


Four-Repeat Tau Seeding in the Skin of Patients With Progressive Supranuclear Palsy

Ivan Martinez-Valbuena, M. Carmela Tartaglia, Susan H. Fox, Anthony E. Lang, Gabor G. Kovacs 

JAMA Neurol. 2024;81(11):1228-1230. 

doi:10.1001/jamaneurol.2024.3162


Abstract:


The emergence of α-synuclein seeding amplification assays (SAA) has provided a new tool to support a clinical diagnosis of Parkinson disease (PD)1 and multiple system atrophy (MSA). This technology enables the detection of aggregated forms of α-synuclein (the neuropathologic hallmark of these diseases) in brain, cerebrospinal fluid, and in peripheral tissues, such as skin.

 
 
 

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