Depressão na Adolescência Pode Ser Detectada no Sangue
- Lidi Garcia
- 27 de mai.
- 4 min de leitura

Cientistas descobriram que adolescentes com depressão têm níveis alterados de pequenas moléculas chamadas microRNAs no sangue, que ajudam a controlar como os genes funcionam. Alguns desses microRNAs estão ligados à gravidade dos sintomas e até a mudanças em áreas do cérebro. Esses achados sugerem que, no futuro, um simples exame de sangue pode ajudar a identificar jovens com maior risco de depressão antes que os sintomas piorem.
A depressão, também chamada de transtorno depressivo maior (TDM), é uma condição muito comum e incapacitante que afeta milhões de pessoas no mundo todo. Ela pode causar uma grande queda na qualidade de vida, prejudicar o trabalho, os relacionamentos e a saúde geral.
Um dado importante é que, ao longo da vida, a adolescência é o período em que a depressão mais frequentemente aparece pela primeira vez. Isso é preocupante porque quando a depressão começa ainda na juventude, ela costuma ser mais grave, durar mais tempo, responder menos ao tratamento e deixar efeitos duradouros na vida da pessoa.
Apesar da importância disso, ainda sabemos pouco sobre as causas genéticas e biológicas da depressão que se inicia na adolescência. Os cientistas acreditam que ela pode ser diferente da depressão que começa na fase adulta, porque o cérebro de adolescentes ainda está passando por mudanças importantes de desenvolvimento.

Isso pode fazer com que os sistemas envolvidos no controle das emoções e do comportamento funcionem de forma diferente nessa fase da vida. Por isso, os pesquisadores estão buscando formas de estudar a depressão considerando essas diferenças de idade. Um dos caminhos mais promissores é focar em marcadores biológicos específicos para adolescentes.
Hoje, os cientistas estão muito interessados em uma parte do nosso DNA chamada de regiões "não codificantes". Ao contrário dos genes que produzem proteínas, essas regiões não produzem proteínas diretamente, mas ainda assim controlam o funcionamento dos genes.
Um exemplo são os microRNAs (ou miRNAs), pequenas moléculas que ajudam a regular quais genes são ativados ou desativados. O interessante é que os miRNAs podem ser detectados no sangue e são estáveis, o que significa que podem ser bons indicadores do que está acontecendo no cérebro sem precisar fazer exames invasivos.

Em estudos anteriores com roedores, os cientistas viram que, ao mudar os níveis de certos miRNAs no cérebro dos animais, também havia mudanças nos mesmos miRNAs no sangue. Além disso, os níveis desses miRNAs no sangue durante a adolescência foram capazes de prever o quanto esses animais desenvolveriam comportamentos semelhantes à depressão quando adultos, principalmente após passarem por estresse.
Isso levantou a hipótese de que os miRNAs no sangue de adolescentes humanos poderiam ajudar a identificar quem tem maior risco de desenvolver depressão.
Para testar essa ideia, os pesquisadores da McGill University, Canada, analisaram o sangue de adolescentes com e sem depressão. Em vez de usar amostras líquidas, eles adotaram uma técnica que coleta apenas pequenas gotas de sangue seco (como aquelas usadas em testes de recém-nascidos), o que torna o procedimento menos invasivo.

Com essas amostras, eles usaram uma técnica moderna chamada sequenciamento de RNA de pequeno porte, que permite identificar todos os tipos de miRNAs presentes, sem direcionar a busca para apenas alguns.
Os resultados mostraram que nove miRNAs estavam significativamente mais altos nos adolescentes com depressão. Três deles, chamados miR-3613-5p, miR-30c-2 e miR-942-5p, se mostraram fortemente relacionados com a gravidade dos sintomas de depressão, mas não com sintomas de ansiedade.
Isso sugere que eles podem ser marcadores mais específicos da depressão, e não de problemas emocionais em geral. Outro miRNA, o miR-32-5p, estava ligado ao volume do hipocampo, uma parte do cérebro importante para a memória e o controle do estresse, o que indica que esses marcadores também podem estar associados a mudanças físicas no cérebro.

Por fim, os cientistas identificaram que os genes afetados por esses miRNAs estão envolvidos em processos como o desenvolvimento do cérebro, a forma como pensamos e aprendemos, e também com transtornos depressivos. Isso reforça a ideia de que esses miRNAs não só refletem a presença da depressão, mas podem também estar ligados às causas biológicas da doença.
Essas descobertas são importantes porque abrem caminho para, no futuro, desenvolver exames de sangue capazes de identificar adolescentes com risco aumentado de depressão. Isso pode permitir intervenções mais precoces, mais eficazes e personalizadas, antes que os sintomas se agravem.
LEIA MAIS:
Peripheral microRNA signatures in adolescent depression
Alice Morgunova, Nicholas O’Toole, Fatme Abboud, Saché Coury, Gary Gang Chen, Maxime Teixeira, Eamon Fitzgerald, Gustavo Turecki, Anthony J. Gifuni, Ian H. Gotlib, Corina Nagy, Michael J. Meaney, Tiffany C. Ho, and Cecilia Flores
Biological Psychiatry Global Open Science. 14 April 2025, 100505
Abstract:
Adolescent depression is linked to enduring maladaptive outcomes, chronic severity of symptoms, and poor treatment response. Identifying epigenetic signatures of adolescent depression is urgently needed to improve early prevention and intervention strategies. MicroRNAs are epigenetic regulators of adolescent neurodevelopmental processes, but their role as markers and mediators of adolescent depression is unknown. Here we examined microRNA profiles from dried blood spot samples of clinically depressed and psychiatrically healthy male and female adolescents. We processed and sequenced these samples using a small RNA protocol tailored for microRNA identification. We identified nine differentially expressed (DE) microRNAs (adjusted p-value < 0.05), all of which upregulated in adolescents with depression. At future follow-ups post blood collection, expression of miR-3613-5p, mir-30c-2 and miR-942-5p positively associated with depression severity but not anxiety, suggesting a stronger link to persistent depression symptoms. Expression of miR-32-5p correlated inversely with hippocampal volume, highlighting a potential neurobiological basis. Common predicted gene targets of the DE microRNAs are involved in neurodevelopment, cognitive processing, and depressive disorders. These findings lay the groundwork for identifying adolescent peripheral microRNA markers that reflect neurodevelopmental pathways shaping lifelong psychopathology risk.
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