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Crescendo No Caos: 1 em Cada 4 Crianças Vive Com Pais Dependentes de Álcool ou Drogas

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 29 de mai.
  • 4 min de leitura

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O estudo destaca uma realidade preocupante: milhões de crianças vivem em ambientes inseguros e emocionalmente instáveis devido aos problemas de saúde mental e dependência química dos pais. Para romper esse ciclo, é essencial ampliar o acesso a cuidados, apoiar os pais em tratamento e proteger as crianças com políticas públicas centradas em bem-estar, prevenção e educação.


Muitas crianças crescem em ambientes que moldam profundamente seu desenvolvimento físico, emocional e social. Quando esses lares são marcados por problemas com álcool, drogas e doenças mentais, os riscos para essas crianças aumentam significativamente. 


Um estudo recente, publicado na revista JAMA Pediatrics, revelou dados preocupantes sobre a realidade de milhões de crianças americanas que vivem em lares onde ao menos um dos pais sofre com transtornos por uso de substâncias.


Os pesquisadores destacam como essa situação exige respostas urgentes em saúde pública e intervenções voltadas à prevenção de novos ciclos de dependência e sofrimento psicológico.

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Utilizando dados de 2023 da Pesquisa Nacional sobre Uso de Drogas e Saúde, o estudo estimou que cerca de 19 milhões de crianças nos Estados Unidos, aproximadamente uma em cada quatro menores de 18 anos, convivem com um pai ou cuidador que enfrenta um transtorno relacionado ao uso de substâncias. 


Isso representa um aumento em relação aos 17 milhões estimados com base em dados de 2020. Esse crescimento acende um alerta sobre a urgência de políticas mais eficazes de apoio às famílias, prevenção e acesso ao tratamento para os responsáveis.


Mais alarmante ainda é o fato de que aproximadamente 6 milhões dessas crianças vivem em casas onde, além da dependência química, o adulto também possui um diagnóstico de doença mental, como depressão ou ansiedade severa. Essa combinação de fatores agrava o ambiente familiar e eleva o risco de que essas crianças desenvolvam, no futuro, seus próprios problemas com o uso de substâncias ou com a saúde mental.


Entre as substâncias mais frequentemente envolvidas nesses casos está o álcool, sendo responsável por cerca de 12 milhões dos casos de transtornos em pais. Em seguida, aparece a cannabis, associada a mais de 6 milhões de casos. Há ainda aproximadamente 3,4 milhões de pais que apresentam dependência de múltiplas drogas simultaneamente, o que complica ainda mais o cenário de convivência familiar.


Os pesquisadores também analisaram outras drogas e seus impactos: cerca de 2 milhões de crianças vivem com pais que abusam de medicamentos prescritos, enquanto meio milhão crescem em lares onde os pais usam substâncias ilícitas como cocaína, heroína ou metanfetamina.

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Crescer em um ambiente familiar marcado por transtornos de uso de substâncias e doenças mentais pode afetar profundamente o neurodesenvolvimento da criança, provocando alterações estruturais e funcionais no cérebro. 


A exposição crônica ao estresse tóxico, comum em lares instáveis, com negligência, violência ou imprevisibilidade, ativa de forma prolongada o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), elevando níveis do hormonio do estresse cortisol, o que prejudica áreas críticas como o hipocampo, responsavel pela memória e o aprendizado, o córtex pré-frontal responsavel por funções executivas e controle emocional, e a amígdala que regula o medo e a resposta ao estresse.

 

Essas alterações podem resultar em déficits cognitivos, dificuldades de aprendizado, problemas de regulação emocional e aumento do risco de desenvolver transtornos psiquiátricos na adolescência e vida adulta, como depressão, ansiedade e dependência química, perpetuando, assim, um ciclo vicioso de vulnerabilidade.

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O estudo foi conduzido por cientistas da Universidade de Michigan, incluindo especialistas em dependência química e saúde mental, como Sean Esteban McCabe e Vita McCabe.


Além de mapear a situação, os autores destacam a importância do acesso a tratamentos eficazes. Hoje, existem opções comprovadas para diferentes tipos de dependência, como medicamentos (naltrexona, acamprosato, buprenorfina, metadona) e abordagens terapêuticas (como a terapia cognitivo-comportamental).


Entretanto, esses tratamentos ainda são subutilizados, especialmente entre pais que muitas vezes não recebem diagnóstico formal ou não conseguem acesso adequado aos serviços de saúde.

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Um dos fatores que torna essas novas estimativas mais impactantes é a mudança nos critérios diagnósticos adotados. O estudo utilizou o DSM-5, a versão mais atual do manual que orienta os diagnósticos psiquiátricos. 


Essa versão ampliou o reconhecimento de sintomas e padrões de uso de substâncias, o que contribuiu para a identificação de um número maior de casos, especialmente os que antes eram subestimados sob os critérios mais antigos do DSM-IV.


A crise do uso de substâncias nos Estados Unidos é profunda e multifacetada. Desde 2020, o país registra mais de 100 mil mortes por overdose por ano, enquanto mais de 46 milhões de adultos vivem com algum transtorno relacionado ao uso de drogas.

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Esse cenário exige não apenas respostas clínicas, mas também sociais e políticas. A interrupção no financiamento e na equipe da SAMHSA, agência federal responsável por monitorar esses dados, compromete a continuidade de pesquisas vitais como essa.


Em resumo, o estudo destaca uma realidade preocupante: milhões de crianças vivem em ambientes inseguros e emocionalmente instáveis devido aos problemas de saúde mental e dependência química dos pais. Para romper esse ciclo, é essencial ampliar o acesso a cuidados, apoiar os pais em tratamento e proteger as crianças com políticas públicas centradas em bem-estar, prevenção e educação.



LEIA MAIS:


US Children Living With a Parent With Substance Use Disorder” by Sean Esteban McCabe, Vita V. McCabe, and Ty S. Schepis

JAMA Pediatrics. 12 May 2025

DOI: 10.1001/jamapediatrics.2025.0828


Abstract:


The US substance use landscape consists of over 100 000 overdose deaths annually since 20201 and, in 2023 alone, over 46 million adults with a past-year Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (Fifth Edition; DSM-5)–defined substance use disorder (SUD).2 Despite attempts to estimate the number of children exposed to parental substance use and DSM-IV-defined SUD,3,4 recent research indicates that past-year prevalence estimates of SUD using DSM-IV criteria are substantially higher when using DSM-5 criteria,5 resulting in a key knowledge gap. Children exposed to parental SUD are more likely to develop adverse health outcomes than their peers without parental SUD exposure, including early substance use initiation, substance-related problems, and mental health disorder.6 We aimed to estimate the number of US children living in the same household as at least 1 parent or primary caregiver with a DSM-5-defined SUD.

 
 
 

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