Conectados e Vulneráveis: Estudo Revela Que Uso Excessivo De Redes Pode Causar Depressão Em Jovens
- Lidi Garcia
- 26 de jun.
- 5 min de leitura

O uso de mídias sociais entre adolescentes tem aumentado e está ligado a sintomas de depressão. Um grande estudo com quase 12 mil crianças mostrou que, quando um jovem passa mais tempo do que o normal nas redes sociais, isso pode levar a mais sentimentos de tristeza no ano seguinte. Porém, estar triste não leva necessariamente a usar mais redes sociais. Isso sugere que o uso excessivo pode piorar a saúde mental, e é importante que pais e educadores orientem os adolescentes desde cedo.
Nos últimos anos, o uso das mídias sociais entre adolescentes aumentou drasticamente. Plataformas como Instagram, TikTok e Snapchat passaram a fazer parte da vida cotidiana dos jovens, levantando sérias preocupações sobre como isso pode afetar sua saúde mental.
Muitos pais, educadores e profissionais de saúde mental têm se perguntado se o uso excessivo dessas plataformas está causando problemas emocionais, como depressão, ou se, na verdade, adolescentes que já estão deprimidos tendem a usar mais as mídias sociais. Entender essa relação é essencial para ajudar famílias e criar políticas públicas eficazes.
Em 2021, quase metade dos adolescentes nos Estados Unidos relatou sentir tristeza ou desesperança com frequência, um aumento de 50% em apenas dez anos. Pesquisas anteriores mostraram que há uma ligação entre o uso das mídias sociais e sintomas depressivos, mas não ficou claro se uma coisa causa a outra ou se elas apenas ocorrem ao mesmo tempo.

Para esclarecer isso, é necessário acompanhar os jovens ao longo do tempo e analisar como essas mudanças se desenvolvem dentro de cada pessoa, algo que a maioria dos estudos ainda não fez. Por isso, o Cirurgião-Geral dos EUA, em 2023, pediu que fossem feitas mais pesquisas longitudinais, ou seja, que observam os mesmos indivíduos por vários anos para entender melhor essa relação.
Um modelo chamado “Modelo de Suscetibilidade Diferencial aos Efeitos da Mídia” (DSMM) ajuda a entender por que as mídias sociais podem afetar adolescentes de formas diferentes. Esse modelo sugere que os efeitos da mídia não são iguais para todos e dependem de fatores pessoais, como a sensibilidade emocional, a fase de desenvolvimento e o ambiente social.
Na adolescência, os jovens passam por muitas mudanças emocionais e cognitivas, o que os torna mais vulneráveis. Isso significa que o mesmo conteúdo pode afetar de forma diferente dois adolescentes distintos. Além disso, o uso de mídias sociais pode ser um ciclo: ele pode tanto piorar o humor quanto ser consequência de um estado depressivo, criando um padrão que se reforça.
Para investigar isso, os pesquisadores usaram dados de um grande estudo nacional chamado ABCD (Estudo de Desenvolvimento Cognitivo do Cérebro Adolescente). Esse estudo acompanha milhares de crianças nos Estados Unidos desde os 9 ou 10 anos de idade por vários anos, medindo tanto o tempo que elas passam nas mídias sociais quanto seus níveis de sintomas depressivos.

O objetivo era descobrir se havia uma relação bidirecional, ou seja, se o uso de mídias sociais levava à depressão e se a depressão também levava a mais uso de mídias sociais.
Os dados foram coletados entre 2016 e 2022 em quatro momentos diferentes: no início do estudo e depois anualmente por três anos. A amostra foi grande, com quase 12 mil crianças no início, e os pesquisadores usaram métodos estatísticos avançados para analisar as mudanças dentro de cada pessoa ao longo do tempo.
Eles também consideraram fatores como gênero, raça, renda familiar e escolaridade dos pais, para garantir que esses elementos não distorcessem os resultados.

Os resultados mostraram que, quando um adolescente aumentava o tempo de uso de mídias sociais em um determinado ano, acima do que era comum para ele mesmo, havia um aumento nos sintomas depressivos no ano seguinte. Isso foi observado entre o primeiro e o segundo ano, e entre o segundo e o terceiro ano do estudo.
No entanto, o contrário não foi observado: adolescentes que estavam mais deprimidos em um determinado ano não aumentaram necessariamente o uso de mídias sociais no ano seguinte. Ou seja, o uso de mídias sociais parece influenciar a saúde mental mais do que o contrário.

Outra descoberta importante foi que as diferenças entre adolescentes (por exemplo, quem usa mais ou menos redes sociais no geral) não explicavam os níveis de depressão.
O que realmente importava era a mudança no comportamento de cada indivíduo ao longo do tempo. Isso reforça a ideia de que o problema está em aumentar o tempo de uso, mais do que o quanto a pessoa usa em média.
Com base nesses achados, os pesquisadores recomendam que médicos, pais e educadores estejam atentos ao uso das mídias sociais por jovens, especialmente na transição da infância para a adolescência. Dar orientações claras sobre o uso saudável dessas plataformas pode ajudar a prevenir o desenvolvimento de problemas emocionais.
Este estudo contribui significativamente para a compreensão dessa relação complexa e destaca a importância de intervenções precoces e baseadas em evidências.
LEIA MAIS:
Social Media Use and Depressive Symptoms During Early Adolescence
Jason M. Nagata, Christopher D. Otmar, Joan Shim,
Priyadharshini Balasubramanian, Chloe M. Cheng, Elizabeth J. Li, Abubakr A. A. Al-Shoaibi, Iris Y. Shao, Kyle T. Ganson, Alexander Testa, Orsolya Kiss,
Jinbo He, and Fiona C. Baker
JAMA Netw Open. 2025; 8(5) : e2511704.
doi:10.1001/jamanetworkopen.2025.11704
Abstract:
In 2023, the US Surgeon General issued the Advisory on Social Media and Youth Mental Health, identifying critical research gaps that preclude evidence-based guidance given that most studies of social media and mental health have been cross-sectional rather than longitudinal and have focused on young adults or older adolescents rather than on younger adolescents. To evaluate longitudinal associations between social media use (time spent on social media) and depressive symptoms across 4 annual waves spanning a 3-year follow-up period from late childhood to early adolescence. In this prospective cohort study using data from the Adolescent Brain Cognitive Development Study across 21 study sites from October 2016 to October 2018, children aged 9 to 10 years at baseline were assessed across 4 waves (baseline, year 1, year 2, and year 3), with year-3 follow-up through 2022. Sample sizes varied across waves and measures due to attrition and missing data. Analyses retained all available data at each wave. Data were analyzed from January 2024 to March 2025. Self-reported time spent on social media at baseline to 3-year follow-up. Reciprocal associations between social media use and depressive symptoms (Child Behavior Checklist) at baseline and at 1, 2, and 3 years of follow-up were assessed using longitudinal, cross-lagged structural equation panel models. Covariates included sex, race and ethnicity, household income, and parental educational level. At baseline, the sample included 11 876 participants (mean [SD] age, 9.9 [0.6] years), of whom 6196 (52.2%) were male. After adjusting for stable between-person differences and covariates, within-person increases in social media use above the person-level mean were associated with elevated depressive symptoms from year 1 to year 2 (β, 0.07; 95% CI, 0.01-0.12; P = .01) and from year 2 to year 3 (β, 0.09; 95% CI, 0.04-0.14; P < .001), whereas depressive symptoms were not associated with subsequent social media use at any interval. The final random-intercept cross-lagged panel model demonstrated a good fit (comparative fit index, 0.977; Tucker-Lewis index, 0.968; root mean square error of approximation, 0.031 [90% CI, 0.029-0.033]). Between-person differences in social media use were not associated with depressive symptoms (β, −0.01; 95% CI, −0.04 to 0.02; P = .46) after accounting for demographic and family-level factors. In this cohort study of 11 876 children and adolescents, reporting higher than person-level mean social media use in years 1 and 2 after baseline was associated with greater depressive symptoms in the subsequent year. The findings suggest that clinicians should provide anticipatory guidance regarding social media use for young adolescents and their parents.



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