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Como o Seu Lugar Na Hierarquia Social Pode Proteger (ou Sabotar) Seu Cérebro Contra Vícios

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 22 de mai.
  • 4 min de leitura

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Pessoas em posições sociais mais baixas têm maior risco de desenvolver vício em drogas, e isso pode estar ligado ao funcionamento do cérebro. Em ratos, os dominantes eram mais resistentes à metanfetamina por terem uma área do cérebro mais ativa que ajuda no controle e tomada de decisões. Já os subordinados tinham maior atividade na região ligada à recompensa, o que os tornava mais vulneráveis. Elevar o status social mudou o cérebro dos subordinados e reduziu a busca pela droga. Em fêmeas, a posição social não teve o mesmo efeito protetor.


O status social, ou seja, a posição que um indivíduo ocupa em um grupo social, pode influenciar a saúde mental e a tendência ao vício em drogas. Estudos já mostraram que pessoas em situações de menor status social enfrentam mais estresse e têm maior risco de desenvolver transtornos mentais ou de se envolver com o uso abusivo de substâncias. 


No entanto, os mecanismos biológicos que explicam essa relação ainda são pouco compreendidos. Esse estudo investigou exatamente isso, usando um modelo com ratos para entender como a posição social afeta o funcionamento do cérebro e o comportamento ligado ao vício.

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Os pesquisadores da Chinese Academy of Sciences, China, observaram ratos machos e usaram um teste simples, chamado “teste do tubo”, para determinar qual rato era dominante (ou seja, aquele que geralmente “vence” e tem mais controle) e qual era subordinado (o que tende a “perder” e ocupar uma posição inferior no grupo).  


Este estudo investigou como o status social afeta o risco de vício em metanfetamina (METH), uma droga altamente viciante. Em sociedades, tanto humanas quanto de animais como os ratos, há relações de dominância e submissão, ou seja, alguns indivíduos se tornam "líderes" e outros ficam em posições "subordinadas". Os cientistas queriam entender como essas diferenças sociais influenciam o comportamento relacionado ao uso de drogas.

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Teste do tubo para dominancia


Para isso, eles usaram o teste comportamental em ratos machos para determinar quais eram os dominantes e quais eram os subordinados. Depois disso, introduziram a metanfetamina como parte do experimento, observando quais ratos buscavam mais a droga em um ambiente de laboratório controlado.


O que descobriram foi impressionante. Os ratos dominantes tinham mais atividade em uma área do cérebro chamada via dopaminérgica mesocortical, que está ligada ao controle, julgamento e tomada de decisão. Esses ratos demonstraram menor interesse em buscar a droga.


Ratos subordinados, por outro lado, apresentaram maior atividade na via dopaminérgica mesolímbica, associada à recompensa e prazer imediato. Eles buscaram mais a metanfetamina, indicando maior vulnerabilidade ao vício.

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Para entender melhor essas diferenças, os cientistas usaram uma técnica chamada optogenética, que permite controlar com luz a atividade de circuitos específicos do cérebro. Quando eles ativaram  artificialmente a via mesocortical nos ratos subordinados, esses animais passaram a se comportar de forma mais dominante e, ao mesmo tempo, diminuíram seu interesse pela droga. 


Por outro lado, quando essa via foi “desligada” nos ratos dominantes, eles passaram a buscar mais a metanfetamina. Isso sugere que essa parte do cérebro tem um papel direto tanto no status social quanto na resistência ao vício.


Além disso, os pesquisadores testaram se era possível mudar o status social dos ratos subordinados. Para isso, colocaram esses animais em situações em que eles “venciam” repetidamente, o que elevou sua posição social. 


Com o tempo, o cérebro deles se adaptou, reforçando a via mesocortical e reduzindo o comportamento de busca por drogas. Isso mostra que o status social não é apenas uma questão externa, mas pode realmente remodelar o funcionamento do cérebro e influenciar o comportamento de forma profunda. 

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Por fim, o estudo também examinou o comportamento das fêmeas. Diferente dos machos, as fêmeas mostraram-se igualmente vulneráveis à metanfetamina, independentemente da posição social.


O padrão de atividade nas vias cerebrais delas era mais parecido com o dos machos subordinados, o que sugere que os mecanismos de proteção ligados ao status podem funcionar de maneira diferente entre os sexos.


Em resumo, esse estudo ajuda a entender como o status social influencia diretamente o cérebro e o risco de desenvolver vício em drogas. Ele mostra que indivíduos com posição mais elevada têm um “escudo” cerebral contra o vício, enquanto aqueles em posições mais baixas são mais vulneráveis, e que isso pode, até certo ponto, ser revertido.


Esses achados têm implicações importantes para políticas públicas, prevenção ao uso de drogas e tratamentos, considerando fatores sociais e biológicos juntos.



LEIA MAIS:


Social rank modulates methamphetamine-seeking in dominant and subordinate male rodents via distinct dopaminergic pathways

Xiaofei Deng, Wei Xu, Yutong Liu, Haiyang Jing, Jiafeng Zhong, Kaige Sun, Ruiyi Zhou, Liang Xu, Xiaocong Wu, Baofang Zhang, Wanqi Chen, Shaolei Jiang, Gaowei Chen, and Yingjie Zhu 

Nature Neuroscience (2025)


Abstract:


Social status has a profound impact on mental health and propensity towards drug addiction. However, the neural mechanisms underlying the effects of social rank on drug-seeking behavior remain unclear. Here we found that dominant male rodents (based on the tube test) had denser mesocortical dopaminergic projections and were more resistant to methamphetamine (METH)-seeking, whereas subordinates had heightened dopaminergic function in the mesolimbic pathway and were more vulnerable to METH seeking. Optogenetic activation of the mesocortical dopaminergic pathway promoted winning and suppressed METH seeking in subordinates, whereas lesions of the mesocortical pathway increased METH seeking in dominants. Elevation of social rank with forced win training in subordinates led to remodeling of the dopaminergic system and prevented METH-seeking behavior. In females, however, both ranks were susceptible to METH seeking, with mesocorticolimbic pathways comparable to those in subordinate males. These results provide a framework for understanding the neural basis of the impact of social status on drug-seeking.

 
 
 

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