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Bebês Com DNA De Três Pessoas: O Fim Das Doenças Mitocondriais?

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 13 de ago.
  • 4 min de leitura
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Uma nova tecnica, chamada transferência pronuclear, tem sido considerada um avanço na reprodução assistida e usada para prevenir a transmissão de doenças mitocondriais hereditárias de mãe para filho. A técnica envolve transferir o DNA nuclear dos pais para um óvulo doado com mitocôndrias saudáveis, resultando em bebês com DNA de três pessoas. No Reino Unido, já nasceram oito crianças saudáveis com esse método, todas sem sinais da doença, oferecendo esperança para famílias afetadas e mostrando que é possível reduzir significativamente o risco dessas condições graves.


Doenças mitocondriais são condições genéticas graves que afetam a produção de energia nas células. As mitocôndrias são pequenas estruturas dentro das células responsáveis por gerar a energia que o corpo precisa para funcionar.


Quando há mutações no DNA mitocondrial, que é herdado exclusivamente da mãe, podem surgir problemas que afetam órgãos e tecidos com grande demanda energética, como o coração, músculos e cérebro. Essas doenças não têm cura e, em casos graves, podem ser fatais ainda na infância. Estima-se que uma em cada 5.000 crianças nasça com mutações desse tipo.

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Para reduzir o risco de transmitir essas mutações aos filhos, cientistas desenvolveram uma técnica inovadora chamada transferência pronuclear.


Ela é realizada depois que o óvulo é fertilizado e funciona assim: primeiro, retira-se o núcleo do óvulo fertilizado da mãe, que contém quase toda a informação genética responsável pelas características da criança, como cor dos olhos e altura, e esse núcleo é inserido em um óvulo fertilizado de uma doadora saudável, que teve o seu próprio núcleo removido, mas mantém mitocôndrias sem mutações.


Assim, o bebê herda o DNA nuclear dos pais biológicos e o DNA mitocondrial da doadora, prevenindo a transmissão da doença. 

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Essa abordagem faz parte de um programa integrado que também inclui o teste genético pré-implantacional. Esse teste analisa embriões antes da gravidez para identificar se carregam mutações mitocondriais e selecionar apenas os que têm menor risco. 


Em geral, mulheres com mutações presentes em todas as cópias do DNA mitocondrial, ou em níveis muito altos, recebem a transferência pronuclear. Já aquelas com níveis menores podem optar pelo teste pré-implantacional.


Os resultados têm sido promissores. No Reino Unido, oito bebês nasceram saudáveis utilizando a transferência pronuclear, fruto de pesquisa realizada pela Universidade de Newcastle e pelo NHS (Serviço Nacional de Saúde). 

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Eles estão se desenvolvendo normalmente, sem sinais de doenças mitocondriais, e apresentam níveis da mutação muito baixos ou indetectáveis no sangue e na urina. Todos nasceram com peso adequado e dentro do prazo esperado, sendo acompanhados de perto até pelo menos os cinco anos de idade para monitorar qualquer possível efeito a longo prazo.


As taxas de sucesso do programa mostram que a transferência pronuclear resultou em oito nascidos vivos e uma gestação em andamento, enquanto o teste genético pré-implantacional resultou em 18 nascimentos. 


Nos casos de transferência pronuclear, a redução da mutação no DNA mitocondrial chegou a 95–100% em alguns bebês, garantindo que os níveis ficassem muito abaixo do limiar para causar sintomas. Pequenos problemas de saúde apareceram em três crianças, mas todos foram tratados com sucesso e não têm relação direta com a técnica.

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Legalizada no Reino Unido em 2015, essa forma de fertilização in vitro é rigidamente regulada e só está disponível para mulheres com alto risco de transmitir doenças mitocondriais graves. A conquista representa não apenas um avanço científico, mas também uma nova esperança para famílias que antes não tinham alternativas para quebrar o ciclo dessas doenças hereditárias.


Como relatou uma das mães: "Depois de anos de incerteza, este tratamento nos deu esperança, e depois nos deu nosso bebê saudável. A ciência nos deu uma chance."



LEIA MAIS:


Mitochondrial Donation and Preimplantation Genetic Testing for mtDNA Disease

Louise A. Hyslop, Emma L. Blakely, Magomet Aushev, Jordan Marley, Yuko Takeda, Angela Pyle, Eilis Moody, Catherine Feeney, Jan Dutton, Carol Shaw, Sarah J. Smith, Kate Craig, Charlotte L. Alston, Lisa Lister, Karina Endacott, Samantha Byerley, Helen McDermott, Kathryn Wilson, Lynne Botham, Beth Matthew, Nilendran Prathalingam, Matthew Prior, Alison Murdoch, Douglass M. Turnbull, Gavin Hudson, Meenakshi Choudhary, Robert W. Taylor, Rekha N. Pillai, Jane A. Stewart, Robert McFarland, and Mary Herbert

New England Journal of Medicine. 2025; 393 : 438-449. VOL. 393 NO. 5

DOI: 10.1056/NEJMoa2415539


Abstract: 

 

Children born to women who carry pathogenic variants in mitochondrial DNA (mtDNA) are at risk for a range of clinical syndromes collectively known as mtDNA disease. Mitochondrial donation by pronuclear transfer involves transplantation of nuclear genome from a fertilized egg from the affected woman to an enucleated fertilized egg donated by an unaffected woman. Thus, pronuclear transfer offers affected women the potential to have a genetically related child with a reduced risk of mtDNA disease. We offered mitochondrial donation (by pronuclear transfer) or preimplantation genetic testing (PGT) to a series of women with pathogenic mtDNA variants who sought to reduce the transmission of these variants to their children. Patients with heteroplasmy (variants present in a proportion of copies of mtDNA) were offered PGT, and patients with homoplasmy (variants present in all copies of mtDNA) or elevated heteroplasmy were offered pronuclear transfer. Clinical pregnancies were confirmed in 8 of 22 patients (36%) and 16 of 39 patients (41%) who underwent an intracytoplasmic sperm injection procedure for pronuclear transfer or for PGT, respectively. Pronuclear transfer resulted in 8 live births and 1 ongoing pregnancy. PGT resulted in 18 live births. Heteroplasmy levels in the blood of the 8 infants whose mothers underwent pronuclear transfer ranged from undetectable to 16%. Levels of the maternal pathogenic mtDNA variant were 95 to 100% lower in 6 newborns and 77 to 88% lower in 2 newborns than in the corresponding enucleated zygotes. Heteroplasmy levels were known for 10 of the 18 infants whose mothers underwent PGT and ranged from undetectable to 7%. We found that mitochondrial donation through pronuclear transfer was compatible with human embryo viability. An integrated program involving pronuclear transfer and PGT was effective in reducing the transmission of homoplasmic and heteroplasmic pathogenic mtDNA variants. (Funded by NHS England and others.)

 
 
 

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