Açúcar Não Vicia: Nova Pesquisa Muda O Que Achávamos Sobre Doces
- Lidi Garcia
- 11 de ago.
- 5 min de leitura

Um estudo de seis meses com 180 adultos mostrou que consumir mais ou menos alimentos doces não altera a preferência por sabores doces, nem afeta o apetite, o peso ou marcadores de saúde. Isso desafia a ideia de que reduzir o consumo de doces diminui o desejo por açúcar. As recomendações alimentares devem focar em estratégias mais eficazes, como reduzir porções e escolher alimentos menos calóricos, em vez de simplesmente evitar o sabor doce.
Por muito tempo, acreditou-se que quanto mais alimentos doces comemos, maior será nossa vontade de continuar comendo doces, e que, ao contrário, evitar doces ajudaria a diminuir esse desejo. Essa ideia está por trás de muitas recomendações de saúde pública que incentivam a redução do consumo de alimentos doces, com o objetivo de ajudar no controle de peso e prevenção de doenças como diabetes.
Mas um estudo recente, conduzido por pesquisadores da Universidade de Wageningen, na Holanda, desafia essa suposição de forma surpreendente.
O estudo acompanhou 180 adultos saudáveis ao longo de seis meses.
Os participantes foram divididos aleatoriamente em três grupos: um com dieta rica em alimentos doces, outro com quantidade moderada (dieta considerada média), e um terceiro com baixa exposição à doçura, todos recebendo metade de seus alimentos diários por meio de pacotes entregues a cada duas semanas.

Esses alimentos incluíam tanto produtos adoçados com açúcar quanto com adoçantes artificiais e alimentos sem sabor doce. Durante o estudo, os participantes tinham liberdade para comer quanto quisessem dos alimentos fornecidos, e também receberam orientações alimentares diárias.
Os pesquisadores classificaram os alimentos utilizados no estudo com base no nível de doçura, a partir de dados de uma pesquisa anterior que avaliou a intensidade do sabor em cerca de 500 alimentos comuns na dieta holandesa.
Os alimentos considerados doces incluíam produtos como geleias, chocolate ao leite, laticínios adoçados e bebidas com açúcar. Já os alimentos sem sabor doce eram itens como presunto, queijo, manteiga de amendoim, homus, pipoca salgada e água com gás. A ideia era oferecer uma variedade de alimentos que representassem diferentes níveis de doçura, garantindo que os participantes consumissem uma dieta realista, mas controlada.

Para avaliar o impacto dessas dietas, os pesquisadores testaram a preferência individual por sabores doces antes da intervenção, durante (em dois momentos), logo após o fim da dieta e também um e quatro meses depois, quando os participantes já haviam voltado a comer livremente.
Além das preferências gustativas, foram coletados dados detalhados sobre a ingestão energética, o consumo de macronutrientes, além de medidas de saúde como peso corporal, composição corporal e exames de sangue relacionados ao risco de diabetes e doenças cardiovasculares, como glicose, insulina e colesterol.
Para garantir que as comparações fossem justas, todos os grupos receberam alimentos com composições semelhantes de carboidratos, gorduras e proteínas, e os participantes foram distribuídos de forma equilibrada quanto ao sexo, idade e peso corporal.
A grande diferença desse estudo em relação a outros é que ele durou seis meses e analisou uma variedade de fatores: a preferência por sabores doces, a percepção do sabor doce, o peso corporal, a ingestão de energia e marcadores de saúde, como níveis de glicose, insulina e colesterol.
Além disso, para medir com precisão o gosto por doces, os cientistas usaram alimentos criados especialmente para os testes sensoriais, separados dos que foram consumidos durante a dieta.

O resultado? Após seis meses, não houve mudança significativa na preferência por sabores doces, nem nas escolhas alimentares, nem no quanto os participantes comiam, independentemente da quantidade de doces em sua dieta.
Mesmo o grupo que consumiu alimentos mais doces não demonstrou aumento no desejo por açúcar. E, de forma igualmente importante, nenhuma alteração relevante foi encontrada no peso dos participantes ou em seus exames relacionados a diabetes e doenças cardiovasculares.
Outro ponto interessante: um mês e quatro meses após o fim do estudo, quando os participantes voltaram à sua alimentação habitual, todos retomaram de forma natural os mesmos níveis de consumo de alimentos doces que tinham antes da intervenção.
Isso sugere que, pelo menos em adultos, o gosto por doces é algo relativamente estável e pouco influenciado pela quantidade de doces consumidos no dia a dia, ao contrário do que se acreditava.

Os pesquisadores destacam que as diretrizes de alimentação saudável deveriam, portanto, ser baseadas em estratégias com eficácia comprovada, como reduzir o tamanho das porções, escolher alimentos com menos calorias por grama (menor densidade energética) e evitar bebidas açucaradas, em vez de simplesmente evitar alimentos com sabor doce.
Também foi ressaltado que os próximos passos da pesquisa podem envolver crianças, que ainda estão formando suas preferências alimentares e podem reagir de maneira diferente à exposição prolongada ao sabor doce.
Em resumo, o estudo mostra que não é o sabor doce em si que leva ao excesso de consumo de calorias. Comer alimentos doces não aumenta automaticamente o desejo por mais açúcar, e evitá-los não reduz esse desejo.
As decisões alimentares parecem ser muito mais complexas do que isso, e a solução para comer de forma mais saudável pode estar mais na qualidade e no equilíbrio geral da alimentação do que na eliminação de sabores específicos.
LEIA MAIS:
The Sweet Tooth Trial: Effect of Low or High Dietary Sweet Taste Exposure on SweetTaste Liking, Perception and Body Weight in Healthy Adults
Eva Cad, Monica Mars, Merel van der Kruijssen, Claudia Tang, Hanne de Jong, Michiel Balvers, Katherine Appleton, Kees de Graaf, and Katherine Appleton
NUTRITION 2025
Abstract:
Health organizations recommend lowering the consumption of sweet-tasting foods; assuming that lower exposure to sweet foods lowers preferences for sweet-tasting foods, decreasing sugar and energy intake, and aiding in obesity prevention. However, empirical data supporting this narrative are lacking; this study assesses the effect of a 6-month low regular, and high dietary sweetness exposure on preference for sweet foods and beverages. A total of 180 healthy adults participated in 6-month parallel randomized dietarytrial with 3 intervention groups: Low (recommended intake), Regular (average intake), or High dietarySweetness Exposure (upper quartile of intake). Intervention foods were provided, ad libitum, covering 50% of daily food items, including sugar-sweetened, low-calorie-sweetener-sweetened and non-sweet tasting foods. Sweet taste preferences and other behavioral measures and several health outcomes, such as body weight and biomarkers for diabetes and CVD were measured. [clinicaltrials.gov NCT04497974]. Preliminary results show that despite lower exposure to sweet-tasting foods-supported by sweetener biomarkers in urine this does not lead to shifts in sweet taste preferences, changes in sweet taste perception, changes in food choice, or energy intake. Also, an increased exposure to sweet-tasting foods did not lead to an increased preference for sweet foods or other behavioral outcomes. Also, no effects were observed on body weight and biomarkers for diabetes and CVD. After intervention, subjects spontaneously returned to baseline levels of sweet food intake at 1 and 4 months follow-up. High or low exposure to sweet-tasting foods for 6 months did not change sweet taste preferences, nor did it impact other behavioral or health outcomes. Our findings do not support the belief that changing sweet taste exposure affects sweet preferences. More importantly, it suggests that it is unlikely that advice to reduce the exposure to, or intake of, sweet-tasting foods prevents excess energy intake. Dietary recommendations should therefore focus on evidence-based strategies, such as reducing energy density, limiting portion sizes, and avoiding foods with a high energy intake rate such as sugar-sweetened beverages. TKI Top Sector Agri & Food scheme for public-private partnerships.



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