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A Idade da Empatia: Quando Ela Atinge Seu Auge?

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 6 de fev.
  • 5 min de leitura

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A empatia é um componente essencial da vida social humana, permitindo que entendamos e respondamos ao sofrimento dos outros. O cérebro humano processa a empatia por meio de um sistema complexo que inclui os neurônios-espelho e áreas responsáveis pelo processamento da dor. Este estudo mostrou que nossa resposta empática muda com a idade: enquanto a empatia atinge seu auge na juventude, a resposta neural ao sofrimento dos outros diminui na velhice. Isso sugere que, embora idosos possam relatar sentir empatia, seu cérebro reage de maneira diferente em comparação aos jovens adultos.


A empatia é a capacidade de entender e compartilhar os sentimentos e emoções de outras pessoas. Ou seja, é a habilidade de "se colocar no lugar do outro". Esse processo é fundamental para a vida em sociedade, pois nos ajuda a nos conectar com os outros e a responder adequadamente às suas emoções.


Os cientistas dividem a empatia em dois tipos principais: Empatia Afetiva é quando sentimos a emoção de outra pessoa como se fosse nossa. Isso inclui sentimentos como compaixão ou mesmo sofrimento ao ver alguém passar por uma situação difícil. 


Já a Empatia Cognitiva é a capacidade de entender o que a outra pessoa está sentindo e porque ela sente isso. Esse tipo de empatia está ligado à nossa habilidade de imaginar a perspectiva do outro e envolve funções cerebrais mais sofisticadas, como o raciocínio e a Teoria da Mente (ToM), que nos permite interpretar intenções e emoções. 

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Tanto a empatia afetiva quanto a cognitiva são essenciais para interações sociais saudáveis. No entanto, os cientistas ainda não sabem exatamente como essas respostas mudam ao longo da vida.


Enquanto já foram feitas muitas pesquisas sobre empatia em crianças e adolescentes, há poucas investigações sobre como o cérebro responde à empatia em diferentes idades, especialmente em adultos mais velhos.


Os avanços na neurociência mostram que a empatia está relacionada a um grupo de regiões cerebrais chamadas sistema de neurônios-espelho. Esse sistema é ativado quando observamos alguém fazendo uma ação ou sentindo dor, ele faz com que o nosso cérebro "espelhe" a experiência do outro, como se estivéssemos vivenciando aquilo.


Um exemplo clássico é quando vemos alguém se machucar, como espetar o dedo com uma agulha. Nossos neurônios-espelho disparam, e sentimos uma "dorzinha psicológica", como se aquilo tivesse acontecido conosco. 

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Pesquisas com exames de imagem do cérebro confirmam que regiões como a ínsula anterior e o córtex cingulado anterior se ativam tanto quando sentimos dor real quanto quando vemos outra pessoa sofrendo.


Para entender melhor essas respostas neurais, cientistas utilizam técnicas como a eletroencefalografia (EEG), que mede a atividade elétrica do cérebro. Um dos principais sinais registrados pelo EEG é o ritmo mu, que está relacionado à ativação das áreas sensório-motoras. 


Quando vemos alguém sentir dor, esse ritmo diminui, um fenômeno chamado de dessincronização mu. Isso indica que o nosso cérebro está reagindo ao sofrimento do outro, mesmo que de forma indireta. Pesquisas já mostraram que essa reação é mais intensa quando vemos situações dolorosas (como uma agulha perfurando a pele) do que em situações neutras (como um cotonete tocando a pele). 


Além disso, fatores como proximidade social, gênero e identificação com a pessoa afetada podem influenciar o nível da resposta empática. 


Além da dor física, nosso cérebro também reage à dor social, como rejeição, exclusão ou humilhação. Estudos mostram que ser ignorado ou rejeitado ativa as mesmas áreas cerebrais envolvidas na dor física.

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Um experimento famoso testou isso com um jogo virtual chamado Cyberball, onde os participantes jogavam bola com outros jogadores. No meio do jogo, os outros personagens paravam de passar a bola para o participante, excluindo-o da atividade. Os exames cerebrais mostraram que essa rejeição ativava o mesmo circuito cerebral que responde à dor física.


Outros experimentos demonstraram que assistir a situações de dor social, como ver alguém sendo humilhado, também provoca reações neurais semelhantes às da dor física. Isso sugere que nosso cérebro trata diferentes tipos de sofrimento de maneira parecida.


Curiosamente, alguns estudos mostram que pessoas que tomam analgésicos, como paracetamol, relatam menos sofrimento emocional após experiências de exclusão social. Isso reforça a ideia de que a dor física e a dor emocional compartilham mecanismos cerebrais comuns.


A empatia se desenvolve desde a infância e muda ao longo da vida. Os estudos indicam que a empatia afetiva aparece ainda na infância, por volta dos 3 anos de idade. Crianças pequenas já demonstram preocupação ao ver alguém chorar ou se machucar.

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Durante a adolescência, entre 10 e 19 anos, a empatia ainda está se desenvolvendo. Os adolescentes tendem a ter mais dificuldades em interpretar emoções complexas e podem ser menos propensos a comportamentos pró-sociais.


Na fase adulta jovem, entre 20 e 40 anos, a empatia atinge seu auge. Nessa fase, as pessoas costumam ter maior estabilidade emocional e melhor capacidade de compreender as emoções dos outros.


Na velhice, a empatia afetiva pode permanecer estável ou até aumentar, mas as respostas cerebrais à dor dos outros tendem a diminuir. Isso significa que, embora idosos relatem sentir mais empatia emocional, seu cérebro pode reagir menos intensamente do que o de adultos mais jovens.


Essas mudanças podem estar ligadas ao envelhecimento do cérebro, mas também podem refletir um aumento na experiência de vida, que torna os idosos mais seletivos emocionalmente e menos reativos ao sofrimento dos outros.

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Para entender melhor como a empatia se desenvolve ao longo da vida, um novo estudo analisou a resposta empática em 240 participantes de diferentes idades: adolescentes, jovens adultos e idosos.


Os pesquisadores pediram que os voluntários observassem imagens de mãos e pés em situações dolorosas (como um corte ou um ferimento) e situações sem dor (como um toque leve). Durante o experimento, mediram as respostas cerebrais dos participantes usando EEG e também pediram que avaliassem a intensidade da dor imaginada.


Os principais resultados foram: 


  • A empatia foi maior para cenas de dor física do que para dor social.

  • Jovens adultos foram os mais sensíveis a eventos de dor social, enquanto adolescentes e idosos tiveram reações mais fracas.

  • As respostas cerebrais aumentaram da adolescência para a idade adulta, mas depois diminuíram na velhice.


Esses achados reforçam a ideia de que a empatia segue um processo de desenvolvimento ao longo da vida e que o cérebro responde de maneiras diferentes dependendo da idade e do tipo de dor observada.

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A empatia é um componente essencial da vida social humana, permitindo que entendamos e respondamos ao sofrimento dos outros. O cérebro humano processa a empatia por meio de um sistema complexo que inclui os neurônios-espelho e áreas responsáveis pelo processamento da dor.


Este estudo mostrou que nossa resposta empática muda com a idade: enquanto a empatia atinge seu auge na juventude, a resposta neural ao sofrimento dos outros diminui na velhice. Isso sugere que, embora idosos possam relatar sentir empatia, seu cérebro reage de maneira diferente em comparação aos jovens adultos.


No futuro, pesquisas mais detalhadas podem ajudar a compreender melhor esses processos e até mesmo desenvolver estratégias para fortalecer a empatia em diferentes fases da vida. Afinal, a capacidade de se conectar emocionalmente com os outros é uma das características mais importantes da nossa humanidade.



LEIA MAIS:


Neural empathy mechanisms are shared for physical and social pain, and increase from adolescence to older adulthood 

Heather J Ferguson, Martina De Lillo, Camilla Woodrow-Hill, Rebecca Foley, Elisabeth E F Bradford

Social Cognitive and Affective Neuroscience, Volume 19, Issue 1, 2024, nsae080


Abstract:


Empathy is a critical component of social interaction that enables individuals to understand and share the emotions of others. We report a preregistered experiment in which 240 participants, including adolescents, young adults, and older adults, viewed images depicting hands and feet in physically or socially painful situations (versus nonpainful). Empathy was measured using imagined pain ratings and EEG mu suppression. Imagined pain was greater for physical versus social pain, with young adults showing particular sensitivity to social pain events compared to adolescents and older adults. Mu desynchronization was greater to pain versus no-pain situations, but the physical/social context did not modulate pain responses. Brain responses to painful situations increased linearly from adolescence to young and older adulthood. These findings highlight shared activity across the core empathy network for both physical and social pain contexts, and an empathic response that develops over the lifespan with accumulating social experience.

 
 
 

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