Exame de Sangue Identifica Alzheimer Antes dos Sintomas com 92% de Precisão
- Lidi Garcia
- 3 de abr.
- 4 min de leitura

Um novo exame de sangue pode ajudar no diagnóstico da doença de Alzheimer. Esse teste mede uma proteína chamada eMTBR-tau243, que está diretamente ligada ao acúmulo de tau no cérebro, um dos principais sinais da doença. Os resultados mostraram que esse biomarcador pode indicar a gravidade da doença e prever sua progressão com mais precisão do que exames anteriores. Isso pode facilitar o diagnóstico precoce e melhorar o acompanhamento de novos tratamentos.
A doença de Alzheimer é caracterizada pelo acúmulo de duas proteínas no cérebro: o beta-amiloide (Aβ) e a tau. Tratamentos que miram o beta-amiloide já demonstraram reduzir o declínio cognitivo em algumas pessoas com a doença.
No entanto, esses tratamentos parecem ser mais eficazes em indivíduos que têm baixos níveis da proteína tau agregada no cérebro. Isso acontece porque cerca de 25% dos idosos apresentam placas de beta-amiloide, mas sem sintomas da doença, o que significa que um exame que detecta apenas o beta-amiloide não é suficiente para confirmar a causa do problema cognitivo.
Assim, identificar e medir o acúmulo da proteína tau pode ser fundamental para determinar quem realmente pode se beneficiar das terapias.

A proteína tau é essencial para o funcionamento dos neurônios, ajudando a estabilizar sua estrutura. No entanto, em doenças como o Alzheimer, a tau pode se acumular e formar emaranhados no cérebro, prejudicando a comunicação entre os neurônios e levando à morte celular.
Esse processo está diretamente ligado ao declínio da memória e de outras funções cognitivas, tornando o aumento da tau um dos principais sinais do avanço da doença e um grande desafio para o tratamento.
O acúmulo de tau tem sido um alvo de interesse crescente porque está mais diretamente relacionado à progressão da doença de Alzheimer do que o beta-amiloide. Combinar terapias anti-tau com as atuais terapias anti-beta-amiloide pode oferecer um tratamento mais eficaz. No entanto, para que isso seja possível, precisamos de exames confiáveis que detectem as alterações patológicas da tau no cérebro.

Na doença de Alzheimer, a proteína tau, que normalmente ajuda a manter os neurônios saudáveis, pode se tornar defeituosa e formar emaranhados no cérebro. Esses emaranhados se espalham seguindo um padrão específico, como se estivessem viajando por uma rede de conexões entre os neurônios. Os cientistas acreditam que essa propagação da tau pode ser uma das principais razões pela qual a doença piora com o tempo, afetando cada vez mais áreas do cérebro responsáveis pela memória e outras funções cognitivas. Fonte: Shuko Takeda. Volume 13 - 2019
Uma das formas mais precisas de avaliar a proteína tau no cérebro é por meio da tomografia por emissão de pósitrons (PET). Esse exame usa um marcador radioativo que se liga aos emaranhados de tau no cérebro e permite visualizar seu acúmulo.
Os estudos mostraram que os níveis elevados de tau detectados pelo PET estão fortemente relacionados ao declínio cognitivo. Apesar de sua precisão, esse exame é caro e exige equipamentos sofisticados, o que limita sua acessibilidade.
Em comparação, biomarcadores encontrados no sangue ou no líquido cefalorraquidiano (LCR) são mais baratos e fáceis de obter, tornando-se uma alternativa promissora para identificar a doença.
Os exames atuais baseados em fluidos medem fragmentos da proteína tau fosforilada (p-tau), como p-tau181 e p-tau217. No entanto, essas formas de tau estão mais relacionadas à presença de beta-amiloide do que ao real acúmulo de tau insolúvel no cérebro.
Isso significa que elas podem indicar alterações iniciais da doença, mas não medem diretamente os emaranhados de tau que causam a degeneração dos neurônios. Ensaios clínicos recentes mostraram que as terapias anti-beta-amiloide reduzem os níveis dessas proteínas no sangue e no LCR, mas não afetam diretamente os emaranhados de tau, reforçando a necessidade de biomarcadores mais específicos para tau agregado.

PET Scan amiloide para avaliação da doença de Alzheimer
Para resolver esse problema, os pesquisadores da Washington University School of Medicine, EUA, desenvolveram um novo exame baseado em espectrometria de massa, chamado eMTBR-tau243. Esse teste mede uma forma específica da proteína tau no sangue que reflete melhor a presença de tau agregado no cérebro.
Em estudos realizados com três grupos diferentes de pacientes (totalizando 739 pessoas), os níveis desse biomarcador no sangue estavam elevados já nas fases iniciais da doença e aumentavam ainda mais conforme a demência progredia.

Além disso, os resultados mostraram que o eMTBR-tau243 no sangue se correlacionava fortemente com os achados do PET para tau, indicando que ele pode ser um substituto confiável para esse exame mais caro.
Além de identificar a presença da doença, o novo biomarcador também se mostrou útil para prever o declínio cognitivo e avaliar a eficácia de novos tratamentos. Isso pode tornar os ensaios clínicos mais eficientes, ajudando a selecionar melhor os participantes e monitorar o impacto das terapias anti-tau.
Como é baseado em uma amostra de sangue, esse exame tem o potencial de ser amplamente utilizado, tornando o diagnóstico da doença de Alzheimer mais acessível e preciso para pacientes em todo o mundo.
LEIA MAIS:
Plasma MTBR-tau243 biomarker identifies tau tangle pathology in Alzheimer’s disease
Kanta Horie, Gemma Salvadó, Rama K. Koppisetti, Shorena Janelidze, Nicolas R. Barthélemy, Yingxin He, Chihiro Sato, Brian A. Gordon, Hong Jiang, Tammie L. S. Benzinger, Erik Stomrud, David M. Holtzman, Niklas Mattsson-Carlgren, John C. Morris, Sebastian Palmqvist, Rik Ossenkoppele, Suzanne E. Schindler, Oskar Hansson and Randall J. Bateman
Nature Medicine. 31 March 2025
DOI: 10.1038/s41591-025-03617-7
Abstract:
Insoluble tau aggregates within neurofibrillary tangles are a defining neuropathological feature of Alzheimer’s disease (AD) and closely correlate with clinical symptoms. Although tau pathology can be assessed using tau positron emission tomography, a more accessible biomarker is needed for diagnosis, prognosis and tracking treatment effects. Here we present a new plasma tau species, the endogenously cleaved, microtubule-binding region containing residue 243 (eMTBR-tau243), which specifically reflects tau tangle pathology. Across the AD spectrum in three different cohorts (n = 108, 55 and 739), plasma eMTBR-tau243 levels were significantly elevated at the mild cognitive impairment stage and increased further in dementia. Plasma eMTBR-tau243 showed strong associations with tau positron emission tomography binding (β = 0.72, R2 = 0.56) and cognitive performance (β = 0.60, R2 = 0.40), outperforming other plasma tau (%p-tau217 and %p-tau205) biomarkers. These results suggest that plasma eMTBR-tau243 may be useful for estimating the tauopathy load in AD, thereby improving the diagnostic evaluation of AD in clinical practice and monitoring the efficacy of tau-targeted therapies in clinical trials.



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