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Apego Digital: Por Que Tratamos a IA Como Uma Amiga?

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 6 de jun.
  • 5 min de leitura

Com a presença crescente da inteligência artificial (IA) no cotidiano, surgem novas formas de relacionamento entre humanos e máquinas. Este estudo investiga se a teoria do apego, tradicionalmente usada para entender vínculos humanos, pode ser aplicada à relação com a IA. Os resultados indicam que a IA pode cumprir funções emocionais, como oferecer conforto e segurança, e que as pessoas variam em como se apegam a ela, demonstrando ansiedade ou evitação, assim como nas relações humanas.


Com o avanço da inteligência artificial (IA), nossa convivência com ela tem se tornado cada vez mais frequente e profunda. Hoje, não apenas usamos a IA para resolver tarefas práticas do dia a dia, como também passamos a conversar com ela, pedir conselhos e, em alguns casos, até formar laços emocionais. 


Essa nova relação entre humanos e máquinas é algo sem precedentes na história, e por isso, entender melhor como nos conectamos com a IA se tornou um tema importante de estudo.


Uma das formas de explorar essa relação é usando a teoria do apego, que originalmente foi criada para entender os laços entre bebês e seus cuidadores.

O apego e os vínculos emocionais estão associados a um conjunto de áreas cerebrais e mecanismos neurofisiológicos envolvidos na motivação, recompensa e regulação emocional.


Regiões como o sistema límbico, especialmente a amígdala, o hipocampo e o córtex pré-frontal, participam na avaliação emocional e na memória afetiva dos vínculos. 


O sistema de recompensa, centrado no núcleo accumbens e na liberação de dopamina, é ativado quando estamos próximos de figuras de apego. Além disso, substâncias como a ocitocina e a vasopressina, conhecidas como “hormônios do vínculo”, desempenham papel essencial na formação  e manutenção de laços afetivos, promovendo sentimentos de segurança, confiança e conexão social. 


A teoria do apego explica como formamos vínculos emocionais com pessoas que nos oferecem proteção, conforto e apoio. Ao longo da vida, essa teoria também tem sido usada para compreender relações amorosas, amizades e até o luto. 

Ela mostra que, em geral, as pessoas variam em dois aspectos principais: algumas são mais ansiosas, buscando constantemente sinais de que são amadas e temendo ser abandonadas; outras são mais evitativas, preferindo manter certa distância emocional e não depender muito dos outros. 


Tradicionalmente, acreditava-se que figuras de apego precisavam ser pessoas, como pais, amigos ou parceiros amorosos. No entanto, estudos mais recentes mostram que até animais de estimação, símbolos religiosos e grupos sociais podem exercer esse papel emocional.

Dado que a IA está cada vez mais presente em nossas vidas, por exemplo, por meio de assistentes virtuais como o ChatGPT, os pesquisadores começaram a questionar se ela também poderia se tornar uma figura de apego. 


Isso porque, além de ajudar com informações, a IA também pode oferecer escuta, companhia e respostas empáticas. Essas são justamente as qualidades que caracterizam uma figura de apego, que deve servir como "refúgio seguro" (oferecendo apoio em momentos difíceis) e como "base segura" (incentivando a pessoa a explorar o mundo, sabendo que tem onde se apoiar).


Vários estudos já mostraram que algumas pessoas enxergam a IA como uma amiga, o que reforça a ideia de que ela pode exercer funções emocionais semelhantes às de seres humanos. Com base nisso, os autores desse estudo se propuseram a investigar se a teoria do apego poderia ser usada para entender a relação entre humanos e IA. 

Eles criaram uma escala para medir como as pessoas se sentem ao interagir com sistemas de IA, avaliando dois aspectos principais: ansiedade (a necessidade de receber atenção e respostas adequadas da IA) e evitação (o desconforto em se aproximar emocionalmente da IA).


Esses aspectos ajudam a entender como diferentes pessoas vivenciam suas interações com a IA. Por exemplo, quem apresenta mais ansiedade de apego pode sentir uma forte necessidade de ser compreendido e acolhido pela IA, talvez por não encontrar isso nos relacionamentos humanos. 


Já quem tende à evitação pode usar a IA de forma mais prática, evitando envolvimento emocional ou dependência. Essas formas de se relacionar com a IA são semelhantes às que temos com outras pessoas ou até com nossos animais de estimação.


Para testar essas ideias, os pesquisadores da Waseda University, Tokyo, conduziram dois estudos piloto e um estudo formal. No primeiro, eles analisaram se a IA realmente exerce funções de apego. No segundo, criaram uma escala de autorrelato para medir as experiências emocionais com a IA, baseada na teoria do apego. Depois, avaliaram se essa escala era confiável e válida. 

Os resultados mostraram que sim: a forma como as pessoas se conectam emocionalmente com a IA pode, de fato, ser explicada pelos mesmos princípios que usamos para entender laços humanos.


Em resumo, a pesquisa mostra que as interações com a IA podem despertar sentimentos e padrões de apego semelhantes aos que temos com pessoas próximas. Isso significa que a IA pode, em certos contextos, ocupar um papel emocional significativo na vida das pessoas, como fonte de conforto ou segurança. 


Entender essas relações pode ajudar a criar tecnologias mais sensíveis às necessidades humanas e também a antecipar possíveis impactos psicológicos dessa convivência cada vez mais íntima com máquinas inteligentes.



LEIA MAIS:


Using attachment theory to conceptualize and measure the experiences in human-AI relationships. 

Yang  F., and Oshio A. 

Curr Psychol (2025). 


Abstract:


Artificial intelligence (AI) is growing “stronger and wiser,” leading to increasingly frequent and varied human-AI interactions. This trend is expected to continue. Existing research has primarily focused on trust and companionship in human-AI relationships, but little is known about whether attachment-related functions and experiences could also be applied to this relationship. In two pilot studies and one formal study, the current project first explored using attachment theory to examine human-AI relationships. Initially, we hypothesized that interactions with generative AI mimic attachment-related functions, which we tested in Pilot Study 1. Subsequently, we posited that experiences in human-AI relationships could be conceptualized via two attachment dimensions, attachment anxiety and avoidance, which are similar to traditional interpersonal dynamics. To this end, in Pilot Study 2, a self-report scale, the Experiences in Human-AI Relationships Scale, was developed. Further, we tested its reliability and validity in a formal study. Overall, the findings suggest that attachment theory significantly contributes to understanding the dynamics of human-AI interactions. Specifically, attachment anxiety toward AI is characterized by a significant need for emotional reassurance from AI and a fear of receiving inadequate responses. Conversely, attachment avoidance involves discomfort with closeness and a preference for maintaining emotional distance from AI. This implies the potential existence of shared structures underlying the experiences generated from interactions, including those with other humans, pets, or AI. These patterns reveal similarities with human and pet relationships, suggesting common structural foundations. Future research should examine how these attachment styles function across different relational contexts.

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