top of page

Vida no espaço? Asteroide Bennu guarda segredos sobre a origem da vida!


Imagens tiradas pela nave espacial OSIRIS-REx mostra Bennu a uma distância de cerca de 50 milhas (80 quilômetros). Crédito: NASA/Goddard/University of Arizona, Domínio Público


Nos últimos dias, descobertas revolucionárias sobre o asteroide Bennu trouxeram novas pistas sobre a química do início do Sistema Solar e a possível existência de ambientes extraterrestres capazes de sustentar reações químicas essenciais para a vida. 


A missão OSIRIS-REx, que trouxe amostras intactas do asteroide para a Terra, permitiu análises detalhadas que revelaram a presença de sais formados a partir de salmouras antigas e uma grande diversidade de compostos orgânicos, incluindo aminoácidos e nucleobases essenciais para o DNA e RNA.  

O mecanismo de aquisição de amostras Touch-and-Go da OSIRIS-REx coletou mais de 120 gramas de regolito do asteroide Bennu. Crédito: NASA/Goddard/Erika Blumenfeld e Joseph Aebersold, domínio público


Essas descobertas não apenas reforçam a teoria de que compostos fundamentais para a vida podem ter se formado no espaço, como também indicam que processos semelhantes podem estar ocorrendo em outros corpos celestes, aumentando a possibilidade de ambientes habitáveis além da Terra.


Um dos achados mais significativos nas amostras de Bennu foi a presença de sais diversos, como fosfatos de sódio, carbonatos ricos em sódio, sulfatos, cloretos e fluoretos.


Esses minerais são típicos de ambientes onde há evaporação ou congelamento de fluidos ricos em água, processos que ocorrem em bacias fechadas na Terra e também foram detectados em corpos gelados do Sistema Solar, como Ceres e Encélado. 


A formação desses sais indica que, no início da história de Bennu, seu corpo parental continha água líquida o suficiente para gerar salmouras concentradas, um ambiente que pode ter favorecido a síntese de compostos químicos complexos.


A análise dessas amostras só foi possível porque foram cuidadosamente coletadas e armazenadas antes de qualquer contaminação terrestre.


Diferentemente de meteoritos que caem na Terra e são expostos à nossa atmosfera e biosfera, os materiais vindos de Bennu chegaram intactos, preservando informações químicas cruciais sobre sua origem e história. 

Pesquisadores da NASA extraem uma pequena porção de sua amostra de regolito para preparar o “chá Bennu”. Crédito: NASA Goddard/OSIRIS-REx, Domínio Público

 

Esse nível de preservação permite que cientistas estudem os processos que ocorreram no início do Sistema Solar sem as interferências causadas pela exposição ao ambiente terrestre.


Além dos sais, as amostras do asteroide revelaram uma abundância surpreendente de compostos orgânicos, superando até mesmo as encontradas no asteroide Ryugu em 75 vezes, e em muitos meteoritos carbonáceos já estudados. 


Entre os compostos detectados estão amônia, formaldeído, ácidos carboxílicos, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos e uma grande variedade de aminoácidos, incluindo 14 dos 20 usados na biologia terrestre.  

Este mapa de espectrometria de energia dispersiva de um grão não preparado do regolito de Bennu mostra a colocação de sal salgado sobre materiais argilosos. Fósforo é mostrado em verde, cálcio em vermelho, ferro em amarelo e magnésio em azul. Uma veia de 0,1 milímetro de fosfato de sódio e magnésio (aglomerado verde no centro) formada por evaporação. O fosfato pode ter desempenhado um papel na formação de moléculas orgânicas encontradas nas amostras. Crédito: Museu de História Natural, Londres/Tobias Salge e Goddard Space Flight Center da NASA, Domínio Público


Mais impressionante ainda, todas as cinco nucleobases presentes no DNA e RNA foram identificadas, sugerindo que Bennu pode ter transportado ingredientes fundamentais para a origem da vida.


Os cientistas também analisaram as assinaturas isotópicas do nitrogênio encontrado nessas moléculas e descobriram que elas foram formadas em condições extremamente frias, provavelmente em uma nuvem molecular interestelar ou no disco protoplanetário externo do Sistema Solar. 


Isso sugere que os blocos construtores da vida podem ter se formado antes mesmo da formação dos planetas, sendo incorporados a asteroides como Bennu e, eventualmente, entregues à Terra por impactos.


Outro detalhe intrigante é que os aminoácidos encontrados nas amostras não apresentaram uma quiralidade preferencial, ou seja, não havia uma predominância de moléculas "destras" ou "canhotas", diferentemente do que ocorre na vida terrestre, onde os aminoácidos usados pelos organismos seguem um padrão canhoto. 


Isso levanta a questão de quando e como essa assimetria surgiu, sugerindo que a organização molecular da vida pode ter sido influenciada por fatores posteriores, como interações químicas na Terra primitiva. 

Distribuição e abundâncias totais de aminas, aminoácidos e ácidos carboxílicos em Bennu (OREX-803001-0) em comparação outros asteroides como o Ryugu (A0106) e condritos carbonáceos (CCs), um tipo de meteorito primitivo rico em compostos orgânicos, que caiu na Terra naturalmente. Porcentagens relativas de aminas (laranja), aminoácidos (verde) e ácidos carboxílicos (azul) são fornecidas nos gráficos de pizza individuais com seu tamanho geral proporcional à soma total das abundâncias das três classes de compostos orgânicos solúveis.


As descobertas em Bennu fornecem um paralelo fascinante com outros corpos do Sistema Solar que exibem sinais de atividade química em ambientes aquáticos.


Sinais espectroscópicos indicam a presença de carbonato de sódio na superfície de Ceres e nas plumas de Encélado, sugerindo que salmouras semelhantes às que formaram os sais em Bennu ainda podem estar presentes nesses mundos.


Se esses ambientes aquosos existiram por tempo suficiente e sob as condições adequadas, poderiam ter permitido reações químicas progressivamente mais complexas, potencialmente levando ao surgimento de moléculas autoreplicantes, um passo fundamental para a origem da vida. 


Embora não haja evidências diretas de vida nesses locais, a descoberta de moléculas orgânicas ricas em Bennu reforça a ideia de que a química prebiótica pode ser um fenômeno comum no universo.

Pedras do asteroide Bennu fotografadas pela nave espacial OSIRIS-REx da NASA. Fonte: NASA


O estudo das amostras de Bennu trouxe revelações impressionantes sobre a complexidade química  presente em asteroides e reforçou a hipótese de que os ingredientes essenciais para a vida podem ser distribuídos amplamente pelo espaço.

 

A presença de sais formados por salmouras e a abundância de compostos orgânicos sugere que ambientes ricos em água e química complexa podem ter sido mais comuns no Sistema Solar primitivo do que se imaginava.


Essas descobertas ampliam nossa compreensão sobre a origem da vida e levantam novas questões sobre onde mais esses processos podem estar ocorrendo. Se os blocos fundamentais da vida podem se formar em asteroides, é possível que sistemas semelhantes existam em exoplanetas, luas geladas e até em outros asteroides ainda não explorados.


Com a tecnologia avançando e novas missões espaciais planejadas para investigar mundos oceânicos como Encélado e Europa, estamos cada vez mais próximos de responder uma das maiores questões da humanidade: a vida é um fenômeno exclusivo da Terra ou um evento comum no universo?



LEIA MAIS:


An evaporite sequence from ancient brine recorded in Bennu samples.

McCoy, T.J., Russell, S.S., Zega, T.J. et al. 

Nature 637, 1072–1077 (2025). 


Abstract:


Evaporation or freezing of water-rich fluids with dilute concentrations of dissolved salts can produce brines, as observed in closed basins on Earth1 and detected by remote sensing on icy bodies in the outer Solar System2,3. The mineralogical evolution of these brines is well understood in regard to terrestrial environments4, but poorly constrained for extraterrestrial systems owing to a lack of direct sampling. Here we report the occurrence of salt minerals in samples of the asteroid (101955) Bennu returned by the OSIRIS-REx mission5. These include sodium-bearing phosphates and sodium-rich carbonates, sulfates, chlorides and fluorides formed during evaporation of a late-stage brine that existed early in the history of Bennu’s parent body. Discovery of diverse salts would not be possible without mission sample return and careful curation and storage, because these decompose with prolonged exposure to Earth’s atmosphere. Similar brines probably still occur in the interior of icy bodies Ceres and Enceladus, as indicated by spectra or measurement of sodium carbonate on the surface or in plumes2,3.



Abundant ammonia and nitrogen-rich soluble organic matter in samples from asteroid (101955) Bennu.

Glavin, D.P., Dworkin, J.P., Alexander, C.M.O. et al.  

Nat Astron (2025). 


Abstract:


Organic matter in meteorites reveals clues about early Solar System chemistry and the origin of molecules important to life, but terrestrial exposure complicates interpretation. Samples returned from the B-type asteroid Bennu by the Origins, Spectral Interpretation, Resource Identification, and Security–Regolith Explorer mission enabled us to study pristine carbonaceous astromaterial without uncontrolled exposure to Earth’s biosphere. Here we show that Bennu samples are volatile rich, with more carbon, nitrogen and ammonia than samples from asteroid Ryugu and most meteorites. Nitrogen-15 isotopic enrichments indicate that ammonia and other N-containing soluble molecules formed in a cold molecular cloud or the outer protoplanetary disk. We detected amino acids (including 14 of the 20 used in terrestrial biology), amines, formaldehyde, carboxylic acids, polycyclic aromatic hydrocarbons and N-heterocycles (including all five nucleobases found in DNA and RNA), along with ~10,000 N-bearing chemical species. All chiral non-protein amino acids were racemic or nearly so, implying that terrestrial life’s left-handed chirality may not be due to bias in prebiotic molecules delivered by impacts. The relative abundances of amino acids and other soluble organics suggest formation and alteration by low-temperature reactions, possibly in NH3-rich fluids. Bennu’s parent asteroid developed in or accreted ices from a reservoir in the outer Solar System where ammonia ice was stable.

Kommentarer


© 2024 by Lidiane Garcia

bottom of page