top of page

Transtorno Bipolar e Epilepsia: Descoberta a Base Genética Comum


Epilepsia e transtorno bipolar (TB) exibem considerável sobreposição bioquímica e genética. Esse estudo revelou uma correlação genética significativa entre TB do tipo 1 e epilepsia, indicando um efeito causal significativo da epilepsia no TB. Além disso, identificaram as variantes genéticas compartilhadas importantes para o funcionamento dos neuronios e suas expressões em diferentes areas do cerebro.


A epilepsia e o transtorno bipolar (TB), especialmente a forma de mania associada ao TB, são condições que compartilham características biológicas e genéticas, segundo evidências científicas crescentes. Ambas apresentam alterações na concentração de íons de cálcio dentro das células ([Ca2+]), um fenômeno observado consistentemente em estudos bioquímicos. 


Essa ligação é ainda reforçada pelo fato de que alguns medicamentos usados para tratar epilepsia, chamados de antiepilépticos, também são eficazes no controle do humor em pacientes com TB, sugerindo uma base biológica comum entre os dois transtornos. 


Isso levanta a hipótese de que alterações no humor, como a mania, possam ter relação com os mecanismos que levam a convulsões.

Pesquisadores da Chinese Academy of Sciences realizaram um estudo aprofundado utilizando dados de estudos de associação genômica ampla (GWAS), que investigam variações no DNA em grandes populações para identificar genes associados a doenças. 


Esse estudo analisou 26.352 casos de epilepsia e 774.517 indivíduos sem epilepsia (controles), além de 25.060 casos de transtorno bipolar tipo I (TB-I), que é caracterizado por episódios de mania severa, e 307.499 controles. 


A análise revelou uma correlação genética positiva significativa entre TB-I e epilepsia. Em termos simples, isso significa que existem genes compartilhados que podem contribuir para o desenvolvimento de ambas as condições. 

O gráfico de Venn mostra o número de variantes causais específicas e compartilhadas entre TB-I e epilepsia. Fonte: Jin-Hua Huo, and Ming Li


Além disso, os dados sugerem que a epilepsia pode ter um efeito causal no desenvolvimento do TB-I, indicando que pessoas com epilepsia podem ter maior risco de desenvolver TB-I.


Outro aspecto interessante do estudo foi a identificação de variantes genéticas específicas. Usando uma técnica chamada MiXeR. A técnica MiXeR é uma abordagem estatística avançada usada em estudos genéticos para analisar e quantificar a sobreposição de vários genes entre diferentes condições ou características. 


Em termos simples, ela permite identificar o número estimado de variantes genéticas que influenciam simultaneamente duas ou mais condições, mesmo quando essas condições parecem não ter uma correlação óbvia ou direta nos resultados clínicos.


Nesse estudos os cientistas encontraram cerca de 7,8 mil variantes genéticas relacionadas ao TB-I, outros 3 mil associadas à epilepsia e 1,3 mil variantes compartilhadas entre ambas as condições. 


Além disso, seis regiões específicas do genoma (chamadas de loci genômicos) foram significativamente associadas a TB-I e epilepsia. Dentre essas, quatro regiões mostraram efeitos genéticos semelhantes para ambas as doenças, enquanto duas apresentaram efeitos opostos. Isso sugere que algumas variantes podem influenciar ambas as condições de maneira similar, enquanto outras podem agir de forma divergente.


Entre os genes analisados, o gene SP4 recebeu atenção especial. Uma variante específica desse gene, identificada como rs9639379, foi associada tanto ao risco de TB-I quanto à epilepsia. 


O gene SP4 está envolvido na regulação da transcrição de genes relacionados ao metabolismo energético neuronal, o que é importante tanto para o funcionamento cerebral normal quanto para a resposta a condições como epilepsia e TB. 


Estudos indicam que a estabilidade da proteína SP4 pode ser influenciada pela atividade dos neurônios, e o lítio, um medicamento amplamente utilizado para tratar o TB, demonstrou estabilizar os níveis dessa proteína. Isso sugere que o SP4 pode desempenhar um papel importante na eficácia dos estabilizadores de humor. 


Embora a ligação direta entre o SP4 e a epilepsia ainda não seja completamente compreendida, sua influência no metabolismo neuronal fornece uma pista de como ele pode estar envolvido nas crises epilépticas.

O estudo também apontou que cinco dos seis loci genômicos compartilhados entre TB-I e epilepsia mostraram associações com expressão genética em tecidos do córtex cerebral ou em tipos específicos de células. Isso reforça a ideia de que alterações em genes específicos podem impactar regiões do cérebro relacionadas às duas condições.


Apesar dos avanços significativos, o estudo apresenta limitações. Ele foi conduzido com populações de ascendência europeia, o que pode limitar a aplicabilidade dos resultados a outras populações. Além disso, os dados utilizados não incluíram informações específicas sobre o sexo dos participantes, impedindo análises baseadas em gênero que poderiam trazer mais nuances aos achados.


Em resumo, este estudo reforça a conexão biológica e genética entre epilepsia e transtorno bipolar, revelando uma sobreposição substancial nos mecanismos subjacentes às duas condições. 


A identificação de variantes genéticas compartilhadas, como a rs9639379 no gene SP4, oferece novas pistas para entender a relação entre essas doenças. Além disso, os resultados destacam o potencial de medicamentos estabilizadores de humor, que já são eficazes em ambas as condições, para explorar novos caminhos terapêuticos. 


A investigação futura deve focar em compreender melhor os mecanismos genéticos e neurobiológicos compartilhados, expandindo as análises para populações diversas e explorando a influência de fatores específicos, como o gênero.



LEIA MAIS:


Rethinking the connection between bipolar disorder and epilepsy from genetic perspectives 

Jin-Hua Huo, and Ming Li

Genomic Psychiatry, Page Range: 1 – 2, Brief Report,  Sep 30, 2024


Abstract:


Epilepsy and bipolar disorder (BD) exhibit considerable biochemical and genetic overlap. Our study unveiled a significant genetic correlation (rg = 0.154, P = 9.24 × 10–6) between BD-I and epilepsy, indicating a meaningful causal effect of epilepsy on BD-I (P = 0.0079, bxy = 0.1721, SE = 0.0648). Additionally, we identified 1.3k shared genetic variants and 6 significant loci, demonstrating substantial polygenic overlap. Notably, the rs9639379 variant within the SP4 gene exhibited strong associations with both BD-I and epilepsy, implicating SP4 in the etiology of both disorders.

Kommentare


bottom of page