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TOC Não é Só Psicológico: Estudo Aponta Origem Genética Do Transtorno

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 23 de jun.
  • 4 min de leitura

O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é um problema de saúde mental comum em crianças, no qual fatores genéticos têm um papel importante. Um estudo recente descobriu que crianças com TOC têm mais alterações raras no DNA, chamadas CNVs de novo, do que crianças sem o transtorno. Essas mudanças no DNA podem afetar o funcionamento do cérebro e ajudar a explicar por que o TOC acontece. Essa descoberta reforça a ideia de que o TOC tem origem genética e pode ajudar no futuro a desenvolver novos tratamentos.


O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é um problema de saúde mental que afeta muitas crianças e adolescentes. Ele se caracteriza por pensamentos repetitivos e indesejados (as obsessões) e por comportamentos ou rituais que a pessoa sente que precisa fazer para aliviar a ansiedade causada por esses pensamentos (as compulsões). 


O TOC é um transtorno do cérebro e do comportamento, e sabemos que fatores genéticos, ou seja, as informações que herdamos de nossos pais, têm um papel importante no surgimento dessa condição. Por isso, cientistas do mundo todo têm estudado os genes de pessoas com transtorno obsessivo-compulsivo para entender melhor suas causas e, quem sabe, ajudar a desenvolver novos tratamentos no futuro.

O estudo em questão, realizado por pesquisadores da Yale University, USA, investigou uma parte muito específica dos genes de crianças com transtorno obsessivo-compulsivo. 


Os pesquisadores queriam descobrir se certos tipos raros de alterações genéticas, chamados CNVs raras de novo, aparecem com mais frequência em crianças com transtorno obsessivo-compulsivo do que em crianças sem o transtorno. 


O CNV é a sigla para Copy Number Variation, que em português significa variação no número de cópias. Isso quer dizer que, em vez de ter exatamente duas cópias de um pedaço do DNA (uma do pai e uma da mãe), a criança pode ter mais ou menos cópias de certos trechos. 


Quando essas mudanças aparecem do nada, sem estarem presentes nos pais, elas são chamadas de 'de novo'. Essas alterações podem mexer no funcionamento dos genes e, em alguns casos, aumentar o risco de desenvolver transtornos como o TOC.

Para realizar essa pesquisa, os cientistas analisaram o DNA de 183 famílias em que havia uma criança com transtorno obsessivo-compulsivo e 771 famílias em que as crianças não tinham transtorno obsessivo-compulsivo (os controles).  


Eles usaram uma tecnologia chamada sequenciamento completo do exoma (WES), que examina de perto apenas as partes do DNA que contêm os genes que realmente fabricam proteínas, como se fosse focar nas “receitas principais” de um grande livro de culinária. 


Com programas de computador especializados, os cientistas identificaram essas CNVs raras de novo no material genético das crianças e compararam os resultados entre os dois grupos.

O que eles encontraram foi surpreendente: as crianças com transtorno obsessivo-compulsivo tinham uma quantidade muito maior dessas alterações genéticas raras do que as crianças sem transtorno obsessivo-compulsivo.  


Para se ter uma ideia, enquanto os controles mostraram em média 0,005 CNVs por criança, os participantes com transtorno obsessivo-compulsivo apresentaram 0,07 CNVs por criança, o que significa uma diferença mais de 11 vezes maior. 


Além disso, a maioria dessas alterações encontradas nas crianças com transtorno obsessivo-compulsivo foi considerada patogênica (capaz de causar doenças) ou provavelmente patogênica. Quando os cientistas analisaram os genes afetados, perceberam que muitos deles estão relacionados a processos biológicos importantes no funcionamento do cérebro.

Em conclusão, este estudo foi o primeiro a mostrar que CNVs raras de novo detectadas por essa técnica avançada (o WES) estão mais presentes em crianças com transtorno obsessivo-compulsivo, reforçando a ideia de que o TOC tem um componente genético importante. 


Isso complementa pesquisas anteriores e ajuda a entender melhor os mecanismos genéticos que aumentam o risco de desenvolver o transtorno. Esses achados são um passo importante para, no futuro, pensar em formas mais personalizadas de prevenção e tratamento para o transtorno obsessivo-compulsivo.



LEIA MAIS:


Characterizing Rare DNA Copy-Number Variants in Pediatric Obsessive-Compulsive Disorder

Sarah B. Abdallah, Emily Olfson, Carolina Cappi, Samantha Greenspun, Gwyneth Zai,  Maria C. Rosário, A Jeremy Willsey, Roseli G. Shavitt, Euripedes C. Miguel, James L. Kennedy, Margaret A. Richter, and Thomas V. Fernandez

Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry, March 20, 2025

DOI: 10.1016/j.jaac.2025.03.014 


Abstract: 


Pediatric obsessive-compulsive disorder (OCD) is a common neuropsychiatric disorder in which genetic factors play an important role. Recent studies have demonstrated an enrichment of rare de novo DNA single-nucleotide variants in persons with OCD compared to controls, and larger studies have examined copy-number variants (CNVs) using microarray data. Our study examines rare de novo CNVs using whole-exome sequencing (WES) data to provide additional insight into genetic factors and biological processes underlying OCD. We detected CNVs using whole-exome DNA sequencing (WES) data from 183 OCD trio families (unaffected parents and children with OCD) and 771 control families to test the hypothesis that rare de novo CNVs are enriched in persons with OCD compared to controls. Our primary analysis used the eXome-Hidden Markov Model (XHMM) to identify CNVs in silico. We performed burden analyses comparing persons with OCD vs controls and downstream biological systems analyses of CNVs in probands with OCD. We then used a second algorithm (GATK-gCNV) to confirm our primary analysis. Our findings demonstrate a higher rate of rare de novo CNVs detected by WES in persons with OCD (0.07 CNVs per proband) compared to controls (0.005) (corrected rate ratio = 11.7 95% CI = 3.6-50.0, p = 4.00×10-6). We confirmed this enrichment using GATK-gCNV. The majority of these rare de novo CNVs in persons with OCD are predicted to be pathogenic or likely pathogenic, and an examination of genes disrupted by rare de novo CNVs in persons with OCD finds enrichment of several Gene Ontology sets. This study shows for the first time an enrichment of rare de novo CNVs detected by WES in OCD, complementing previous, larger CNV studies and providing additional insight into genetic factors underlying OCD risk.

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