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Teorias da Conspiração: O Elo Sombrio Entre Rancor e Negação da Ciência

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 19 de mar.
  • 5 min de leitura

Teorias da conspiração são explicações alternativas para eventos importantes que rejeitam as versões amplamente aceitas e baseadas em evidências.  Essas teorias são um fenômeno complexo com raízes profundas na psicologia humana. Além da busca por explicações, segurança e pertencimento, o despeito pode ser um fator importante que leva as pessoas a rejeitarem a ciência e adotarem crenças conspiratórias. Compreender essas motivações é essencial para desenvolver estratégias que combatam a desinformação e promovam uma sociedade mais informada e resiliente.


Teorias da conspiração são explicações alternativas para eventos importantes que rejeitam as versões amplamente aceitas e baseadas em evidências. 


Em vez disso, essas teorias frequentemente sugerem que há grupos secretos e poderosos manipulando os acontecimentos para benefício próprio. Muitas vezes, essas explicações são ilógicas, exageradas ou até mesmo fantasiosas, mas ainda assim encontram seguidores fiéis.


Um dos aspectos centrais de muitas teorias da conspiração é a negação da ciência. Isso inclui rejeitar descobertas científicas bem estabelecidas, como a influência humana sobre as mudanças climáticas, a eficácia das vacinas e a credibilidade de especialistas em diversas áreas. 

Estudos mostram que há uma ligação forte entre a tendência de acreditar em teorias da conspiração e o negacionismo científico. Ou seja, pessoas que adotam crenças conspiratórias frequentemente desconfiam de pesquisas científicas e da comunidade acadêmica.


Mas por que isso acontece? Uma das razões é que a ciência muitas vezes contraria intuições e emoções. Descobertas científicas nem sempre são fáceis de compreender e podem parecer distantes da realidade do dia a dia. Por exemplo, é difícil para muitas pessoas visualizarem como bilhões de toneladas de gases invisíveis podem afetar o clima global, ou acreditar em algo que é invisivel como as celulas, DNA, genes, virus, etc. 


Da mesma forma, algumas descobertas contradizem crenças pessoais ou culturais profundamente enraizadas, tornando-as desconfortáveis ou difíceis de aceitar.


Para evitar lidar com essas informações desconfortáveis, algumas pessoas preferem acreditar que os cientistas fazem parte de uma conspiração para enganar a população.

Pesquisadores identificaram três principais razões que levam as pessoas a acreditar em teorias da conspiração:


  1. Motivos epistêmicos (necessidade de explicação): As pessoas querem entender o mundo ao seu redor e sentir que têm controle sobre o que acontece. Quando um evento parece confuso ou assustador, como uma pandemia ou uma crise econômica, algumas pessoas preferem uma explicação que pareça oferecer um sentido claro, mesmo que seja incorreta.


  2. Motivos existenciais (necessidade de segurança e controle): Algumas pessoas recorrem a teorias da conspiração para lidar com a incerteza e o medo. Por exemplo, durante a pandemia de COVID-19, muitas pessoas rejeitaram informações científicas sobre o vírus porque isso as fazia sentir vulneráveis.


  3. Motivos sociais (necessidade de pertencimento e status): Acreditar em teorias da conspiração pode fazer com que alguém se sinta especial ou mais inteligente do que os outros. Isso cria um senso de identidade e pertencimento a um grupo que "sabe a verdade" enquanto os demais estariam sendo enganados.


Em três estudos pré-registrados, pesquisadores da Staffordshire University, UK, testaram a hipótese de que preditores estabelecidos dessas crenças (motivos epistêmicos, existenciais e sociais) são pistas específicas de desvantagem competitiva que provocam uma resposta psicológica comum facultativa "rancorosa", tornando uma pessoa mais aberta a acreditar em teorias da conspiração. 

O Estudo 1 com 301 participantes (amostra prolífica representativa do Reino Unido) descobriu que  o despeito mediou a relação entre ameaça realista e narcisismo dentro do grupo (motivos sociais), impotência política (motivo existencial) e intolerância à incerteza (motivo epistêmico) e crença na teoria da conspiração e conspirações da COVID-19. 


Esse padrão foi replicado no Estudo 2 com 405 participantes em UK. No Estudo 3 com 405 participantes, descobriram que aqueles que se envolveram em uma tarefa indutora de despeito relataram níveis mais altos de despeito, o que indiretamente resultou em crenças mais fortes em teorias da conspiração.


Esses três fatores são universais e estão presentes em diferentes culturas e sociedades. No entanto, uma nova hipótese sugere que há um outro fator por trás dessas crenças: o despeito.

O despeito é um sentimento que surge quando alguém se sente prejudicado ou injustiçado e, em resposta, deseja prejudicar os outros, mesmo que isso também o afete negativamente. Em outras palavras, é o desejo de "nivelar o campo de jogo" atacando aqueles que são percebidos como mais poderosos.


Pesquisadores sugerem que as teorias da conspiração podem ser uma forma de despeito em ação. Quando uma pessoa sente que foi prejudicada por governos, instituições ou elites acadêmicas, pode desenvolver uma atitude de oposição e rejeitar qualquer informação que venha dessas fontes.


Isso explicaria por que algumas pessoas desconfiam tanto da ciência e dos especialistas.


Por exemplo, alguém que perdeu um emprego durante uma crise econômica pode se ressentir do governo e das grandes corporações. Em vez de aceitar explicações baseadas em dados, essa pessoa pode preferir acreditar que há uma conspiração global para manter as pessoas pobres e controladas.


O despeito alimenta essa crença porque fornece um inimigo claro para culpar e um senso de justiça por meio da rejeição do sistema. 

Embora acreditar em teorias da conspiração possa proporcionar um alívio momentâneo para a incerteza e o medo, essas crenças podem ter consequências negativas tanto para os indivíduos quanto para a sociedade como um todo.


Algumas das principais consequências incluem:


  • Desconfiança generalizada – Pessoas que acreditam em conspirações muitas vezes deixam de confiar em instituições importantes, como a ciência, a medicina e a imprensa. Isso pode levar à recusa de vacinas, ao consumo de informações falsas e à resistência a políticas públicas importantes.


  • Polarização social – Teorias da conspiração frequentemente criam divisões entre grupos, pois promovem a ideia de que há um "nós contra eles". Isso pode dificultar o diálogo e aumentar os conflitos dentro da sociedade.


  • Comportamentos prejudiciais – A crença em conspirações pode levar a decisões perigosas, como evitar tratamentos médicos eficazes, adotar dietas extremas ou até participar de atos violentos baseados em teorias falsas. 

Para reduzir o impacto das teorias da conspiração, é fundamental abordar as causas subjacentes dessas crenças.


Em vez de simplesmente tentar corrigir informações erradas, estratégias mais eficazes incluem: uma educação científica acessível, a redução da desigualdade e da insegurança social, a promoção do pensamento crítico e o diálogo aberto e empático, em vez de ridicularizar quem acredita em conspirações, abordar essas pessoas com empatia e oferecer informações confiáveis pode ser mais eficaz para mudar sua perspectiva.


As teorias da conspiração são um fenômeno complexo com raízes profundas na psicologia humana. Além da busca por explicações, segurança e pertencimento, o despeito pode ser um fator importante que leva as pessoas a rejeitarem a ciência e adotarem crenças conspiratórias.


Compreender essas motivações é essencial para desenvolver estratégias que combatam a desinformação e promovam uma sociedade mais informada e resiliente.



LEIA MAIS:


Spite and Science-Denial: Exploring the Role of Spitefulness in Conspiracy Ideation and COVID-19 Conspiracy Beliefs

David S. Gordon and Megan E. Birney

Journal of Social Issues. Volume 81, Issue1. March 2025 e12662


Abstract: 


Science denialism is at the heart of many conspiracy theory beliefs. We propose that such beliefs are manifestations of a distal social process: spite. In three pre-registered studies, we test the hypothesis that established predictors of these beliefs (epistemic, existential, and social motives) are specific cues of competitive disadvantage that provoke a common facultative “spiteful” psychological response, making a person more open to believing in conspiracy theories. Study 1 (N = 301; UK representative Prolific sample), found that spite mediated the relationship between realistic threat and in-group narcissism (social motives), political powerlessness (existential motive), and intolerance for uncertainty (epistemic motive), and conspiracy theory belief and COVID-19 conspiracies. This pattern was replicated in Study 2 (N = 405; UK representative Prolific sample). In Study 3 (N = 405; UK representative Prolific sample), we found that those who engaged in a spite-inducing task reported higher levels of spite which indirectly resulted in stronger beliefs in conspiracy theories. The overall pattern of results provides initial evidence that spite may play a role in why people engage with false information. Research and policy implications of these findings are discussed.

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