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Sucos de Detox Fazem Bem? Estudo Revela Conexão Preocupante com Inflamação e Declínio cognitivo


O consumo de sucos pode afetar negativamente a microbiota, especialmente a oral, ao alterar o equilíbrio bacteriano e favorecer o crescimento de microorganismos relacionados a inflamações. Isso sugere que, embora os sucos possam ser uma maneira conveniente de aumentar a ingestão de nutrientes, seu consumo excessivo, especialmente em dietas exclusivamente líquidas, pode ter impactos negativos na saúde.


Nas últimas décadas, o número de pessoas com doenças crônicas, como diabetes, doenças cardíacas e certos tipos de câncer, tem aumentado em todo o mundo. Esse crescimento está fortemente ligado ao estilo de vida moderno, especialmente à alimentação. 


Em países industrializados, a dieta típica costuma ser rica em açúcar, gorduras e alimentos ultraprocessados, mas pobre em fibras e nutrientes essenciais. Isso tem levado cientistas a estudarem com mais profundidade como os hábitos alimentares influenciam o desenvolvimento dessas doenças.


Estudos científicos mostraram que o consumo inadequado de três elementos essenciais da dieta,  grãos integrais, frutas e um equilíbrio adequado de sódio, pode ser responsável por mais da metade das mortes relacionadas à alimentação e por dois terços das perdas de qualidade de vida causadas por doenças crônicas.  

Esses achados foram essenciais para a criação de diretrizes nutricionais globais que incentivam o consumo de uma dieta equilibrada, rica em alimentos naturais e integrais.


Entre os alimentos mais recomendados estão frutas e vegetais, que oferecem diversos benefícios à saúde. Eles têm baixo impacto nos níveis de açúcar no sangue, promovem maior saciedade e ajudam na manutenção do peso.


Além disso, são fontes de compostos chamados polifenóis, que podem melhorar a sensibilidade do organismo à insulina e influenciar o funcionamento das células de gordura. 


Quando consumidos, esses polifenóis são processados pelo intestino e interagem com as bactérias presentes ali, trazendo efeitos positivos para a imunidade e reduzindo inflamações. 


As fibras presentes nas frutas e vegetais também desempenham um papel fundamental: além de ajudar na digestão, servem de alimento para as bactérias intestinais, promovendo a produção de substâncias benéficas para o metabolismo e a imunidade.


Diante desses benefícios, especialistas recomendam que adultos consumam pelo menos 1,5 a 2 xícaras de frutas e 2 a 3 xícaras de vegetais por dia. No entanto, muitas pessoas encontram dificuldades para atingir essa meta. Por isso, alternativas como sucos naturais vêm ganhando popularidade.  

Além disso, práticas conhecidas como “limpeza com sucos” ou “jejuns de suco”, nas quais a pessoa consome apenas sucos de frutas e vegetais por alguns dias, têm atraído cada vez mais adeptos, que buscam benefícios como desintoxicação, perda de peso e melhora da digestão. 


Relatórios recentes mostram que cerca de 26% dos consumidores já experimentaram essas dietas, impulsionando o crescimento do mercado de sucos.


Estudos indicam que sucos podem fornecer vitaminas e antioxidantes importantes, como betacaroteno, vitamina C e vitamina E. Algumas pesquisas também sugerem que o consumo regular de sucos 100% naturais pode ter efeitos positivos sobre a saúde do coração, como redução da pressão arterial e melhora nos níveis de colesterol. 


No entanto, o processo de extração do suco pode eliminar fibras essenciais e modificar a forma como os nutrientes são absorvidos pelo corpo, impactando o equilíbrio da microbiota intestinal, o conjunto de bactérias benéficas presentes no intestino. 


A vitamina C é uma substância sensível ao oxigênio, luz e calor, então, sim, ela começa a se degradar após o suco ser extraído. Em temperatura ambiente, um suco de laranja pode perder cerca de 30% a 50% da vitamina C em 12 a 24 horas.


As vitaminas do complexo B (como B1 - tiamina) também são sensíveis ao oxigênio, mas duram um pouco mais que a vitamina C. Vitamina A e E são mais estáveis, já que são lipossolúveis (dissolvidas em gordura), e sua degradação ocorre mais lentamente. Os Polifenóis e antioxidantes podem oxidar, mas alguns permanecem ativos por várias horas ou até dias. 

Enquanto há muitos estudos sobre o efeito das frutas e vegetais inteiros na microbiota, poucos analisaram como o consumo de suco afeta diretamente essas bactérias.


Outro ponto pouco estudado é o impacto dos sucos na microbiota da boca. Embora a maioria das pesquisas sobre o microbioma se concentre no intestino, a cavidade oral é a primeira a entrar em contato com os alimentos e bebidas consumidos. 


Existe uma forte conexão entre as bactérias da boca e do intestino, e já se sabe que alterações na microbiota oral podem estar ligadas a doenças inflamatórias, problemas cardiovasculares, resistência à insulina e até distúrbios neurológicos, como Alzheimer. Algumas bactérias presentes na boca também podem contribuir para o desenvolvimento de doenças autoimunes e metabólicas. 


Na doença periodontal, foi relatado que espécies de Porphyromonas induzem a ativação do sistema imunológico inato, contribuindo para o desenvolvimento de artrite reumatoide, doença celíaca, doença de Alzheimer, doença de Crohn e doença cardiometabólica.


Para entender melhor como o consumo de sucos afeta tanto a microbiota intestinal quanto a oral, pesquisadores conduziram um estudo de intervenção alimentar. Durante três semanas, 14 participantes seguiram uma das três dietas:


  1. Apenas sucos naturais

  2. Uma combinação de sucos com alimentos sólidos

  3. Uma dieta baseada exclusivamente em vegetais e alimentos integrais


Os pesquisadores coletaram amostras de saliva, swabs da parte interna da bochecha e fezes dos participantes antes, durante e depois da intervenção. As amostras foram analisadas geneticamente para identificar quais bactérias estavam presentes e como sua composição mudava ao longo do estudo. 

Os resultados mostraram que o microbioma da saliva sofreu mudanças significativas já na fase inicial do estudo, quando os participantes passaram por uma dieta de eliminação alimentar antes da intervenção. 


O número de bactérias da família Firmicutes, normalmente associadas a uma microbiota equilibrada, diminuiu, enquanto a quantidade de Proteobacteria, um grupo ligado a processos inflamatórios, aumentou.


Após o consumo das dietas baseadas em sucos, houve novas alterações na microbiota oral e na mucosa da bochecha. Especificamente, observou-se um aumento na presença de bactérias pró-inflamatórias, possivelmente devido à alta ingestão de açúcares e à baixa ingestão de fibras, características dos sucos.


Já no intestino, os pesquisadores não encontraram mudanças significativas na composição geral da microbiota. No entanto, foi detectado um aumento de bactérias associadas a processos inflamatórios e à permeabilidade intestinal, um fator que pode estar ligado a problemas digestivos, inflamações crônicas e até declínio cognitivo. 

Com base nesses achados, os cientistas concluíram que o consumo de sucos pode afetar negativamente a microbiota, especialmente a oral, ao alterar o equilíbrio bacteriano e favorecer o crescimento de microorganismos relacionados a inflamações. 


Isso sugere que, embora os sucos possam ser uma maneira conveniente de aumentar a ingestão de nutrientes, seu consumo excessivo, especialmente em dietas exclusivamente líquidas, pode ter impactos negativos na saúde.


Esses resultados são importantes para refinar recomendações nutricionais e orientar escolhas alimentares mais saudáveis. Além disso, o estudo destaca a necessidade de mais pesquisas para entender melhor como diferentes formas de processamento dos alimentos afetam a interação entre dieta, microbiota e saúde humana.



LEIA MAIS:


Effects of Vegetable and Fruit Juicing on Gut and Oral Microbiome Composition

Maria Luisa Savo Sardaro, Veronika Grote, Jennifer Baik, Marco Atallah, Katherine Ryan Amato and Melinda Ring

Nutrients, 2025, 17 (3), 458;

DOI: 10.3390/nu17030458


Abstract:


Background: In recent years, juicing has often been promoted as a convenient way to increase fruit and vegetable intake, with juice-only diets marketed for digestive cleansing and overall health improvement. However, juicing removes most insoluble fiber, which may diminish the health benefits of whole fruits and vegetables. Lower fiber intake can alter the microbiota, affecting metabolism, immunity, and mental health, though little is known about juicing’s specific effects on the microbiota. This study addresses this gap by exploring how juicing impacts gut and oral microbiome composition in an intervention study. Methods: Fourteen participants followed one of three diets—exclusive juice, juice plus food, or plant-based food—for three days. Microbiota samples (stool, saliva, and inner cheek swabs) were collected at baseline, after a pre-intervention elimination diet, immediately after juice intervention, and 14 days after intervention. Moreover, 16S rRNA gene amplicon sequencing was used to analyze microbiota taxonomic composition. Results: The saliva microbiome differed significantly in response to the elimination diet (unweighted UniFrac: F = 1.72, R = 0.06, p < 0.005; weighted UniFrac: F = 7.62, R = 0.23, p-value = 0.0025) with a significant reduction in Firmicutes (p = 0.004) and a significant increase in Proteobacteria (p = 0.005). The juice intervention diets were also associated with changes in the saliva and cheek microbiota, particularly in the relative abundances of pro-inflammatory bacterial families, potentially due to the high sugar and low fiber intake of the juice-related products. Although no significant shifts in overall gut microbiota composition were observed, with either the elimination diet or the juice intervention diets, bacterial taxa associated with gut permeability, inflammation, and cognitive decline increased in relative abundance. Conclusions: These findings suggest that short-term juice consumption may negatively affect the microbiota.


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