Resumo:
Uma meta-análise abrangente envolvendo mais de 600.000 participantes revelou que vivenciar a solidão aumenta significativamente o risco de desenvolver demência em 31%. Os pesquisadores identificaram a solidão como um importante fator contribuinte para o declínio cognitivo, desempenhando um papel crítico no início de condições como a doença de Alzheimer, independentemente da idade ou sexo.
Demência é um termo clínico usado para descrever uma série de sintomas que afetam negativamente a memória, o pensamento, o comportamento e a capacidade de realizar atividades cotidianas.
Ela não é uma doença específica, mas um conjunto de sinais que podem ser causados por diferentes condições que afetam o cérebro. A demência geralmente se agrava com o tempo e interfere gravemente nas funções diárias do indivíduo.
Existem varios tipos de demencia entre eles destacamos:
Doença de Alzheimer é o tipo mais comum, responsável por cerca de 60-80% dos casos. Ela afeta a memória, o pensamento e o comportamento, progredindo gradualmente.
Também temos a Demência vascular que é causada por problemas no fluxo sanguíneo cerebral, como derrames ou lesões nos vasos sanguíneos.
A Demência com corpos de Lewy, caracterizada pela presença de depósitos anormais de proteínas no cérebro, provoca sintomas de cognição, sono e movimentos.
A Demência frontotemporal que afeta os lobos frontal e temporal do cérebro, levando a alterações de comportamento, linguagem e personalidade.
Por fim, Demência mista, que é uma combinação de dois ou mais tipos de demência, geralmente Alzheimer e demência vascular.
Sintomas de demência incluem a perda de memória (particularmente de curto prazo), confusão e desorientação no tempo e espaço, dificuldade de comunicação (palavras ou compreensão), mudanças de humor e personalidade, dificuldades com planejamento e resolução de problemas, perda de habilidades motoras e coordenação, e problemas com a execução de tarefas cotidianas
Demência afeta cerca de 55 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo que 10 milhões de novos casos são diagnosticados a cada ano. Com o envelhecimento global da população, espera-se que esses números aumentem consideravelmente nas próximas décadas.
Embora não exista cura para a maioria dos tipos de demência, os tratamentos se concentram no manejo dos sintomas e na desaceleração da progressão da doença. Eles incluem:
Medicação: Fármacos como os inibidores da colinesterase (para Alzheimer) podem melhorar temporariamente os sintomas cognitivos.
Terapias não medicamentosas: Intervenções cognitivas, suporte psicossocial e modificações no estilo de vida (exercícios físicos, dieta saudável) ajudam a manter a qualidade de vida.
Suporte especializado: Cuidados a longo prazo e suporte a familiares são fundamentais, principalmente nas fases mais avançadas.
A solidão tem sido fortemente associada a um risco aumentado de demência. Acredita-se que a solidão crônica, especialmente em idosos, contribua para o declínio cognitivo por meio de vários mecanismos, como estresse crônico, inflamação e alterações no volume cerebral.
Além disso, a falta de interação social e estímulos cognitivos pode acelerar a deterioração das funções mentais.
Para provar essa hipotese, uma nova pesquisa liderada pelo corpo docente da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual da Flórida quantificou a associação entre solidão e demência analisando dados de mais de 600.000 pessoas ao redor do mundo — o maior estudo desse tipo.
A meta-análise de 21 estudos longitudinais mostrou que experimentar sentimentos de solidão aumentou o risco de desenvolver demência em 31%. A pesquisa foi publicada na Nature Mental Health.
"Esses resultados não são surpreendentes, dadas as evidências crescentes que ligam a solidão à saúde precária", disse a professora assistente Martina Luchetti, que liderou o estudo.
A análise revelou que a solidão é um grande fator de risco para comprometimento cognitivo, independente de idade ou sexo. Também vinculou a solidão a causas específicas de demência, como a doença de Alzheimer, e comprometimentos cognitivos que podem ocorrer antes de um diagnóstico.
O trabalho da equipe foi estimulado pela Organização Mundial da Saúde e pelo Cirurgião Geral dos EUA, que declararam a solidão uma crise de saúde pública após a pandemia da COVID-19 e suas restrições sociais associadas.
“Houve muito interesse nas consequências da solidão para a saúde, é importante entender por que e em quais circunstâncias ela aumenta o risco de demência tardia”, disse Luchetti.
Embora os dados do estudo incluíssem indivíduos de todo o mundo, a maioria deles foi coletada de pessoas em culturas mais ricas do Hemisfério Ocidental. Pesquisas futuras devem incorporar mais dados de outros países. Cientistas já sabem que há casos crescentes de demência em países de baixa renda.
Mesmo quando fatores como depressão, isolamento social e outros riscos conhecidos para demência foram levados em consideração, a relação entre solidão e declínio cognitivo continuou forte.
Isso sugere que a solidão por si só é um fator importante no desenvolvimento de demência, independentemente de outras condições de saúde.
No entanto, os estudos analisados apresentaram grande variação, principalmente porque usaram diferentes maneiras de medir a solidão e avaliar o estado mental das pessoas.
Esses resultados destacam a necessidade de investigar melhor como tipos específicos de solidão afetam o cérebro e como os sintomas cognitivos se manifestam.
Promover a interação social e combater a solidão pode, portanto, ser uma estratégia importante para reduzir o risco de demência. Isso ajudaria a criar estratégias mais eficazes para reduzir a solidão e, com isso, diminuir o risco de demência.
LEIA MAIS:
A meta-analysis of loneliness and risk of dementia using longitudinal data from >600,000 individuals.
Luchetti M, Aschwanden D, Sesker AA, et al.
Nat. Mental Health (2024).
Abstract:
Loneliness is one critical risk factor for cognitive health. Here we combined data from ongoing aging studies and the published literature and provide the largest meta-analysis on the association between loneliness and dementia (k = 21 samples, N = 608,561) and cognitive impairment (k = 16, N = 103,387). Loneliness increased the risk for all-cause dementia (hazard ratio (HR) 1.306, 95% confidence interval (CI) 1.197–1.426), Alzheimer’s disease (HR 1.393, 95% CI 1.290–1.504; k = 5), vascular dementia (HR 1.735, 95% CI 1.483–2.029; k = 3) and cognitive impairment (HR 1.150, 95% CI 1.113–1.189). The associations persisted when models controlled for depression, social isolation and/or other modifiable risk factors for dementia. The large heterogeneity across studies was partly due to differences in loneliness measures and ascertainment of cognitive status. The results underscore the importance to further examine the type or sources of loneliness and cognitive symptoms to develop effective interventions that reduce the risk of dementia.
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