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Semaglutida: O Remédio para Diabetes que Pode Reduzir o Consumo de Álcool


Esses resultados são promissores, mas ainda não são definitivos. Eles sugerem que a semaglutida pode ajudar a reduzir o desejo por álcool e a quantidade ingerida, mesmo sem exigir abstinência total, o que pode ser uma alternativa viável para muitas pessoas que têm dificuldades em parar completamente de beber.


O consumo de álcool é uma das principais causas evitáveis de doenças e mortes no mundo, sendo responsável por cerca de 4% a 5% da carga global de doenças e aproximadamente 2,6 milhões de mortes por ano. O álcool está ligado a mais de 200 problemas de saúde, incluindo doenças do coração, câncer e problemas no fígado. 


Desde 2020, a quantidade de pessoas com doenças hepáticas causadas pelo álcool aumentou, o que contribuiu para um crescimento de 29% nas mortes relacionadas ao álcool nos Estados Unidos desde 2016-2017. Atualmente, estima-se que o álcool cause cerca de 178.000 mortes anuais nos EUA, e as previsões indicam que esse número pode continuar subindo.

Nos Estados Unidos, aproximadamente 29% dos adultos já atenderam aos critérios de diagnóstico de transtorno por uso de álcool (TUA) em algum momento da vida, e 11% tiveram o transtorno no último ano. No entanto, menos de 10% dessas pessoas buscam tratamento e menos de 2% recebem medicamentos para ajudar na redução do consumo. 


Esse problema é considerado uma das maiores falhas no sistema de saúde, já que existem medicamentos que poderiam ajudar, mas são pouco conhecidos, têm poucas opções aprovadas pelo FDA (agência reguladora dos EUA) e ainda enfrentam barreiras ligadas ao estigma do alcoolismo. 


O que muitos não sabem é que mesmo reduzir a quantidade de álcool consumida, sem precisar parar completamente, já traz benefícios para a saúde. Por isso, encontrar medicamentos que ajudem nessa redução e sejam amplamente aceitos pela comunidade médica é uma necessidade urgente.


Uma classe de medicamentos chamada agonistas do receptor do peptídeo semelhante ao glucagon 1 (GLP-1RAs) tem mostrado potencial para ajudar nesse processo. Esses medicamentos foram desenvolvidos inicialmente para tratar diabetes e obesidade e mostraram resultados muito eficazes.  

Um dos mais promissores é a semaglutida, que foi aprovada nos EUA para diabetes em 2017 e para obesidade em 2021. Nos últimos anos, algumas pessoas em tratamento com semaglutida relataram uma redução no desejo e no consumo de álcool, o que chamou a atenção dos cientistas. 


Estudos em animais já haviam mostrado que essa classe de medicamentos pode diminuir o interesse pelo álcool e reduzir sua capacidade de gerar prazer no cérebro, sugerindo que eles poderiam ser úteis no tratamento do transtorno por uso de álcool. 


Embora ainda não existam estudos clínicos definitivos em humanos, já há relatos de que a semaglutida tem sido prescrita de forma experimental para esse fim, reforçando a necessidade de testes científicos mais aprofundados.


Para investigar esse possível efeito da semaglutida sobre o consumo de álcool, pesquisadores da University of Southern California, USA, realizaram um ensaio clínico de fase 2 (uma etapa intermediária nos testes de novos tratamentos). 

O estudo foi realizado nos EUA entre setembro de 2022 e fevereiro de 2024 e envolveu 48 participantes (14 homens e 34 mulheres), com idade media de 39 anos e diagnosticados com transtorno por uso de álcool que não estavam buscando tratamento. 


Os participantes foram divididos aleatoriamente em dois grupos: um recebeu doses progressivas de semaglutida (começando com 0,25 mg por semana e aumentando para 1 mg na última semana), enquanto o outro grupo recebeu um placebo (uma substância sem efeito).


Os cientistas analisaram como os participantes consumiam álcool antes e depois do tratamento. O principal objetivo era medir a quantidade de álcool ingerida em um teste de laboratório, onde os participantes podiam beber livremente. Além disso, os pesquisadores acompanharam mudanças no consumo de álcool no dia a dia e no desejo por bebida ao longo das nove semanas do estudo.


Os resultados mostraram que a semaglutida reduziu significativamente a quantidade de álcool consumida no teste de laboratório. Os participantes que tomaram o medicamento beberam menos e tiveram uma concentração menor de álcool no hálito em comparação com os que tomaram placebo.  

Resultados encontrados  em adultos com transtorno de uso de álcool que receberam Semaglutida ou placebo uma vez por semana num período de 8 semanas. 


No entanto, quando analisaram o consumo diário médio de álcool ao longo do estudo, os pesquisadores não encontraram diferenças significativas entre os dois grupos. Ainda assim, a semaglutida ajudou a reduzir o número de doses ingeridas nos dias em que os participantes bebiam e também diminuiu a vontade de beber. Além disso, o medicamento pareceu ter um efeito indireto na redução do consumo excessivo de álcool ao longo do tempo.


Curiosamente, os pesquisadores também notaram que a semaglutida ajudou a reduzir o número de cigarros fumados em uma subamostra de participantes que eram fumantes. Esse achado sugere que o medicamento pode ter um efeito mais amplo sobre os mecanismos cerebrais envolvidos na compulsão e no desejo por substâncias.


Esses resultados são promissores, mas ainda não são definitivos. Eles sugerem que a semaglutida pode ajudar a reduzir o desejo por álcool e a quantidade ingerida, mesmo sem exigir abstinência total, o que pode ser uma alternativa viável para muitas pessoas que têm dificuldades em parar completamente de beber. 


No entanto, para confirmar esses efeitos e entender melhor o impacto do medicamento no tratamento do transtorno por uso de álcool, são necessários estudos maiores e mais longos. Se os resultados forem positivos, os medicamentos da classe GLP-1RA podem se tornar uma nova opção no combate ao alcoolismo, ajudando milhares de pessoas a reduzirem o consumo de álcool e melhorarem sua saúde.



LEIA MAIS:


Once-Weekly Semaglutide in Adults With Alcohol Use Disorder

A Randomized Clinical Trial

Christian S. Hendershot, Michael P. Bremmer, Michael B. Paladino, Georgios Kostantinis, Thomas A. Gilmore, Neil R. Sullivan, Amanda C. Tow, Sarah S. Dermody, CPsych5; Mark A. Prince, Robyn Jordan, Sherry A. McKee, Paul J. Fletcher, Eric D. Claus,  and Klara R. Klein

JAMA Psychiatry. Published online February 12, 2025. 

doi:10.1001/jamapsychiatry.2024.4789


Abstract:


Preclinical, observational, and pharmacoepidemiology evidence indicates that glucagon-like peptide 1 receptor agonists (GLP-1RAs) may reduce alcohol intake. Randomized trials are needed to determine the clinical significance of these findings. To evaluate the effects of once-weekly subcutaneous semaglutide on alcohol consumption and craving in adults with alcohol use disorder (AUD). This was a phase 2, double-blind, randomized, parallel-arm trial involving 9 weeks of outpatient treatment. Enrollment occurred at an academic medical center in the US from September 2022 to February 2024. Of 504 potential participants assessed, 48 non–treatment-seeking participants with AUD were randomized. Participants received semaglutide (0.25 mg/week for 4 weeks, 0.5 mg/week for 4 weeks, and 1.0 mg for 1 week) or placebo at weekly clinic visits. The primary outcome was laboratory alcohol self-administration, measured at pretreatment and posttreatment (0.5 mg/week). Secondary and exploratory outcomes, including prospective changes in alcohol consumption and craving, were assessed at outpatient visits. Forty-eight participants (34 [71%] female; mean [SD] age, 39.9 [10.6] years) were randomized. Low-dose semaglutide reduced the amount of alcohol consumed during a posttreatment laboratory self-administration task, with evidence of medium to large effect sizes for grams of alcohol consumed (β, −0.48; 95% CI, −0.85 to −0.11; P = .01) and peak breath alcohol concentration (β, −0.46; 95% CI, −0.87 to −0.06; P = .03). Semaglutide treatment did not affect average drinks per calendar day or number of drinking days, but significantly reduced drinks per drinking day (β, −0.41; 95% CI, −0.73 to −0.09; P = .04) and weekly alcohol craving (β, −0.39; 95% CI, −0.73 to −0.06; P = .01), also predicting greater reductions in heavy drinking over time relative to placebo (β, 0.84; 95% CI, 0.71 to 0.99; P = .04). A significant treatment-by-time interaction indicated that semaglutide treatment predicted greater relative reductions in cigarettes per day in a subsample of individuals with current cigarette use (β, −0.10; 95% CI, −0.16 to −0.03; P = .005). These findings provide initial prospective evidence that low-dose semaglutide can reduce craving and some drinking outcomes, justifying larger clinical trials to evaluate GLP-1RAs for alcohol use disorder.




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