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Sedentarismo Inteligente: Quando Ficar Parado Beneficia o Cérebro


Esse estudo destaca a importância de enxergar o dia como um todo, considerando o impacto combinado de todas as atividades realizadas, para compreender melhor como nossos comportamentos influenciam a saúde física e mental, principalmente na população idosa. De maneira geral, os pesquisadores concluíram que, para promover a saúde cognitiva, é necessário considerar o tipo de comportamento sedentário, favorecendo atividades que estimulam o cérebro, como ler, em vez de comportamentos passivos, como assistir TV.


Essa pesquisa, realizada por cientistas da University of South Australia, aborda como diferentes atividades realizadas ao longo do dia podem influenciar a saúde do coração, do metabolismo e do cérebro. Essas atividades incluem exercícios físicos, comportamentos sedentários e sono, e o foco dos pesquisadores é entender como o equilíbrio entre elas afeta a saúde geral. 


Estudos anteriores analisaram o impacto individual de cada comportamento, mas agora o interesse está em compreender como a combinação dessas atividades ao longo das 24 horas do dia influencia a saúde.


Sobre a saúde cardiometabólica, diversos estudos apontam que gastar mais tempo em atividades físicas moderadas ou vigorosas (AFMV) e menos tempo em comportamentos sedentários está associado a melhores indicadores de saúde. 


Esses incluem melhorias no índice de massa corporal (IMC), redução da circunferência abdominal e níveis mais saudáveis de marcadores no sangue, como o aumento do colesterol HDL (o "bom") e a redução dos triglicerídeos.


Por exemplo, um estudo com mais de 15.000 adultos demonstrou que uma rotina com mais atividade física e menos comportamento sedentário está favoravelmente associada à saúde cardiovascular e ao controle da gordura corporal.

Em relação à saúde cognitiva, a evidência é menos conclusiva. Alguns estudos sugerem que atividades físicas mais intensas e a redução do tempo sedentário podem melhorar funções cognitivas, como memória e raciocínio. Entretanto, nem todos os comportamentos sedentários têm o mesmo impacto.


Comportamentos passivos, como assistir TV, podem ser prejudiciais, enquanto atividades sedentárias cognitivamente estimulantes, como ler ou jogar cartas, estão associadas a melhores resultados cognitivos. 


A ausência de evidências mais robustas pode ser atribuída à falta de estudos que analisem todas as atividades do dia juntas, considerando sua composição total.


Para aprofundar essa análise, os cientistas têm utilizado ferramentas como o Multimedia Activity Recall for Children and Adults (MARCA). Essa é uma ferramenta projetada para registrar as atividades realizadas por uma pessoa ao longo de um período de 24 horas. Ela é amplamente utilizada para capturar padrões de comportamento e sono, tanto em crianças quanto em adultos, com o objetivo de entender como as pessoas distribuem seu tempo em diferentes atividades e como isso impacta sua saúde física e mental. 


O MARCA funciona solicitando aos participantes que descrevam todas as atividades realizadas no dia anterior, divididas em blocos de tempo detalhados.


Cada atividade relatada é classificada com base em um compêndio que organiza essas atividades por intensidade (como sedentárias, leves, moderadas ou vigorosas, utilizando equivalentes metabólicos - METs) ou por domínio (como atividades domésticas, sociais, recreativas ou de tempo de tela).


Uma das principais vantagens do MARCA é sua capacidade de fornecer uma análise detalhada da distribuição do tempo, capturando tanto a intensidade quanto o contexto das atividades realizadas.

Um estudo específico explorou essa abordagem com 397 adultos entre 60 e 70 anos, sem problemas de saúde graves. Os participantes relataram suas atividades usando o MARCA, realizaram testes cognitivos como o Addenbrooke's Cognitive Examination III (ACE-III) e tiveram sua pressão arterial, colesterol e circunferência da cintura medidos. 


O ACE-III avalia cinco domínios principais: atenção e orientação, memória, fluência verbal, linguagem e habilidades visuoespaciais. Cada domínio contribui para uma pontuação total de 100 pontos. Por exemplo, o domínio de atenção e orientação mede a capacidade de focar e estar orientado no tempo e espaço, enquanto o domínio de memória avalia a capacidade de recordar informações recentes e passadas. 


Já a fluência verbal mede a habilidade de gerar palavras em categorias específicas, a linguagem inclui tarefas como compreensão de frases e nomeação de objetos, e as habilidades visuoespaciais avaliam a capacidade de interpretar e manipular informações visuais.


O ACE-III é administrado por profissionais treinados, como neurologistas ou psicólogos, e pode ser concluído em cerca de 15 a 20 minutos. Ele é uma ferramenta sensível para detectar demências precoces, como a Doença de Alzheimer, sendo amplamente utilizado em pesquisas e avaliações clínicas.


Embora seja eficaz em fornecer um perfil detalhado da cognição, suas pontuações podem ser influenciadas por fatores como escolaridade, idioma nativo e cultura, além de não substituir avaliações clínicas completas.

Em estudos como o ACTIVate, o ACE-III é utilizado para medir a função cognitiva de participantes saudáveis e identificar como diferentes estilos de vida e comportamentos podem estar associados à saúde cerebral.


Em combinação com o MARCA, essas ferramentas permitem explorar a relação entre os padrões de atividade diários e a cognição, oferecendo uma visão abrangente das interações entre estilo de vida e saúde mental.


Os resultados mostraram que os domínios dos comportamentos (como esportes ou leitura) impactaram positivamente a função cognitiva, enquanto qualquer tipo de atividade física foi suficiente para trazer benefícios à saúde cardiovascular.


De maneira geral, os pesquisadores concluíram que, para promover a saúde cognitiva, é necessário considerar o tipo de comportamento sedentário, favorecendo atividades que estimulam o cérebro, como ler, em vez de comportamentos passivos, como assistir TV. 

Para a saúde cardiometabólica, qualquer tipo de atividade física parece ser benéfica. No entanto, ainda há lacunas no conhecimento sobre como o equilíbrio dessas atividades ao longo do dia afeta a saúde de adultos mais velhos, especialmente considerando características individuais, como idade, condições socioeconômicas e predisposição genética.


Esse estudo destaca a importância de enxergar o dia como um todo, considerando o impacto combinado de todas as atividades realizadas, para compreender melhor como nossos comportamentos influenciam a saúde física e mental, principalmente na população idosa. 


O uso de ferramentas como o MARCA permite aos pesquisadores explorar essas relações de forma mais detalhada, trazendo novos insights sobre como adaptar o estilo de vida para melhorar a saúde geral.



LEIA MAIS:


Should We Work Smarter or Harder for Our Health? A Comparison of Intensity and Domain-Based Time-Use Compositions and Their Associations With Cognitive and Cardiometabolic Health

Maddison L Mellow, Dorothea Dumuid, Alexandra Wade, Timothy Olds, Ty Stanford, Hannah Keage, Montana Hunter, Nicholas Ware, Felicity M Simpson, Frini Karayanidis, and Ashleigh E Smith

The Journals of Gerontology, Series A, Volume 79, Issue 11, November 2024, glae233


Abstract:


Each day is made up of a composition of “time-use behaviors.” These can be classified by their intensity (eg, light or moderate–vigorous physical activity [PA]) or domain (eg, chores, socializing). Intensity-based time-use behaviors are linked with cognitive function and cardiometabolic health in older adults, but it is unknown whether these relationships differ depending on the domain (or type/context) of behavior. This study included 397 older adults (65.5 ± 3.0 years, 69% female, 16.0 ± 3.0 years education) from Adelaide and Newcastle, Australia. Time-use behaviors were recorded using the Multimedia Activity Recall for Children and Adults, cognitive function was measured using the Addenbrooke’s Cognitive Examination III and Cambridge Neuropsychological Test Automated Battery, and systolic and diastolic blood pressure, total cholesterol, and waist–hip ratio were also recorded. Two 24-hour time-use compositions were derived from each participant’s Multimedia Activity Recall for Children and Adults, including a 4-part intensity composition (sleep, sedentary behavior, light, and moderate–vigorous PA) and an 8-part domain composition (Sleep, Self-Care, Chores, Screen Time, Quiet Time, Household Administration, Sport/Exercise, and Social). Linear regressions found significant associations between the domain composition and both Addenbrooke’s Cognitive Examination III (p = .010) and waist–hip ratio (p = .009), and between the intensity composition and waist–hip ratio (p = .025). Isotemporal substitution modeling demonstrated that the domains of sedentary behaviors and PA impacted their associations with Addenbrooke’s Cognitive Examination III, while any PA appeared beneficial for waist–hip ratio. Findings suggest the domain of behavior should be considered when aiming to support cognitive function, whereas, for cardiometabolic health, it appears sufficient to promote any type of PA.

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