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Scroll Infinito: Como as Telas Roubam o Sono e Desencadeiam a Depressão em Adolescentes

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 14 de abr.
  • 6 min de leitura

Adolescentes estão usando telas (como celulares e computadores) muito mais do que o recomendado, o que pode atrapalhar o sono e aumentar o risco de depressão. O sono e a depressão estão ligados: dormir mal pode causar tristeza e problemas de humor. Muitos países sugerem que adolescentes usem telas por menos de 2 a 3 horas por dia, mas a maioria ultrapassa esse limite. O uso excessivo de telas pode atrasar o sono, piorar a qualidade de vida e influenciar a saúde mental, especialmente em meninas.


Durante a adolescência, problemas relacionados ao sono e à depressão são considerados questões sérias de saúde pública em diversos países. Um dos fatores que vem chamando a atenção nesse cenário é o uso excessivo de tecnologias com telas digitais, como celulares, tablets e computadores. 


Pesquisas mostram que tanto as dificuldades para dormir quanto os sintomas de depressão parecem estar ligados ao tempo que os adolescentes passam diante das telas. No entanto, estudos anteriores não conseguiram definir com clareza se existe uma relação de causa e efeito entre esses fatores, o que motivou novas pesquisas para entender melhor como o uso de telas, o sono e a depressão se influenciam, considerando também diferenças entre meninos e meninas. 


É importante saber que problemas de sono não são apenas sinais de depressão, mas também podem ser uma das suas causas. Quando falamos em depressão, é comum observar sintomas físicos, como cansaço, insônia e falta de apetite, junto com sintomas emocionais, como baixa autoestima e tristeza intensa. Avaliar esses aspectos é essencial em instrumentos clínicos, como o Inventário de Depressão de Beck-II, que foi usado neste estudo. 

No campo da saúde pública, surgiram recomendações internacionais para limitar o tempo de tela de crianças e adolescentes. Por exemplo, as Diretrizes Canadenses sugerem que o uso diário de mídias digitais não ultrapasse duas horas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) também recomenda um limite semelhante para jovens entre 5 e 17 anos. Países como Canadá e Austrália adotaram oficialmente esse limite de menos de duas horas diárias. 


No entanto, estudos mostram que a maioria dos adolescentes não cumpre essa meta, especialmente em países como a Austrália, onde cerca de 80% dos jovens de 16 anos ultrapassam esse tempo. 


Diante disso, surgiram iniciativas ainda mais rigorosas, como a proposta de uma lei na Austrália que proibiria menores de 16 anos de terem contas em redes sociais. Outros países, como França, Reino Unido e Índia, também estão discutindo políticas semelhantes. Ainda assim, é importante saber que essas recomendações de limite de tempo de tela são baseadas em estudos com evidências de qualidade considerada baixa. 


Mesmo assim, o consenso atual é de que, quanto menos tempo de tela, melhor para a saúde dos jovens. O tempo excessivo de tela foi relacionado, inclusive, a problemas como pior qualidade do sono e aumento dos sintomas de depressão.

Alguns países escandinavos tomaram medidas práticas, como a Noruega, que proibiu o uso de celulares em salas de aula do ensino fundamental. Já outros países, como Dinamarca e Suécia, têm monitorado o tempo de tela, mas sem implementar restrições tão severas.


Este estudo específico analisou 4.810 adolescentes suecos de 12 a 16 anos, moradores de Estocolmo. Observou-se que, em média, eles ultrapassavam em uma hora a recomendação de tempo de tela de menos de 3 horas diárias. 


A maioria relatou passar de 3 a 4 horas por dia usando telas para lazer, número medido antes da publicação das recomendações suecas. Vale destacar que o objetivo do estudo não foi avaliar se essas recomendações de saúde pública são boas ou realistas, mas sim investigar o quanto o uso excessivo de telas impacta o sono e o risco de depressão nessa faixa etária, tendo em mente que a maioria dos adolescentes não segue as recomendações atuais.


Durante a adolescência, é natural que o padrão de sono mude: os jovens tendem a dormir e acordar mais tarde. Esse comportamento é conhecido como cronótipo tardio e é comum até os 20 anos de idade. Esse ajuste biológico no sono pode ser intensificado por atividades sociais, tanto presenciais quanto online. 


No entanto, horários escolares rígidos continuam os mesmos, o que pode gerar o chamado “jetlag social”, um tipo de descompasso entre o sono do fim de semana e o necessário durante a semana. 


Nos dias de folga, sem a obrigação de acordar cedo, os adolescentes também tendem a usar mais tempo as telas. Determinar se o uso de telas causa problemas no sono ou na saúde mental, ou se esses problemas surgem por outros motivos relacionados, é um desafio para a pesquisa. 

Ainda assim, o uso prolongado de telas pode aumentar os sintomas de depressão de maneira direta, indireta ou em ambos os sentidos. Muitos estudos anteriores não foram desenhados para provar causa e efeito, e este estudo também não investigou a causalidade de maneira definitiva, embora tenha analisado a sequência temporal dos eventos.


Diversos estudos indicam que o tempo gasto em frente às telas pode afetar negativamente a saúde mental porque reduz o tempo dedicado a comportamentos saudáveis, como o sono. Esse fenômeno é chamado de “deslocamento tela-sono”, e pode ou não levar à depressão. 


A ideia de que atividades de tela atrapalham o sono existe desde pelo menos os anos 1980, época em que se discutiam limites para o tempo de televisão. O deslocamento do sono pode ocorrer de várias formas: por exemplo, se os adolescentes trocam horas de sono para ficar mais tempo no celular, se o conteúdo consumido é muito excitante ou estressante, ou ainda se a luz emitida pelas telas interfere na produção de melatonina, o hormônio que regula o sono. 


Nesses casos, o tempo de tela não prejudica diretamente o humor, mas o faz indiretamente, primeiro afetando o sono. Estudos mostram que, muitas vezes, o impacto negativo do tempo de tela sobre a depressão acontece porque o sono piora. 


Além disso, fatores como o gênero parecem influenciar essas relações: meninas são mais propensas a apresentar efeitos negativos relacionados ao tempo de tela e à depressão. Já para os meninos, o excesso de telas pode estar mais associado a sintomas de desatenção, impulsividade e transtornos comportamentais, como o TDAH.  

O tempo excessivo em telas também pode prejudicar outros aspectos da vida saudável, como a prática de exercícios físicos, a alimentação adequada e a qualidade das relações sociais, o que torna as relações entre tela, sono e saúde mental ainda mais complexas. 


Este estudo não tentou corrigir todas essas possíveis influências externas, mas selecionou uma grande amostra aleatória e representativa da população jovem de Estocolmo, o que dá alguma segurança de que os resultados refletem bem a realidade. Mesmo assim, há limitações, como o fato de que adolescentes que faltaram às aulas não foram incluídos na pesquisa.


Em setembro de 2024, a Suécia publicou suas primeiras diretrizes oficiais de saúde pública sobre o uso de mídias digitais por adolescentes. Essas recomendações estabelecem limites de tempo de tela para lazer (ou seja, atividades que não envolvem a escola), excluindo o tempo gasto ouvindo música ou podcasts. 


A Suécia, assim como outros países, sugere que os pais monitorem o uso de telas, especialmente para crianças mais novas. Uma das preocupações principais é melhorar a qualidade do sono dos adolescentes, motivo pelo qual é recomendado evitar telas perto da hora de dormir. Os limites indicados são de menos de 3 horas diárias para adolescentes de 13 a 18 anos, e de menos de 2 horas para crianças entre 6 e 12 anos.



LEIA MAIS:


Adolescents’ screen time displaces multiple sleep pathways and elevates depressive symptoms over twelve months

Sebastian Hökby, Jesper Alvarsson, Joakim Westerlund, Vladimir Carli and Gergö Hadlaczky,

PLOS Global Public Health. 2 April 2025

DOI: 10.1371/journal.pgph.0004262


Abstract:


Recently the Swedish Public Health Agency published recommendations of a maximum of two-to-three hours of daily leisure screen time for adolescents aged 13–18, partly to promote better sleep (2024-Sep-02). Biologically and socially, adolescence is characterized by belated sleep times, and depressive effects of screen time can arise through sleep displacements. Theorized links between screen time, sleep, and depression, merited examination of four sleep mediators to determine their relative importance and determine which of them mediate future depression. Hypotheses were preregistered. Three-wave psychometric health data were collected from healthy Swedish students (N = 4810; 51% Boys; ages 12–16; N = 55 schools; n = 20 of 26 Stockholm municipalities). Multiple imputation bias-corrected missing data. Gender-wise Structural Equation Modelling tested four sleep facets as competing mediators (quality, duration, chronotype, social jetlag). The primary model result included the three first mediators to achieve acceptable fit indices (RMSEA = 0.02; SRMR = 0.03; CFI = 0.95; TLI = 0.94). Screen time deteriorated sleep within three months and effect sizes varied between mediators (Beta weights ranged: 0.14–0.30) but less between genders. Among boys, screen time at baseline had a direct adverse effect on depression after twelve months (Beta = 0.02; p <0.038). Among girls, the depressive effect was mediated through sleep quality, duration, and chronotype (57, 38, 45% mediation). Social jetlag remained non-significant. This study supports a modernized ‘screen-sleep-displacement theory’. It empirically demonstrates that screen-sleep displacements impact several aspects of sleep simultaneously. Displacements led to elevated depressive symptoms among girls but not boys. Boys may be more prone to externalizing symptoms due to sleep loss. Results could mirror potentially beneficial public health effects of national screen time recommendations.

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