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Risco à Mesa: Carne Vermelha Processada Aumenta Risco de Demência


A maior ingestão de carne vermelha, particularmente carne vermelha processada, foi associada a um risco maior de desenvolver demência e pior cognição. A redução do consumo de carne vermelha pode ser incluída em diretrizes alimentares para promover a saúde cognitiva. Mais pesquisas são necessárias para avaliar a generalização dessas descobertas para populações com origens étnicas diversas.


Demência é um termo geral usado para descrever uma série de sintomas que afetam a memória, o pensamento e as habilidades sociais de forma grave o suficiente para interferir na vida diária.


Não é uma doença específica, mas um conjunto de sintomas causados por diversas doenças que afetam o cérebro, sendo a doença de Alzheimer a forma mais comum. 


Os sintomas da demência incluem perda de memória, dificuldade em comunicar e realizar tarefas diárias, alterações na personalidade, e confusão. O risco de demência aumenta com a idade, mas não é uma parte normal do envelhecimento.

Há uma crescente evidência de que a alimentação desempenha um papel importante na saúde cognitiva e no risco de desenvolver demência.


Dietas ricas em frutas, vegetais, grãos integrais, peixes e gorduras saudáveis, como a dieta mediterrânea, têm sido associadas a um menor risco de declínio cognitivo. 


Em contraste, uma dieta rica em alimentos ultraprocessados, açúcares, gorduras saturadas e carnes processadas pode aumentar o risco de doenças neurodegenerativas.


Nutrientes essenciais, como antioxidantes e ácidos graxos ômega-3, presentes em alimentos integrais, ajudam a proteger o cérebro de inflamações e danos oxidativos, fatores que contribuem para o desenvolvimento da demência.

A carne vermelha processada refere-se a carnes que foram modificadas através de métodos como defumação, cura, fermentação ou adição de conservantes para melhorar o sabor ou prolongar a validade.


Exemplos comuns de carne vermelha processada incluem, salsichas, bacon, presunto, salame, carne enlatada e carne seca (como charque, que é salgado e desidratado).


Esses produtos frequentemente contêm altos níveis de sódio, conservantes, e outros aditivos, que são fatores associados a impactos negativos à saúde, incluindo maior risco de doenças cardiovasculares e, como alguns estudos sugerem, demência.

Alimentos ultraprocessados são aqueles que passam por uma série de processos industriais e contêm ingredientes pouco usados em cozinhas domésticas, como corantes, aromatizantes, emulsificantes e outros aditivos para aumentar o sabor, a textura ou a durabilidade. 


Eles geralmente têm baixo valor nutricional e são ricos em açúcares, gorduras saturadas, e sódio. Exemplos de carnes ultraprocessadas incluem nuggets de frango, hambúrgueres, salsichas industriais e mortadela. 


Esses produtos, além de serem altamente processados, são geralmente menos saudáveis devido ao alto conteúdo de sal, gorduras trans e calorias vazias, e têm sido associados a uma variedade de problemas de saúde, incluindo obesidade, doenças cardíacas, diabetes tipo 2, e, potencialmente, maior risco de declínio cognitivo.

Em contraste, a carne não processada é aquela que é consumida em seu estado natural ou com mínimos processamentos, como cortes frescos de carne bovina, suína ou frango.


A carne ultraprocessada é frequentemente criticada por seu alto teor de sal, gorduras saturadas, e conservantes, que podem estar ligados a vários problemas de saúde.


Estudos anteriores sobre a relação entre a ingestão de carne vermelha e a saúde cognitiva apresentaram resultados variados. Um estudo recente, realizado por cientistas do Broad Institute of MIT and Harvard, buscou investigar a associação entre o consumo de carne vermelha e diferentes desfechos cognitivos. 


O objetivo era entender melhor se e como o consumo de carne vermelha, tanto processada quanto não processada, poderia afetar a cognição e o risco de desenvolver demência.


Este estudo prospectivo de coorte analisou dados de dois grandes estudos de coorte nos Estados Unidos: o Nurses' Health Study (NHS) e o Health Professionals Follow-Up Study (HPFS).


Os participantes, todos livres de demência no início do estudo, tiveram suas dietas avaliadas por meio de questionários semiquantitativos de frequência alimentar. O calculo para a quantidade diária de carne consumida era de:


  • 1 porção padrão = 50 gramas

  • 0,50 porção padrão = 25 gramas

  • 0,25 porção padrão = 12,5 gramas

  • 0,10 porção padrão = 5 gramas


A análise de demência contou com a participação de 133.771 indivíduos, dos quais 65,4% eram mulheres, com uma idade média inicial de 48,9 anos. Para a avaliação da função cognitiva objetiva, foram incluídas 17.458 mulheres com idade média de 74,3 anos no início do estudo.


Já a análise de declínio cognitivo subjetivo (SCD) abrangeu 43.966 participantes, sendo 77,1% mulheres, com idade média inicial de 77,9 anos.


Os casos de demência foram identificados ao longo de vários anos de acompanhamento, permitindo uma observação detalhada das mudanças cognitivas.


A função cognitiva foi avaliada por meio de entrevistas telefônicas para medir o status cognitivo de forma objetiva e através de relatos subjetivos dos próprios participantes sobre seu declínio cognitivo, proporcionando uma visão abrangente do impacto da dieta na saúde mental ao longo do tempo.


Os resultados indicaram que o consumo de carne vermelha processada ou ultraprocessada foi associado a um risco maior de demência e declínio cognitivo.


Participantes que consumiram 0,25 porções ou mais de carne vermelha processada por dia tinham um risco 13% maior de desenvolver demência e 14% maior de declínio cognitivo subjetivo em comparação com aqueles que consumiram menos de 0,10 porção por dia. 


Além disso, um maior consumo de carne vermelha processada foi associado a um envelhecimento cognitivo acelerado, afetando tanto a cognição global quanto a memória verbal.


Para a carne vermelha não processada, aqueles que consumiam uma porção ou mais por dia tinham um risco 16% maior de declínio cognitivo subjetivo em comparação com aqueles que consumiam menos de 0,50 porção por dia.

Uma das descobertas mais interessantes do estudo foi que substituir uma porção de carne vermelha processada por alimentos mais saudáveis, como nozes e leguminosas, estava associado a uma redução significativa no risco de demência e declínio cognitivo.


Especificamente, essa substituição foi associada a um risco 19% menor de demência e um envelhecimento cognitivo mais lento.


Este estudo sugere que o consumo de carne vermelha, especialmente a processada, pode estar associado a riscos maiores de demência e declínio cognitivo.


Como resultado, a redução no consumo de carne vermelha pode ser considerada nas diretrizes alimentares para promover a saúde cognitiva. No entanto, é importante ressaltar que mais pesquisas são necessárias para confirmar essas descobertas em populações diversas e entender plenamente os mecanismos subjacentes a essas associações.



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Long-Term Intake of Red Meat in Relation to Dementia Risk and Cognitive Function in US Adults

Yuhan Li, Yanping Li,  Xiao Gu, Yuxi Liu, Danyue Dong, Jae Hee Kang, Molin Wang, Heather Eliassen, Walter C. Willett, Meir J. Stampfer, and Dong Wang

Neurology, February 11, 2025 issue 104 (3)

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