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Quimioterapia e o Cérebro: Tratamento do Câncer de Mama Altera Redes Cerebrais

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 29 de abr.
  • 4 min de leitura

Um estudo acompanhou mulheres com câncer de mama e mostrou que a quimioterapia provoca mudanças nas conexões do cérebro, afetando áreas ligadas às emoções e à cognição. Essas alterações surgem logo no começo do tratamento e ficam ainda mais fortes com o tempo, o que ajuda a explicar as dificuldades de memória, atenção e raciocínio que muitas pacientes enfrentam. A pesquisa reforça a importância de cuidar da saúde mental durante e após o tratamento do câncer.


O tratamento do câncer de mama com quimioterapia é essencial para combater a doença, mas pode trazer efeitos colaterais que vão além do corpo, afetando também o funcionamento do cérebro. Um desses efeitos é o chamado "comprometimento cognitivo relacionado ao câncer" (DCCR), uma condição que pode prejudicar a memória, a atenção e a capacidade de pensar com clareza. 


Entender como essas alterações no cérebro se desenvolvem ao longo do tratamento é fundamental para melhorar a qualidade de vida dessas pacientes.

Este estudo teve como objetivo observar como a quimioterapia modifica as conexões cerebrais ao longo do tempo em mulheres com câncer de mama. 

O estudo acompanhou 55 mulheres diagnosticadas com câncer de mama que passaram por quimioterapia antes da cirurgia (um tratamento chamado quimioterapia neoadjuvante, ou QNA). As participantes fizeram exames de ressonância magnética funcional (fMRI) e avaliações clínicas em três momentos: 


  1. Antes de iniciar a quimioterapia (TP1)

  2. Após o primeiro ciclo de tratamento (TP2, cerca de 30 dias depois)

  3. Ao final da quimioterapia (TP3, cerca de 140 dias depois). 


Além disso, dois grupos de mulheres saudáveis, de idades semelhantes, também fizeram os mesmos testes, para que fosse possível comparar os resultados.

Conectomas


Os exames de imagem utilizados permitiram observar como diferentes regiões do cérebro se comunicam entre si, formando redes de conexões, conhecidas como conectomas.


Utilizando ferramentas da teoria dos grafos (uma forma de mapear redes e entender sua organização), os pesquisadores analisaram mudanças nessas redes cerebrais ao longo do tempo. Além disso, relacionaram essas alterações a testes emocionais e de desempenho cognitivo feitos pelas participantes.


Os resultados mostraram que, logo após o início da quimioterapia, o cérebro das pacientes passou a apresentar sinais de reorganização: houve aumento da eficiência global das redes de comunicação cerebral e diminuição do "caminho" que as informações precisam percorrer para se transmitir entre as regiões do cérebro, mudanças especialmente visíveis em áreas associadas às emoções e ao controle motor (como o sistema fronto-límbico e o córtex cerebelar). 

Essas alterações não só persistiram até o final do tratamento como também se intensificaram. As mudanças nos conectomas também se correlacionaram com a piora dos sintomas emocionais e cognitivos relatados pelas pacientes.


Importante destacar que, nos grupos de mulheres saudáveis, essas alterações não ocorreram, e no início do estudo, antes da quimioterapia, não havia diferenças entre os cérebros das pacientes e das mulheres saudáveis. Isso indica que as mudanças observadas realmente surgiram durante o  tratamento.


Em resumo, o estudo mostra que a quimioterapia neoadjuvante causa mudanças significativas nas conexões cerebrais de pacientes com câncer de mama, mudanças essas que continuam a evoluir ao longo do tratamento e que estão associadas às dificuldades cognitivas que muitas dessas mulheres enfrentam.


Esses achados ajudam a entender melhor os efeitos da quimioterapia no cérebro e reforçam a importância de buscar estratégias para proteger a saúde mental durante e após o tratamento.



LEIA MAIS:


Altered Brain Functional Networks in Patients With Breast Cancer After Different Cycles of Neoadjuvant Chemotherapy

Jing Yang, Yongchun Deng, Daihong Liu, Yixin Hu, Yu Tang, Xiaoyu Zhou, Yong Tan, Jing Zhang, Jiang Liu, Chengfang Wang, Xiaohua Zeng, Jiuquan Zhang

Journal of Magnetic Resonance Imaging. First published: 09 April 2025 


Abstract:


Cancer-related cognitive impairment (CRCI) impacts breast cancer (BC) patients' quality of life after chemotherapy. While recent studies have explored its neural correlates, single time-point designs cannot capture how these changes evolve over time. To investigate changes in the brain connectome of BC patients at several time points during neoadjuvant chemotherapy (NAC). 55 participants with BC underwent clinical assessments and fMRI at baseline (TP1), the first cycle of NAC (TP2, 30 days later), and the end (TP3, 140 days later). Two matched female healthy control (HCs, n = 20 and n = 18) groups received the same assessments. rs-fMRI (gradient-echo EPI) and 3D T1-weighted magnetization-prepared rapid gradient echo sequence at 3.0 T. Brain functional networks were analyzed using graph theory approaches. We analyzed changes in brain connectome metrics and explored the relationship between these changes and clinical scales (including emotion and cognitive test). Patients were divided into subgroups according to clinical classification, chemotherapy regimen, and menopausal status. Longitudinal analysis was performed at three time points for each subgroup. An independent sample t-test for patient-HC comparison at TP1. Analysis of variance and paired t-test for longitudinal changes. Regression analysis for relations between network measurements changes and clinical symptom scores changes. Significance was defined as p < 0.05. Post-NAC, BC patients showed increased global efficiency (TP2-TP1 = 0.087, TP3-TP1 = 0.078), decreased characteristic path length (TP2-TP1 = −0.413, TP3-TP1 = −0.312), and altered nodal centralities mainly in the frontal-limbic system and cerebellar cortex. These abnormalities expanded with chemotherapy progression significantly (TP2 vs. TP3). Topological parameters changes were also correlated with clinical scales changes significantly. No differences were found within or between HC groups (p = 0.490–0.989) or BC subgroups (p = 0.053–0.988) at TP1. NAC affects the brain functional connectome of BC patients at TP2, and these changes persist and further intensify at TP3.

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