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Resumo:
Essa nova pesquisa sugere que nossos cérebros priorizam ações com base em recompensas, não em hábitos, desafiando a ideia de que a tecnologia simplesmente "rouba" a atenção. Essa atenção orientada por recompensas ajuda a explicar por que a tecnologia digital é tão envolvente; ela explora nossa preferência natural por recompensas imediatas e valiosas. Entender como escolhemos ações no momento pode informar estudos futuros sobre planejamento de longo prazo, especialmente para ações vinculadas a valores pessoais.
Muitas vezes culpamos nossos celulares por nos bombardear com informações e por tirarem nossa atenção. Mas, na verdade, é o nosso próprio cérebro que está envolvido nesse processo de maneira mais profunda, como mostra uma nova pesquisa da University of Copenhagen e publicado no Journal of Experimental Psychology: Human Perception and Performance.
O que acontece é que, ao usarmos o celular, ele está ativando nosso sistema de recompensa, algo natural em nosso cérebro que nos leva a buscar experiências agradáveis. Empresas de tecnologia, como Google e Facebook, conhecem esse processo e aproveitam para captar nossa atenção oferecendo conteúdo que nos dá recompensas, seja a sensação de prazer ao ver algo interessante ou aquela satisfação ao receber uma notificação.
No entanto, essa nova pesquisa revelou algo interessante: nossa atenção, ao contrário do que muitos pensam, funciona muito bem. Nosso cérebro consegue focar e mudar a atenção para o que mais nos interessa no momento, e isso é guiado pelas recompensas que ele acha mais atraentes.
Isso quer dizer que, mesmo que existam várias informações competindo por nossa atenção, nosso cérebro consegue escolher o que ele acha mais importante — o que pode ser determinado pelo prazer ou recompensa que esperamos ganhar com essa escolha.
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Tradicionalmente, os cientistas usavam algo chamado "paradigma de sugestão de Posner" para estudar a atenção. Imagine que você está em uma sala e alguém aponta para um lugar específico, sugerindo que você olhe para lá. Essa dica (ou sugestão) ajuda você a mudar sua atenção para esse lugar. Esse é o conceito básico desse paradigma: uma única dica guia sua atenção.
O estudo propõe algo diferente. Ao invés de apenas uma dica, eles criaram um ambiente em que várias dicas competem ao mesmo tempo pela sua atenção. É como se você estivesse em uma sala com várias pessoas apontando para diferentes lugares, e você precisa escolher para onde olhar.
Esse novo modelo é mais próximo da realidade, onde, no dia a dia, estamos sempre cercados por múltiplas distrações (como notificações no celular, sons, pessoas falando etc.).
Os pesquisadores demostraram que nossa capacidade de atenção é limitada — não podemos focar em tudo ao mesmo tempo. Por isso, nosso cérebro precisa decidir qual dica ou sugestão seguir, com base na sua relevância ou importância.
Essa "competição tendenciosa" significa que o cérebro vai escolher a opção que oferece a maior recompensa ou a que ele julga mais vantajosa. Por exemplo, se você está trabalhando e seu celular vibra, seu cérebro pode julgar que a notificação no celular tem mais valor imediato (como uma mensagem importante), então ele desvia a atenção do trabalho.
Para explicar como fazemos essas escolhas, os pesquisadores usaram um modelo matemático chamado "Modelo de Seleção de Intenção" (MIS). Esse modelo ajuda a entender como nosso cérebro seleciona uma ação entre várias opções disponíveis, levando em conta as recompensas associadas a cada uma.
Eles criaram um experimento onde os participantes tinham que escolher para onde direcionar a atenção, com várias opções competindo ao mesmo tempo. Nos experimentos, as escolhas eram representadas por uma série de caixas em uma tela de computador, que podiam conter entre 1 e 9 pontos.
Cada caixa era associada a um canto da tela onde uma letra aleatória era exibida. A tarefa era então relatar uma das letras e, assim, ganhar os pontos indicados pela caixa.
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A Figura mostra. Associações entre caixas de sugestão e localização de letras de estímulo no paradigma de sugestão múltiplaNota. As letras de estímulo são brevemente apresentadas nos cantos de um retângulo imaginário. Cada caixa de sugestão (caixas brancas) é associada a uma mudança de atenção (conjunto de respostas) para um canto associado (setas) para relatar uma letra. Uma mudança de atenção (conjunto de respostas) se torna relevante para a execução se for atribuído a ela um valor de recompensa maior que zero (dígitos dentro das caixas de sugestão e setas sólidas). doi.org/10.1037/xhp0001194
“Os participantes em nossos experimentos foram apresentados a quatro caixas de uma vez e tiveram que mudar rapidamente sua atenção para uma das possibilidades. Eles marcaram a mudança de atenção inserindo uma letra, que foi apresentada no canto da tela. O processo teve que ser repetido milhares de vezes por cada participante individual, para que pudéssemos ter certeza de que não era uma questão de acaso”, explica o professor associado Thor Grünbaum.
O estudo descobriu que, quando estamos diante de várias coisas para prestar atenção, nosso cérebro faz uma seleção com base em qual dessas opções nos traz mais recompensa. Isso explica por que, por exemplo, podemos parar o que estamos fazendo para olhar o celular quando recebemos uma notificação — porque nosso cérebro sabe que há uma recompensa ali, como uma mensagem interessante ou uma notícia que queremos ver.
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Probabilidade de seleção da mudança de atenção ótima como uma função da recompensa relativaNota. Probabilidade de seleção da mudança de atenção ótima como uma função da recompensa relativa de acordo com a conta de duas etapas (vermelho/escuro) e MIS (verde/claro). MIS = modelo de seleção de intenção
Aplicações práticas: Esse novo paradigma de estudo ajuda a entender como o cérebro recupera informações e como ele age em situações de escolha. Isso pode nos dar uma nova visão sobre como tomamos decisões em situações cotidianas, especialmente quando estamos cercados por várias distrações digitais.
Também ajuda a entender como o cérebro faz ações habituais (como checar o celular sem pensar) e ações direcionadas a objetivos (como decidir não olhar o celular para continuar focado no trabalho).
Em resumo, esse novo paradigma permite estudar como nosso cérebro lida com múltiplas distrações ao mesmo tempo, escolhendo onde focar com base nas recompensas associadas a cada opção. Ele também ajuda a entender melhor como fazemos escolhas em um mundo cheio de estímulos e informações.
LEIA MAIS:
Testing Biased Competition Between Attention Shifts: The New Multiple Cue Paradigm
Franziska Oren, Søren Kyllingsbæk , Dawa Dupont, Thor Grünbaum
Journal of Experimental Psychology: Human Perception and Performance, 50(7), 655–682. https://doi.org/10.1037/xhp0001194
Abstract:
While the classic Posner cuing paradigm has been used to study cuing of a single endogenous shift of attention, we present a new multiple cue paradigm to study the competition between multiple endogenous shifts of attention. The new paradigm enables us to manipulate the number of competing attention shifts and their relative importance. In three experiments, we demonstrate that the process of selecting one among other relevant attention shifts is governed by limited capacity and biased competition. We show that the probability of performing the most optimal attention shift is influenced by the total number of attention shifts competing for execution and that reward is a determining factor for the selection between attention shifts. We explain our results with a recent mathematical model of biased selection of response sets (the model of intention selection [MIS]). Our new paradigm offers a critical test of MIS and is an important new tool for investigating the mechanisms underlying the retrieval of response sets from long-term memory (LTM). The model (MIS) and the new multiple cue paradigm can provide a new perspective on LTM representations of response sets for instrumental action and on habitual and goal-directed processing in action control.
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