Resumo:
Este estudo avança nosso entendimento sobre o cérebro ao identificar o papel fundamental de diferentes regiões do córtex pré-frontal na capacidade de persistir de forma adaptativa. Por exemplo, o vmPFC parece crucial para avaliar o valor da recompensa e motivar a espera, enquanto o dmPFC e a ínsula anterior são importantes para ajustar nosso comportamento às condições do ambiente.
Tomar decisões sobre quanto tempo esperar por uma recompensa futura incerta é um desafio comum e complexo. Para decidir se continuamos aguardando ou desistimos, nosso cérebro faz uma avaliação contínua, comparando o valor subjetivo da recompensa esperada com os custos de continuar esperando, como tempo e energia desperdiçados.
A pesquisa sobre decisões envolvendo recompensas futuras tem uma longa história na neurociência e na psicologia. Trabalhos anteriores focaram principalmente na escolha inicial entre recompensas imediatas menores e recompensas atrasadas maiores.
Estudos mostram que áreas como o córtex pré-frontal ventromedial (vmPFC) e o estriado são cruciais para avaliar o valor subjetivo dessas opções, enquanto o córtex pré-frontal dorsolateral (dlPFC) ajuda no controle cognitivo, permitindo resistir a impulsos por recompensas rápidas.
Já a amígdala e o sistema dopaminérgico influenciam a impulsividade, tornando mais difícil optar por esperar por recompensas futuras. Esses estudos contribuíram para o conceito de "desconto temporal", que descreve como o valor percebido de uma recompensa diminui à medida que seu atraso aumenta.
No entanto, sustentar a motivação durante o período de espera por uma recompensa é igualmente importante e tem recebido mais atenção recentemente.
Estudos em humanos e animais sugerem que o vmPFC continua avaliando o valor da recompensa ao longo do tempo, enquanto o córtex pré-frontal dorsomedial (dmPFC) e a ínsula anterior aumentam sua atividade quando a pessoa considera desistir.
Modelos computacionais têm ajudado a explicar esse comportamento, demonstrando como o cérebro calcula o custo-benefício de continuar esperando.
Lesões cerebrais oferecem outra perspectiva valiosa. Pesquisas mostram que danos ao vmPFC levam a maior impulsividade e menos disposição para esperar, enquanto lesões no dmPFC e na ínsula anterior prejudicam a capacidade de ajustar a persistência de acordo com o ambiente. Isso reforça a importância dessas áreas no processo de calibração dinâmica durante o período de espera.
Estruturas da linha média cortical - definição anatômica. Córtex cingulado anterior perigenual (PACC), córtex pré-frontal ventro e dorsomedial (VMPFC, DMPFC), córtex cingulado anterior supragenual (SACC), córtex cingulado posterior (PCC) e pré-cúneo. Como todos estão localizados na linha média do cérebro, eles foram cunhados como ‘estruturas da linha média cortical’ (CMS). Fonte: Northoff, G. Brain and self – a neurophilosophical account. Child Adolesc Psychiatry Ment Health 7, 28 (2013). https://doi.org/10.1186/1753-2000-7-28
Para explorar o papel dessas regiões cerebrais, pesquisadores da University of Pennsylvania conduziram um estudo com 28 participantes (20 mulheres e 8 homens) que apresentavam lesões em diferentes partes do lobo frontal.
Eles foram submetidos a uma tarefa que avaliava sua capacidade de ajustar de forma adaptativa o tempo que estavam dispostos a esperar por recompensas monetárias.
Os resultados revelaram diferenças significativas no comportamento dos participantes com lesões específicas. Aqueles com danos no vmPFC esperaram menos tempo no geral, enquanto os participantes com lesões no dmPFC e na ínsula anterior tiveram dificuldade em ajustar sua persistência com base nas características do ambiente.
Essas descobertas foram explicadas com a ajuda de um modelo computacional que analisou as decisões dos participantes. Ele mostrou que as lesões nessas áreas do cérebro alteravam sistematicamente os parâmetros que regulam o equilíbrio entre persistir e desistir.
Persistir na busca por objetivos de longo prazo é essencial em muitas áreas da vida, como educação, saúde e finanças. Frequentemente, essas escolhas envolvem um trade-off: recompensas imediatas menores versus recompensas futuras maiores.
A maior parte da pesquisa em neurociência sobre recompensas futuras tem focado em decisões iniciais – como escolher entre uma recompensa menor agora ou uma maior depois. Contudo, a verdadeira dificuldade está em manter a decisão inicial, persistindo durante o tempo de espera necessário para alcançar o objetivo.
Este estudo avança nosso entendimento sobre o cérebro ao identificar o papel fundamental de diferentes regiões do córtex pré-frontal na capacidade de persistir de forma adaptativa. Por exemplo, o vmPFC parece crucial para avaliar o valor da recompensa e motivar a espera, enquanto o dmPFC e a ínsula anterior são importantes para ajustar nosso comportamento às condições do ambiente.
Esses achados oferecem uma visão mais ampla de como o cérebro ajuda as pessoas a maximizarem os benefícios das recompensas atrasadas, contribuindo para o sucesso em diversos contextos da vida.
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Lesions to different regions of frontal cortex have dissociable effects on voluntary persistence.
Camilla van Geen, Yixin Chen, Rebecca Kazinka, Avinash R. Vaidya, Joseph W. Kable and Joseph T. McGuire
Journal of Neuroscience 25 November 2024, e0068242024
Abstract:
Deciding how long to keep waiting for uncertain future rewards is a complex problem. Previous research has shown that choosing to stop waiting results from an evaluative process that weighs the subjective value of the awaited reward against the opportunity cost of waiting. Activity in ventromedial prefrontal cortex (vmPFC) tracks the dynamics of this evaluation, while activation in the dorsomedial prefrontal cortex (dmPFC) and anterior insula (AI) ramps up before a decision to quit is made. Here, we provide causal evidence of the necessity of these brain regions for successful performance in a willingness-to-wait task. 28 participants (20 female and 8 male) with lesions to different regions of the frontal lobe were tested on their ability to adaptively calibrate how long they waited for monetary rewards. We found that participants with lesions to the vmPFC waited less overall, while participants with lesions to the dmPFC and anterior insula were specifically impaired at calibrating their level of persistence to the environment. These behavioral effects were accounted for by systematic differences in parameter estimates from a computational model of task performance.
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