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Perfumes, Shampoos e Sabonetes: Produtos do Dia a Dia Podem Afetar o Cérebro dos Bebês

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 24 de abr.
  • 4 min de leitura

Os ftalatos são substâncias químicas presentes em muitos produtos do dia a dia, como plásticos, cosméticos e produtos de limpeza. Apesar de comuns, eles podem afetar nossos hormônios e causar problemas de saúde, especialmente durante a gravidez. Estudos mostram que a exposição a essas substâncias pode alterar o desenvolvimento do bebê ainda no útero, afetando o cérebro e o comportamento nos primeiros meses de vida.


Os ftalatos são substâncias químicas criadas no início do século 20 e estão presentes em uma enorme variedade de produtos do nosso dia a dia, como pisos vinílicos, plásticos, sabonetes, xampus, cosméticos, óleos e perfumes. 


Eles são usados para deixar os plásticos mais flexíveis e duráveis, além de ajudarem a manter o brilho, o aroma ou a cor de diversos itens. Por estarem em tantos objetos e materiais, a exposição humana aos ftalatos é constante e praticamente inevitável.


As pessoas entram em contato com ftalatos principalmente por meio de alimentos e bebidas que foram embalados em materiais contendo esses compostos, ou pelo uso de produtos pessoais que os têm na composição. Também podemos inalá-los ao respirar poeira que carrega partículas contaminadas. 

Uma vez dentro do corpo, os ftalatos são processados rapidamente e eliminados pela urina, o que permite medir a exposição recente analisando os metabólitos presentes na urina. Nos Estados Unidos, praticamente toda a população apresenta algum nível detectável de ftalatos no organismo.


A exposição aos ftalatos não é igual para todos. Mulheres tendem a ter níveis mais altos do que homens, possivelmente por usarem mais produtos de higiene e beleza. Além disso, estudos mostram que mulheres negras têm níveis ainda mais elevados do que mulheres brancas, o que pode estar ligado a desigualdades sociais e racismo ambiental, incluindo o marketing específico de produtos voltados para cabelos afro, que contêm maiores concentrações dessas substâncias.

Essas substâncias preocupam os cientistas porque são classificadas como desreguladores endócrinos. Isso significa que podem interferir no funcionamento dos hormônios do corpo, mesmo quando presentes em pequenas quantidades.  


Como os hormônios controlam uma série de processos fundamentais, do crescimento ao humor, qualquer alteração pode ter efeitos profundos na saúde. Estudos já associaram a exposição aos ftalatos a diversos problemas de saúde, com destaque para os impactos na reprodução e no desenvolvimento infantil.

Um dos maiores riscos está relacionado à gravidez.


Os ftalatos podem atravessar a placenta e atingir o feto em desenvolvimento, podendo afetar o cérebro e o comportamento do bebê. Pesquisas mostraram, por exemplo, que mães com níveis mais altos dessas substâncias durante a gestação deram à luz bebês com pontuações menores em testes neurológicos logo após o nascimento. 

Outros estudos encontraram ligações entre a exposição pré-natal aos ftalatos e menores capacidades mentais e motoras nos primeiros meses de vida.

Apesar dessas evidências, poucos estudos investigaram como os ftalatos afetam o metabolismo das mães durante a gravidez, ou seja, como essas substâncias alteram os processos químicos que acontecem dentro do corpo. 


Um estudo analisou o sangue das mães e das placentas no final da gestação e encontrou alterações em substâncias ligadas à energia e ao funcionamento celular, sugerindo que os ftalatos podem bagunçar essas vias essenciais, especialmente na placenta, que é vital para o desenvolvimento do bebê. 

Mais recentemente, pesquisadores passaram a explorar como os ftalatos afetam diretamente o metabolismo dos recém-nascidos. Em um estudo com mulheres negras grávidas e seus bebês, os cientistas buscaram entender se os níveis de ftalatos medidos na urina das mães durante a gestação estavam ligados a mudanças no perfil metabólico dos bebês e, consequentemente, ao comportamento e à saúde mental deles. 


Para isso, analisaram amostras de sangue do recém-nascido colhidas logo após o parto e compararam com os resultados de testes comportamentais feitos nas primeiras semanas de vida.


Os resultados mostraram que a exposição aos ftalatos estava associada a alterações importantes em caminhos metabólicos relacionados a aminoácidos como triptofano e tirosina, que têm papel essencial na produção de substâncias cerebrais como a serotonina e a dopamina, neurotransmissores ligados ao humor, à atenção e ao comportamento.  

Essas mudanças metabólicas podem ser os primeiros sinais de como os ftalatos afetam o cérebro em formação.


Esse tipo de estudo é essencial para entendermos os mecanismos biológicos por trás dos efeitos dos ftalatos e pode ajudar a identificar biomarcadores, ou seja, sinais químicos no corpo, que indicam que há algo errado no desenvolvimento. Isso permitiria intervir mais cedo, oferecendo melhores cuidados para mães e bebês em risco, especialmente em comunidades mais expostas e vulneráveis.



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Impact of prenatal phthalate exposure on newborn metabolome and infant neurodevelopment

Susan S. Hoffman, Ziyin Tang, Anne Dunlop, Patricia A. Brennan, Thompson Huynh, Stephanie M. Eick, Dana B. Barr, Blake Rushing, Susan L. McRitchie, Susan Sumner, Kaitlin R. Taibl, Youran Tan, Parinya Panuwet, Grace E. Lee, Jasmin Eatman, Elizabeth J. Corwin, P. Barry Ryan, Dean P. Jones and Donghai Liang

Nature Communications. 16, Article number: 2539 (2025) 

DOI: 10.1038/s41467-025-57273-z


Abstract


We evaluated associations among exposure to prenatal phthalate metabolites, perturbations of the newborn metabolome, and infant neurobehavioral functioning in mother-newborn pairs enrolled in the Atlanta African American Maternal-Child Cohort during 2016–2018. We quantified eight phthalate metabolites in prenatal urine samples collected between 8- and 14-weeks’ (visit 1; n = 216) and 24- and 30-weeks’ gestation (visit 2; n = 145) and metabolite features in newborn dried-blood spot samples collected at delivery. Associations between phthalate metabolite concentrations and metabolic feature intensities at both visits were examined using adjusted generalized linear models (MWAS). Then, an exploratory meet-in-the-middle (MITM) analysis was conducted in a subset with NICU Neonatal Neurobehavioral Scale (NNNS) scores (visit 1 n = 81; visit 2 n = 71). In both the MWAS and MITM, many of the confirmed metabolites are involved in tyrosine and tryptophan metabolism, including tryptophan, tyrosine, thyroxine, and serine. This analysis elucidates how prenatal phthalate exposure disrupts the newborn metabolome and infant neurobehavioral outcomes.

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