Paixão Política: Lesões Cerebrais Revelam os Circuitos da Intensidade Política
- Lidi Garcia
- 11 de abr.
- 4 min de leitura

Um estudo com veteranos que sofreram lesões cerebrais mostrou que certas áreas do cérebro podem influenciar o quanto uma pessoa se envolve com política. Lesões em regiões ligadas à tomada de decisões e autorreflexão aumentaram esse envolvimento, enquanto lesões em áreas ligadas às emoções reduziram. Isso não tem a ver com ser de esquerda ou direita, mas com a intensidade do interesse político. O estudo ajuda a entender como o cérebro pode afetar nossos comportamentos sociais e até mesmo nosso engajamento político.
Você já se perguntou por que algumas pessoas se envolvem profundamente com política, participando de debates, indo a manifestações ou acompanhando de perto as notícias, enquanto outras preferem manter distância? E será que algo no nosso cérebro pode influenciar esse comportamento político mais "intenso"? A ciência está começando a explorar essa ideia intrigante.
Um novo estudo analisou veteranos de guerra que sofreram lesões cerebrais graves para entender se certas áreas do cérebro estão ligadas ao quanto uma pessoa se envolve politicamente, independentemente de suas crenças ideológicas.
Os resultados trazem pistas fascinantes sobre como partes específicas do cérebro podem influenciar nosso interesse e envolvimento com política.
Pesquisadores da Harvard Medical School, USA, descobriram que o grau de envolvimento político de uma pessoa, ou seja, o quanto ela se engaja ativamente com temas políticos, pode estar relacionado a regiões específicas do cérebro que processam emoções e pensamentos complexos.

Para investigar isso, os cientistas estudaram 124 veteranos militares americanos do sexo masculino que, há cerca de 40 a 45 anos, sofreram ferimentos penetrantes no cérebro (quando algo perfura o crânio e danifica o tecido cerebral). Esses homens agora estão na meia-idade e participaram de um estudo no qual responderam sobre seu comportamento político atual e sobre como se lembram de ter se envolvido com política antes da lesão.
Os pesquisadores compararam as áreas lesionadas nos cérebros desses participantes com um grande banco de dados de conectividade cerebral de pessoas saudáveis (com dados de 1.000 indivíduos). Assim, puderam identificar quais redes cerebrais estavam funcionalmente ligadas às áreas danificadas.
Eles analisaram três tópicos principais:
Intensidade do envolvimento político (o quanto a pessoa se envolve);
Ideologia política (se a pessoa tende a ser mais liberal ou conservadora);
Filiação partidária (com qual partido político a pessoa se identifica).
A descoberta mais importante foi que a intensidade do envolvimento político estava ligada a um circuito cerebral específico, enquanto ideologia e partido político não mostraram relação direta com áreas do cérebro.
Pessoas que tiveram lesões conectadas ao córtex pré-frontal dorsolateral esquerdo (região associada a tomada de decisão e controle de comportamento) e ao precuneus posterior (área ligada à autorreflexão e à consciência de si mesmo) tendiam a se envolver mais intensamente com política. Esse padrão apareceu tanto na amostra geral quanto especialmente entre os participantes com inclinação mais conservadora.

Já os veteranos com lesões conectadas à amígdala (importante no processamento de emoções) e ao lobo temporal anterior (envolvido em memória e reconhecimento social) tendiam a se envolver menos com política. Isso foi especialmente observado entre os participantes com tendências liberais.
Esses resultados foram confirmados por testes de validação estatística, o que reforça a confiança nas descobertas.
Esse estudo oferece uma nova perspectiva sobre como nosso cérebro pode influenciar o nível de envolvimento com política, não apenas nossas crenças, mas o quanto nos dedicamos emocional e cognitivamente a essas questões.

Além disso, mostra que mudanças na atividade de certas regiões cerebrais, seja por lesão ou outro fator, podem afetar comportamentos sociais complexos como o engajamento político.
Além do avanço na compreensão da mente humana, os resultados também podem ajudar médicos e profissionais da saúde mental a entender melhor como lesões cerebrais podem afetar o comportamento social e emocional de pacientes, incluindo seu interesse por política.
LEIA MAIS:
Effects of focal brain damage on political behaviour across different political ideologies Get access
Shan H Siddiqi, Stephanie Balters, Giovanna Zamboni, Shira Cohen-Zimerman, Jordan H Grafman
Brain, awaf101, 21 March 2025
Abstract:
Intense political behavior is associated with brain regions involved in emotional and cognitive processing. However, it remains unclear if this neuroanatomy is causal, compensatory, or otherwise correlated. We employed lesion network mapping in a cross-sectional study of 124 male military Veterans with penetrating head trauma. 40-45 years after the injury, participants reported current political behavior and recollection of political behavior pre-injury. Using a normative connectome database (n = 1000), we mapped the circuitry functionally connected to lesions associated with changes in intensity of political involvement, ideological polarity, and party affiliation. No significant neuroanatomical circuit was associated with political ideology or party affiliation, but a distinct circuit was associated with intensity of political involvement. Political involvement was more intense after lesions connected to the left dorsolateral prefrontal cortex and posterior precuneus, in the full sample and in conservative-leaning participants. Political involvement was less intense after lesions connected to the amygdala and anterior temporal lobe, in the full sample and in liberal-leaning participants. These effects survived cross-validation in the full sample (p=0.01) and in both conservative-leaning and liberal-leaning participants. These findings may inform cognitive mechanisms of political behavior as well as clinical assessment after brain lesions.
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