Resumo:
Dois estudos recentes analisaram os impactos dos contraceptivos hormonais na saúde física e mental das mulheres. O primeiro, revelou que usuárias de pílulas apresentam respostas inflamatórias e psicológicas diferentes ao estresse, incluindo níveis elevados de TNF-alfa, marcador de inflamação, e maior reação emocional negativa, em comparação às mulheres com ciclo natural. Outro estudo, com ratos, mostrou que estrogênios sintéticos, como o etinilestradiol, podem induzir maior ansiedade e alterar a memória espacial em comparação aos naturais, como o valerato de estradiol.
Contraceptivos hormonais desempenham um papel significativo na saúde e no comportamento das mulheres, mas novos estudos revelam que eles podem ter efeitos complexos sobre o estresse, a inflamação e o comportamento emocional. Vamos integrar os dois artigos em uma única explicação detalhada para leigos.
Os contraceptivos hormonais são amplamente usados por mais de 300 milhões de mulheres em todo o mundo para prevenir a gravidez e, em alguns casos, tratar condições hormonais. Eles funcionam ao introduzir hormônios sintéticos, como estrogênio e progesterona, no corpo para regular o ciclo menstrual e evitar a ovulação.
Pesquisadores da UCLA Health examinaram como os contraceptivos hormonais afetam as respostas ao estresse e à inflamação, publicando seus achados no periódico Brain, Behavior, and Immunity.
Eles realizaram um estudo com 130 mulheres, divididas entre usuárias e não usuárias de pílulas anticoncepcionais. Para o estudo, as mulheres forneceram amostras de saliva para medir marcadores de inflamação e classificaram seus níveis de estresse e humor antes do experimento.
O teste de estresse foi realizado através de um discurso improvisado sobre um "emprego dos sonhos" diante de um pesquisador que não reagia. Em seguida, resolveram cálculos mentais sob pressão.
Após o teste, amostras de saliva foram recolhidas novamente e os níveis de estresse avaliados.
Os resultados mostraram que as usuárias de pílulas relataram maior resposta emocional negativa e apresentaram níveis mais altos da citocina inflamatória TNF-alfa, sugerindo um padrão de resposta ao estresse mais "masculino". Em contraste, as não usuárias apresentaram níveis mais elevados de cortisol e interleucina-6, associados a uma resposta “feminina".
As usuárias de pílulas também demonstraram maior risco de inflamação crônica, que pode contribuir para doenças cardiovasculares, câncer e distúrbios autoimunes.
Essas descobertas destacam como os hormônios sintéticos podem alterar as respostas normais ao estresse e inflamação, sugerindo que diferentes formulações podem ter efeitos distintos.
Outro estudo em ratos apresentou um olhar mais profundo sobre como os tipos de estrogênios usados nos contraceptivos hormonais podem influenciar comportamentos relacionados à ansiedade e funções cognitivas.
Ratos fêmeas foram tratados com dois tipos de estrogênios:
Etinilestradiol (sintético) com dienogest.
Valerato de estradiol (natural) com dienogest.
Um grupo controle sem estrogênio adicional.
Os testes de ansiedade e memoria foram realizados entre os dias 20 e 28, os ratos realizaram tarefas de labirinto para medir memória espacial e ansiedade. No dia 28, amostras de sangue foram analisadas para avaliar os níveis hormonais.
Os resultados mostraram que as ratas tratadas com estrogênio sintético apresentaram mais sinais de ansiedade e respostas alteradas nas tarefas de memória espacial, comparados aos que receberam estrogênio natural ou nenhum tratamento.
Ambos os tipos de estrogênio reduziram os níveis de testosterona no sangue, mas os níveis de estradiol no grupo tratado com etinilestradiol estavam significativamente baixos.
Esses resultados sugerem que o estrogênio sintético pode ter efeitos mais profundos no cérebro, alterando circuitos de feedback hormonal entre o cérebro e as gônadas.
O significado disso para as mulheres, os estudos indicam que diferentes tipos de hormônios em contraceptivos podem influenciar a saúde física e mental de maneiras inesperadas.
Alterações nas respostas ao estresse podem afetar o bem-estar geral e aumentar o risco de doenças crônicas. Ja no comportamento e ansiedade, os hormônios sintéticos, como o etinilestradiol, podem estar associados a maior ansiedade em algumas mulheres.
Essas descobertas destacam a importância de personalizar o uso de contraceptivos hormonais. Mulheres com histórico de distúrbios de humor ou condições inflamatórias podem se beneficiar de uma escolha cuidadosa de métodos contraceptivos.
Além disso, a pesquisa abre portas para o desenvolvimento de novos contraceptivos com menor impacto sobre a saúde mental e o sistema imunológico.
Os estudos enfatizam que, embora os contraceptivos hormonais sejam eficazes e seguros para a maioria das mulheres, os impactos individuais podem variar significativamente. Mais pesquisas são necessárias para entender plenamente
LEIA MAIS:
ESTUDO 1:
Hormonal contraceptive use is associated with differences in women’s inflammatory and psychological reactivity to an acute social stressor
Summer Mengelkoch, Jeffrey Gassen, George M. Slavich, and Sarah E. Hill b
Brain, Behavior and Immunity, Volume 115, 2024, ISSN 0889-1591
Abstract:
Women using hormonal contraceptives (HCs) exhibit numerous signs of chronic inflammation, including elevated C-reactive protein levels and greater risk of developing mood and autoimmune disorders. However, users and non-users of HCs often have similar circulating proinflammatory cytokine levels, making the mechanism of association unclear. One possible explanation for this paradox is that HC users exhibit differences in their inflammatory responses to psychosocial stress that, over time, could contribute to chronic inflammation and its pathologies. Here, we tested this possibility by examining women’s glucocorticoid, inflammatory, and psychological responses to the Trier Social Stress Test (TSST) in 67 naturally cycling (NC) and 60 oral HC-using women (Mage = 19.31, SDage = 1.95). As hypothesized, HC users and NC women exhibited different glucocorticoid and proinflammatory cytokine responses to the TSST. For NC women, TSST-induced increases in glucocorticoids were uncommon, and increases in glucocorticoids were accompanied by elevations in IL-6. In contrast, for women using HCs, increases in glucocorticoids in response to the TSST were common, and increases in glucocorticoids were accompanied by increases in TNF-α. HC users and NC women also differed in their psychological responses to the TSST, with HC users reporting elevated stress levels compared to NC women. Together, these results suggest that HC use impacts women’s glucocorticoid, inflammatory, and psychological responses to psychosocial stress, potentially contributing to observed differences in these women’s mental and physical health.
ESTUDO 2:
Hegwood A. et al.
The Prakapenka Lab at ENDO 2024, the Endocrine Society’s annual meeting in Boston, MA.
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