Ouvir Músicas do Passado Reacende Memórias e Ativa o “Circuito da Felicidade” no Cérebro
- Lidi Garcia
- 22 de abr.
- 4 min de leitura

Ouvir músicas nostálgicas, escolhidas pela própria pessoa, ativa partes do cérebro ligadas à memória, emoção e prazer. Em idosos, essa reação é ainda mais forte, mostrando que a música pode ser uma ferramenta poderosa para resgatar lembranças e gerar bem-estar.
A nostalgia é um sentimento misto, que envolve saudade e emoção ao lembrar de momentos do passado, especialmente aqueles que foram felizes. Ouvir uma música que marcou algum momento importante da vida pode despertar essa nostalgia de forma intensa.
Esse tipo de emoção não é apenas uma lembrança comum, ela pode ativar diversas áreas do cérebro ligadas à memória, às emoções e até à recompensa. Esse estudo procurou entender o que acontece no cérebro das pessoas, tanto jovens quanto idosas, quando elas ouvem músicas que elas mesmas consideram nostálgicas.

Os pesquisadores usaram exames de ressonância magnética funcional (fMRI) para observar o cérebro de 57 pessoas (29 com idades entre 18 e 35 anos; 28 com 60 anos ou mais), enquanto elas ouviam três tipos de músicas:
músicas nostálgicas escolhidas por elas mesmas
músicas familiares mas que não traziam lembranças nostálgicas
músicas desconhecidas
Todas as músicas foram selecionadas para terem características musicais parecidas (como ritmo e melodia), o que permitiu comparar os efeitos emocionais de maneira mais justa.
Os resultados mostraram que ouvir músicas nostálgicas provocou mais atividade cerebral do que os outros dois tipos de música. Especificamente, ativou áreas ligadas à memória pessoal (como o hipocampo), ao processamento emocional (como a ínsula), ao sistema de recompensa (que gera sensações prazerosas), e também regiões motoras, possivelmente por conta do desejo de se movimentar ao som da música.

Resultados do cérebro inteiro para o grupo Nostalgia > Controle Familiar, em todos os participantes. A barra de cores do lado direito (de laranja a amarelo) indica o nível de atividade cerebral (Z score): quanto mais amarelo, maior a ativação.
Além disso, ouvir músicas nostálgicas aumentou a conexão entre essas áreas do cérebro, mostrando que elas trabalham juntas de forma mais intensa nesse contexto.
Um achado interessante foi que pessoas idosas mostraram uma resposta cerebral ainda mais forte do que os jovens quando escutavam músicas nostálgicas. Isso pode indicar que, com o passar dos anos, a música ganha ainda mais poder de evocar lembranças afetivas e significativas.

A: As imagens mostram as áreas do cérebro que ficaram mais ativas quando pessoas mais velhas ouviram músicas nostálgicas, comparado a músicas apenas familiares, e também comparado ao que foi observado em pessoas mais jovens. As partes em amarelo são as regiões com mais ativação. B: O gráfico mostra o quanto o cérebro de adultos mais jovens (em vermelho) e mais velhos (em azul) respondeu a dois tipos de músicas: músicas familiares (mas não nostálgicas) e músicas nostálgicas. As barras indicam que os adultos mais velhos tiveram uma resposta cerebral mais forte às músicas nostálgicas do que os mais jovens. A barra de cores no topo (de laranja a amarelo) indica o nível de atividade cerebral (Z score): quanto mais amarelo, maior a ativação.
Para os mais jovens, a força dessa reação parecia estar relacionada a traços de personalidade (como a tendência a sentir nostalgia) e à capacidade cognitiva. Já nos idosos, a resposta estava mais ligada à emoção sentida no momento da escuta.

Essa pesquisa é importante porque ajuda a entender como a música pode acessar memórias importantes, especialmente em pessoas mais velhas.
Saber quais regiões do cérebro estão envolvidas nesse processo pode, no futuro, ajudar a desenvolver terapias musicais para pessoas com dificuldades de memória, como em casos de Alzheimer ou outros tipos de demência. A ideia é que, ao estimular essas regiões com músicas significativas, seja possível reativar lembranças importantes e melhorar a qualidade de vida dessas pessoas.
LEIA MAIS:
Music-Evoked Nostalgia Activates Default Mode and Reward Networks Across the Lifespan
Sarah Hennessy, Petr Janata, Talia Ginsberg, Jonas Kaplan, Assal Habibi
Human Brain Mapping. Volume 46, Issue 4, March 2025, e70181
Abstract
Nostalgia is a mixed emotion that is often evoked by music. Nostalgic music may induce temporary improvements in autobiographical memory in individuals with cognitive decline. However, the neural mechanism underlying music-evoked nostalgia and its associated memory improvements is unclear. With the ultimate goal of understanding how nostalgia-evoking music may help retrieve autobiographical memories in individuals with cognitive impairment, we first sought to understand the neural underpinnings of these processes in healthy younger and older adults. Methodological constraints, including the lack of personally tailored and experimentally controlled stimuli, have impeded our understanding of this mechanism. Here, we utilized an innovative machine-learning-based method to construct three categories of songs, all matched for musical features: (1) personalized nostalgic, (2) familiar non-nostalgic, and (3) unfamiliar non-nostalgic. In 57 participants (29 aged 18–35; 28 aged 60 and older), we investigated the functional neural correlates of music-evoked nostalgia using fMRI. Four main findings emerged: (1) Listening to nostalgic music, more than familiar non-nostalgic or unfamiliar music, was associated with bilateral activity in the default mode network, salience network, reward network, medial temporal lobe, and supplementary motor regions, (2) Psychophysiological interaction (PPI) models indicated that listening to nostalgic music involved increased functional connectivity of self-referential (posteromedial cortex) and affect-related regions (insula), (3) Older adults had stronger BOLD signals than younger adults in nostalgia-related regions during nostalgic listening, (4) While the BOLD response to nostalgic music in younger adults was associated with trait-level factors of nostalgia proneness and cognitive ability, the response in older adults was related to affective responses to the music. Overall, our findings serve as a foundation for understanding the neural basis of music-evoked nostalgia and its potential use in future clinical interventions.
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