O Segredo da Memória Jovem: A Chave Pode Estar na Drenagem do Cérebro
- Lidi Garcia
- 1 de abr.
- 3 min de leitura

Os vasos linfáticos que ajudam a limpar o cérebro podem ter um papel importante no funcionamento da memória. Quando esses vasos não funcionam bem, ocorre um desequilíbrio nas conexões neurais, prejudicando a memória e o raciocínio. Isso acontece porque uma célula do sistema imunológico cerebral, chamada microglia, produz mais substâncias inflamatórias, como a interleucina-6 (IL-6). Os cientistas mostraram que bloquear essa substância ou melhorar a função desses vasos pode restaurar a memória em camundongos, sugerindo um possível caminho para combater o envelhecimento cerebral e doenças como o Alzheimer.
Nosso cérebro produz resíduos que precisam ser eliminados para que ele funcione corretamente. Essa limpeza é feita, em parte, pelos vasos linfáticos meníngeos, que ficam na camada mais externa que envolve o cérebro, chamada dura-máter.
Esses vasos ajudam a drenar o líquido cefalorraquidiano (LCR), levando os resíduos para os linfonodos do pescoço.
Estudos anteriores já mostraram que, quando esses vasos não funcionam direito, há uma piora em doenças como Alzheimer e lesões cerebrais, enquanto o fortalecimento deles pode melhorar a memória e o envelhecimento saudável em camundongos.
No entanto, ainda não se sabia exatamente como isso afetava o funcionamento dos neurônios e o equilíbrio das conexões cerebrais.
Para entender melhor essa relação, os cientistas da Washington University in St Louis, USA, usaram camundongos geneticamente modificados e técnicas cirúrgicas para prejudicar a função desses vasos linfáticos.

Eles descobriram que isso alterou o equilíbrio entre os sinais elétricos excitatórios e inibitórios no cérebro. Esse equilíbrio é fundamental para o processamento das informações no cérebro, e seu desequilíbrio está associado a várias doenças neurológicas, como esquizofrenia, autismo e Alzheimer.
Nos camundongos com vasos linfáticos disfuncionais, houve uma redução da transmissão inibitória, o que prejudicou a memória e a capacidade cognitiva dos animais.
A equipe também identificou que a microglia, um tipo de célula do sistema imunológico do cérebro, tem um papel central nesse processo. Quando os vasos linfáticos não funcionam bem, a microglia passa a produzir mais interleucina-6 (IL-6), uma molécula inflamatória que interfere no funcionamento das conexões neurais.
Para confirmar isso, os pesquisadores bloquearam a ação da IL-6, seja removendo o gene responsável por sua produção ou aplicando medicamentos específicos.

O resultado foi a restauração do equilíbrio das conexões cerebrais e a melhora no desempenho da memória dos camundongos.
Além disso, os cientistas testaram se fortalecer os vasos linfáticos poderia reverter o problema. Eles aplicaram esse tratamento em camundongos idosos, que naturalmente apresentam um enfraquecimento desses vasos.
Os resultados mostraram que restaurar a função linfática melhorou as conexões cerebrais e a memória, sugerindo um potencial caminho para combater o declínio cognitivo relacionado ao envelhecimento.
Essas descobertas indicam que o mau funcionamento dos vasos linfáticos meníngeos pode contribuir para problemas cognitivos ao afetar o equilíbrio das conexões neurais por meio da IL-6. No futuro, terapias que fortaleçam esses vasos ou bloqueiem a IL-6 podem ajudar a tratar doenças neurodegenerativas e melhorar a saúde cerebral durante o envelhecimento.

A imagem mostra como o sistema de drenagem do cérebro pode afetar a memória. Do lado esquerdo, quando os vasos linfáticos meníngeos funcionam bem, os resíduos cerebrais são eliminados corretamente, mantendo a microglia (células de defesa do cérebro) saudável e equilibrada. Isso ajuda a preservar a memória. Do lado direito, quando esses vasos estão disfuncionais, os resíduos se acumulam e ativam a microglia de forma prejudicial, aumentando a produção da molécula IL-6. Isso desequilibra os sinais entre os neurônios e pode levar a problemas de memória. Ou seja, manter o sistema de drenagem do cérebro saudável pode ser essencial para evitar o declínio cognitivo.
LEIA MAIS:
Meningeal lymphatics-microglia axis regulates synaptic physiology
Kyungdeok Kim, Daviti Abramishvili, Siling Du, Zachary Papadopoulos, Jay Cao, Jasmin Herz, Igor Smirnov, Jean-Leon Thomas, Marco Colonna, and Jonathan Kipnis
Cell. March 21, 2025
Abstract:
Meningeal lymphatics serve as an outlet for cerebrospinal fluid, and their dysfunction is associated with various neurodegenerative conditions. Previous studies have demonstrated that dysfunctional meningeal lymphatics evoke behavioral changes, but the neural mechanisms underlying these changes have remained elusive. Here, we show that prolonged impairment of meningeal lymphatics alters the balance of cortical excitatory and inhibitory synaptic inputs, accompanied by deficits in memory tasks. These synaptic and behavioral alterations induced by lymphatic dysfunction are mediated by microglia, leading to increased expression of the interleukin 6 gene (Il6). IL-6 drives inhibitory synapse phenotypes via a combination of trans- and classical IL-6 signaling. Restoring meningeal lymphatic function in aged mice reverses age-associated synaptic and behavioral alterations. Our findings suggest that dysfunctional meningeal lymphatics adversely impact cortical circuitry through an IL-6-dependent mechanism and identify a potential target for treating aging-associated cognitive decline.
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