Resumo:
A depressão é a principal causa de incapacidade no mundo e impacta tanto a saúde mental quanto física. Ela aumenta os riscos de doenças cardíacas, diabetes, osteoporose e derrames, reduzindo a expectativa de vida em até 10 anos. Alterações no cérebro, como atrofia do hipocampo e hiperatividade da amígdala, junto com inflamação e níveis elevados de cortisol, agravam os sintomas e dificultam o enfrentamento.
A depressão é reconhecida globalmente como um problema sério de saúde, sendo considerada a principal causa de incapacidade no mundo. No entanto, seu impacto vai muito além do bem-estar mental, afetando profundamente a saúde física de quem sofre com ela.
De maneira alarmante, indivíduos com depressão têm maior risco de desenvolver problemas como doenças cardíacas precoces, diabetes, osteoporose e até mesmo sofrer um derrame. Esses problemas de saúde física podem reduzir a expectativa de vida em cerca de 7 a 10 anos.
A depressão não impacta apenas o cérebro. Ela provoca alterações em diversos sistemas do corpo. Essas mudanças biológicas, que estão ligadas aos sintomas emocionais e psicológicos, também contribuem para o desenvolvimento de doenças físicas.
Por exemplo, há um desequilíbrio no sistema neuroendócrino — o conjunto de interações entre o cérebro e as glândulas que controlam os hormônios no corpo. Isso causa perturbações em funções importantes, como as relacionadas ao estresse e à regulação do humor.
A depressão melancólica é uma forma particular de depressão. Ao contrário do que muitos imaginam, ela não se manifesta necessariamente com lentidão ou apatia. Em vez disso, as pessoas experimentam níveis elevados de ansiedade, vigilância exagerada (um estado constante de alerta) e sentimentos intensos de inutilidade.
Outros sintomas característicos incluem a anedonia, que é a dificuldade ou incapacidade de sentir prazer em atividades antes consideradas agradáveis, dificuldade em dormir ou permanecer dormindo. Por fim, desesperança matinal, na qual os sintomas costumam ser mais intensos pela manhã.
No nível biológico, a depressão melancólica está associada a uma hiperatividade dos sistemas de resposta ao estresse, como o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA) e o sistema nervoso simpático.
Esses sistemas aumentam a produção de cortisol, conhecido como o hormônio do estresse, e de outras substâncias como a norepinefrina, intensificando os sintomas de ansiedade e desespero.
Estresse, ansiedade e depressão se sobrepõem. No entanto, na etiologia da ansiedade e da depressão, o estresse psicológico é um importante fator de risco. Fonte: Joodaki M, Radahmadi M.
A depressão melancólica provoca alterações em várias áreas do cérebro, algumas das quais têm funções vitais para a regulação emocional e o comportamento.
Essas alterações incluem a redução do córtex pré-frontal subgenual. Essa região do cérebro ajuda a controlar o estresse e processar emoções positivas. Sua diminuição pode reduzir a capacidade de lidar com ansiedade e emoções negativas.
Também ocorre a atrofia do hipocampo. O hipocampo, crucial para a memória e o aprendizado, também regula as respostas ao estresse. Quando encolhe, a capacidade de lidar com situações desafiadoras diminui.
A amígdala, responsável por processar o medo e a ansiedade, aumenta de tamanho e se torna mais ativa, exacerbando sentimentos de pânico e preocupação.
Por fim, a redução do córtex pré-frontal dorsolateral e do córtex orbitofrontal. Isso afeta o controle emocional, a tomada de decisões e a capacidade de sentir prazer, dificultando ainda mais o enfrentamento dos sintomas depressivos.
Essas mudanças estruturais e funcionais no cérebro ajudam a explicar por que é tão difícil superar a depressão apenas com força de vontade. Além disso, elas mostram como a depressão afeta não só o humor, mas também funções cognitivas importantes.
Algumas áreas do cérebro são hipoativas, enquanto outras regiões são hiperativas na depressão. Em vermelho as hiperativa e azul as pouco ativadas. Fonte: Joodaki M, Radahmadi M.
O estresse e a inflamação desempenham papéis interligados na depressão. Situações estressantes podem desencadear inflamação no corpo, e essa inflamação, por sua vez, agrava os sintomas depressivos.
Em pessoas deprimidas, os níveis de citocinas — proteínas inflamatórias — estão elevados, o que ativa células no cérebro chamadas microglia, gerando ainda mais inflamação. Esse estado inflamatório pode piorar os sintomas emocionais e físicos da depressão.
Os hormônios do estresse, como o CRH (hormônio liberador de corticotropina), desempenham um papel central nesse ciclo. Eles aumentam a ansiedade, reduzem o apetite, prejudicam o sono e afetam a capacidade de sentir prazer. Altos níveis de cortisol, por exemplo, podem até causar danos ao hipocampo, agravando a perda de memória e as dificuldades de aprendizagem.
Embora a depressão tenha impactos profundos, muitas dessas alterações no cérebro são reversíveis com o tratamento adequado. Antidepressivos podem ajudar a restaurar o volume do hipocampo, melhorar a integridade de regiões como o córtex pré-frontal subgenual e reduzir a inflamação.
Pesquisas também estão explorando novos tratamentos que vão além dos antidepressivos tradicionais. Medicamentos que bloqueiam os efeitos do CRH para reduzir a ansiedade e o estresse. Tambem, os moduladores de glicocorticoides ajudam a controlar os efeitos negativos do cortisol no cérebro.
Outro grupo são as terapias hormonais, como o uso de compostos estrogênicos, que protegem contra inflamação e apoiam a plasticidade do cérebro. Outra via de tratamento sao intervenções para regular insulina, que podem melhorar a saúde cerebral e a resiliência cognitiva.
Esses avanços oferecem esperança para tratamentos mais eficazes no futuro, abordando não apenas os sintomas da depressão, mas também os impactos físicos associados ao transtorno.
A compreensão dos aspectos neurobiológicos da depressão — como a interação entre estresse, inflamação e alterações cerebrais — é crucial para melhorar os tratamentos e o bem-estar dos pacientes. Esse conhecimento reforça a importância de tratar a depressão como uma condição complexa, que afeta mente e corpo de maneira integrada.
LEIA MAIS:
Is depression a neuroendocrine disease?
Philip W. Gold et al.
Brain Medicine, Published online: 14 November 2024.
Abstract:
Depression, according to the World Health Organization, stands as one of the most impactful disabilities worldwide. Its toll reaches beyond mood and thought, extending into physical health risks like coronary artery disease, diabetes, osteoporosis, and stroke, leading to a lifespan reduction of approximately 7 to 10 years in those affected. This paper explores the view of depression as a neuroendocrine disorder, especially focusing on the subtype of melancholic depression. Structural and functional disruptions in brain areas—such as the prefrontal cortex and hippocampus—reveal a misalignment in the stress response system that might drive depressive symptoms. Specifically, the roles of corticotropin-releasing hormone, norepinephrine hyperactivity, glucocorticoid levels, and inflammation-related mechanisms are investigated here. These insights point to promising new treatments targeting these neuroendocrine pathways that may enhance therapeutic responses.
IMAGENS:
Depression and Different Brain Areas: Neural Activity and Potential Mechanisms
Joodaki M, Radahmadi M.
Avicenna J Neuro Psycho Physiology 2022; 9 (4) : 150-162
Comments