
Após analisar dados de 21 países, os achados foram alarmantes. Apenas 6,9% das pessoas com transtornos mentais receberam um tratamento considerado eficaz. Os resultados mostram que a maior barreira para o tratamento não é a falta de médicos ou medicamentos, mas sim a conscientização da própria população sobre a necessidade de buscar ajuda.
Os transtornos mentais mais comuns incluem ansiedade, depressão, transtorno bipolar e dependência química, afetando milhões de pessoas globalmente. A ansiedade e a depressão são as mais prevalentes, impactando cerca de 4% a 7% da população anualmente. Transtornos como esquizofrenia e transtorno bipolar são menos comuns, mas podem ser altamente incapacitantes.
Os transtornos mentais e o abuso de substâncias afetam milhões de pessoas em todo o mundo, mas quantas realmente recebem o tratamento adequado? O acesso ao tratamento ainda é um desafio, tornando essencial a conscientização e o apoio à saúde mental.
Um estudo realizado em 21 países analisou essa questão e trouxe conclusões preocupantes: a maioria das pessoas que sofrem com esses problemas não recebe um tratamento eficaz.

Os pesquisadores da University of British Columbia, Canadá, entrevistaram 56.927 adultos, sendo 32.829 (57,7%) mulheres e a idade mediana de 43 anos, e avaliaram se aqueles com transtornos de ansiedade, humor (como depressão) e uso de substâncias (como dependência de álcool) estavam recebendo um tratamento condizente com as diretrizes médicas.
Os dados foram coletados entre 2001 e 2019, e os resultados foram analisados em 2024.
Os achados foram alarmantes. Apenas 6,9% das pessoas com transtornos mentais receberam um tratamento considerado eficaz. A pesquisa identificou três barreiras principais que impedem um maior acesso ao cuidado adequado:
Falta de percepção da necessidade de tratamento – Quase metade das pessoas (46,5%) simplesmente não acreditava precisar de ajuda médica, mesmo apresentando um transtorno diagnosticável.
Baixo contato com serviços de saúde – Cerca de 34,1% das pessoas não procuraram atendimento, muitas vezes porque não sabiam que precisavam de tratamento.
Tratamento inadequado – Mesmo entre aqueles que buscaram ajuda, 47% receberam um tratamento considerado insuficiente para realmente melhorar sua condição.
O estudo também revelou que o acesso ao tratamento de saúde mental ainda é muito limitado em muitos países. Curiosamente, os sistemas de saúde focados no atendimento geral parecem ter mais impacto no acesso ao tratamento do que os serviços específicos de saúde mental.
Além disso, fatores como nível educacional, renda e acesso ao seguro de saúde influenciaram a busca por tratamento. Homens e pessoas com menor escolaridade apresentaram maiores dificuldades para receber cuidados adequados.

Os resultados mostram que a maior barreira para o tratamento não é a falta de médicos ou medicamentos, mas sim a conscientização da própria população sobre a necessidade de buscar ajuda.
Para mudar esse cenário, os pesquisadores sugerem algumas ações. Aumentar a informação sobre transtornos mentais para que as pessoas reconheçam seus sintomas e saibam quando procurar ajuda.
Alem disso treinar médicos de atenção primária (como clínicos gerais) para identificar e tratar transtornos mentais, já que muitas pessoas não chegam a consultar especialistas. Tambem, melhorar a qualidade dos tratamentos disponíveis, garantindo que as pessoas recebam um atendimento adequado e eficaz.
Em resumo, o estudo destaca que ainda há um longo caminho a percorrer para garantir que quem sofre com transtornos mentais tenha acesso ao tratamento que realmente faz a diferença.
LEIA MAIS:
Effective Treatment for Mental and Substance Use Disorders in 21 Countries
Daniel V. Vigo, Dan J. Stein, Meredith G. Harris, Alan E. Kazdin, Maria Carmen Viana, Richard Munthali, Lonna Munro, Irving Hwang, Timothy L. Kessler, Sophie M. Manoukian, Nancy A. Sampson, Ronald C. Kessler, and the World Mental Health Survey
JAMA Psychiatry. Published online February 5, 2025.
doi:10.1001/jamapsychiatry.2024.4378
Abstract:
Accurate baseline information about the proportion of people with mental disorders who receive effective treatment is required to assess the success of treatment quality improvement initiatives. To examine the proportion of mental and substance use disorders receiving guideline-consistent treatment in multiple countries. In this cross-sectional study, World Mental Health (WMH) surveys were administered to representative adult (aged 18 years and older) household samples in 21 countries. Data were collected between 2001 and 2019 and analyzed between February and July 2024. Twelve-month prevalence and treatment of 9 DSM-IV anxiety, mood, and substance use disorders were assessed with the Composite International Diagnostic Interview. Effective treatment and its components were estimated with cross-tabulations. Multilevel regression models were used to examine predictors. The main outcome was proportion of effective treatment received, defined at the disorder level using information about disorder severity and published treatment guidelines regarding adequate medication type, control, and adherence and adequate psychotherapy frequency. Intermediate outcomes included perceived need for treatment, treatment contact separately in the presence and absence of perceived need, and minimally adequate treatment given contact. Individual-level predictors (multivariable disorder profile, sex, age, education, family income, marital status, employment status, and health insurance) and country-level predictors (treatment resources, health care spending, human development indicators, stigma, and discrimination) were traced through intervening outcomes. Among the 56 927 respondents (69.3% weighted average response rate), 32 829 (57.7%) were female; the median (IQR) age was 43 (31-57) years. The proportion of 12-month person-disorders receiving effective treatment was 6.9% (SE, 0.3). Low perceived need (46.5%; SE, 0.6), low treatment contact given perceived need (34.1%; SE, 1.0), and low effective treatment given minimally adequate treatment (47.0%; SE, 1.7) were the major barriers, but with substantial variation across disorders. Country-level general medical treatment resources were more important than mental health treatment resources. Other than for the multivariable disorder profile, which was associated with all intermediate outcomes, significant predictors were largely mediated by treatment contact. In addition to the gaps in treatment quality, these results highlight the importance of increasing perceived need, the largest barrier to effective treatment; the importance of training primary care treatment clinicians in recognition and treatment of mental disorders; the need to improve the continuum of care, especially from minimally adequate to effective treatment; and the importance of bridging the effective treatment gap for men and people with lower education.
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