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Mente em Crescimento: O Papel da Maturação Cerebral no Risco Genético de Transtornos Alimentares


Transtornos alimentares (TAs) são condições psiquiátricas graves, com altos riscos à saúde e impactos sociais. Problemas psicológicos, como ansiedade e comportamentos externos, também contribuem para o desenvolvimento de TAs. Um estudo com adolescentes identificou três perfis alimentares associados a diferentes trajetórias de maturação cerebral e fatores genéticos, destacando a importância de entender esses elementos para melhorar a prevenção e tratamento de TAs.


Transtornos alimentares (TAs) são transtornos mentais definidos por padrões de comportamento alimentar desviantes que afetam negativamente a saúde física ou mental do indivíduo. Eles são considerados patologias e são descritos em detalhes pelo CID 10, DSM IV e OMS. TAs são condições psiquiátricas sérias que afetam muitas pessoas, especialmente adolescentes.


Esses transtornos incluem problemas como anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtorno de compulsão alimentar, e podem ter consequências graves, como altas taxas de mortalidade e impactos significativos na qualidade de vida das pessoas que os enfrentam.


Os principais fatores de risco para o desenvolvimento de TAs incluem certos comportamentos alimentares, como a restrição alimentar, onde a pessoa come menos do que o necessário, e a alimentação excessiva, onde a pessoa consome grandes quantidades de comida de forma descontrolada. 


Esses comportamentos podem levar ao uso de métodos pouco saudáveis de controle de peso e ao desenvolvimento de transtornos alimentares, como a bulimia nervosa, que envolve episódios de compulsão seguidos de purgação, ou o transtorno de compulsão alimentar, onde a pessoa sente que não consegue parar de comer.

A restrição cognitiva (RC) é um tipo de comportamento alimentar onde a pessoa conscientemente limita a quantidade de comida que ingere para tentar controlar seu peso.


Estudos mostram que essa prática pode resultar em episódios de alimentação descontrolada e está fortemente associada a uma imagem corporal negativa e a transtornos alimentares. 


Por outro lado, a alimentação emocional e a alimentação descontrolada são comportamentos onde a pessoa come em resposta a emoções negativas ou ao ambiente ao redor, e ambos estão ligados a um maior risco de obesidade e um maior índice de massa corporal (IMC).


Pesquisas indicam que comportamentos alimentares como restrição cognitiva, alimentação emocional e alimentação descontrolada podem ser parcialmente influenciados pela genética. 


Certas variações genéticas associadas à obesidade estão também relacionadas a esses comportamentos, e estudos mostraram que o desenvolvimento de comportamentos alimentares problemáticos durante a infância e adolescência pode estar ligado a fatores genéticos. 

Além disso, fatores neurais desempenham um papel crucial nos transtornos alimentares. Estudos neurobiológicos identificaram que sistemas no cérebro responsáveis por emoções, memória e controle executivo estão envolvidos no controle alimentar. 


Por exemplo, a ativação de áreas no cérebro como o córtex pré-frontal, que ajuda no autocontrole e na tomada de decisões, e o sistema de recompensa estriatal, que processa sensações de prazer, estão associadas a diferenças individuais na restrição cognitiva.


Estudos longitudinais revelaram diferenças volumétricas no cérebro, particularmente nas regiões estriatal e pré-frontal, o que sugere que diferenças na maturação cerebral podem ser fatores etiológicos para comportamentos alimentares desordenados e sintomas depressivos comórbidos.


Sintomas de psicopatologia, como ansiedade e problemas de comportamento, também podem ser precursores de transtornos alimentares. Adolescentes que apresentam problemas de comportamento podem estar em maior risco de desenvolver TAs, enquanto aqueles que sofrem de ansiedade generalizada têm mais chances de desenvolver transtornos alimentares durante a adolescência. 


Emoções negativas e dificuldades funcionais, como problemas no trabalho ou na escola, também são fatores que podem prever o surgimento de TAs.


Cientistas do King’s College London conduziram um estudo para entender melhor os comportamentos alimentares, usando dados de adolescentes acompanhados ao longo de vários anos. 

Fluxo de trabalho de perguntas e análises de pesquisa. Caracterização multimodal de diferentes perfis alimentares. EE, alimentação emocional; UE, alimentação descontrolada; RE, comedores restritivos; E/UE, comedores emocionais e descontrolados; HE, comedores saudáveis; IP, problema internalizante; EP, problema externalizante; GMV, volume de substância cinzenta; CT, espessura cortical; SD, profundidade sulcal; IMC, índice de massa corporal; PGS, pontuação poligênica. As regiões 1 e 2 representam áreas do cérebro que mostraram uma interação significativa idade por grupo em suas comparações de trajetória.


Eles identificaram três grupos principais de comportamento alimentar aos 23 anos: comedores restritivos, comedores emocionais/descontrolados e comedores saudáveis.


Descobriu-se que fatores como a genética, sintomas de transtornos alimentares, problemas de comportamento e a maturação cerebral distinguiam esses grupos.

As análises mostraram que comedores restritivos e emocionais/descontrolados tinham menos reduções em volumes cerebrais ao longo do tempo, sugerindo que a maturação cerebral nesses grupos pode ser diferente. 


Além disso, descobriu-se que menores reduções no volume do cerebelo estavam relacionadas à alimentação restritiva, enquanto que alterações em outras regiões cerebrais estavam ligadas à alimentação emocional e descontrolada.


Essas descobertas ajudam a iluminar como a genética, o desenvolvimento do cérebro e os comportamentos alimentares interagem para influenciar o risco de transtornos alimentares.


Entender essas relações pode ser crucial para desenvolver intervenções mais eficazes para prevenir e tratar esses transtornos em adolescentes e adultos.



LEIA MAIS:


Relationships of eating behaviors with psychopathology, brain maturation and genetic risk for obesity in an adolescent cohort study. 

Yu, X., Zhang, Z., Herle, M. et al. 

Nat. Mental Health 3, 58–70 (2025). 


Abstract:


Unhealthy eating, a risk factor for eating disorders (EDs) and obesity, often coexists with emotional and behavioral problems; however, the underlying neurobiological mechanisms are poorly understood. Analyzing data from the longitudinal IMAGEN adolescent cohort, we investigated associations between eating behaviors, genetic predispositions for high body mass index (BMI) using polygenic scores (PGSs), and trajectories (ages 14–23 years) of ED-related psychopathology and brain maturation. Clustering analyses at age 23 years (N = 996) identified 3 eating groups: restrictive, emotional/uncontrolled and healthy eaters. BMI PGS, trajectories of ED symptoms, internalizing and externalizing problems, and brain maturation distinguished these groups. Decreasing volumes and thickness in several brain regions were less pronounced in restrictive and emotional/uncontrolled eaters. Smaller cerebellar volume reductions uniquely mediated the effects of BMI PGS on restrictive eating, whereas smaller volumetric reductions across multiple brain regions mediated the relationship between elevated externalizing problems and emotional/uncontrolled eating, independently of BMI. These findings shed light on distinct contributions of genetic risk, protracted brain maturation and behaviors in ED symptomatology.

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