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Música clássica sincroniza ondas cerebrais e melhora sintomas de depressão


Resumo:

A música clássica ocidental tem um impacto profundo na atividade cerebral, especialmente em pessoas com depressão resistente ao tratamento. Cientistas, ao analisarem ondas cerebrais e imagens neurais, descobriram que a música sincroniza as oscilações neurais entre regiões do cérebro ligadas ao processamento sensorial e emocional, resultando em uma melhora no humor. Esses achados sugerem que a musicoterapia personalizada pode se tornar uma ferramenta eficaz no tratamento da depressão, particularmente quando combinada com outros estímulos sensoriais.


A depressão é um desafio significativo à saúde pública, afetando cerca de 4,4% da população mundial e sendo uma das principais causas de incapacidade global. Aproximadamente metade dos pacientes com transtorno depressivo maior (TDM) desenvolvem depressão resistente ao tratamento (DRT), caracterizada pela falta de resposta às intervenções convencionais, o que destaca a necessidade urgente de novos tratamentos antidepressivos.


Entre as abordagens não farmacológicas, ouvir música tem se mostrado uma estratégia promissora, com amplo potencial terapêutico. A música é capaz de evocar emoções, tornando-se uma ferramenta valiosa para estudar respostas afetivas e seus correlatos neurais.


Embora seja amplamente reconhecido que a música clássica pode influenciar o humor, um estudo recente, publicado no periódico Cell Reports, revela como cientistas na China usaram medições de ondas cerebrais e técnicas de imagem neural para demonstrar os efeitos positivos da música clássica ocidental no cérebro.


O objetivo da pesquisa é identificar maneiras mais eficazes de usar a música para ativar o cérebro em pessoas que não respondem bem a outros tratamentos, como aquelas com DRT.


“Nossa pesquisa une neurociência, psiquiatria e neurocirurgia, criando uma base sólida para futuros estudos que explorem a interação entre música e emoção”, afirma o autor sênior Bomin Sun, diretor e professor do Centro de Neurocirurgia Funcional da Universidade Jiao Tong de Xangai. 

A música tem a capacidade única de modular a atividade neural em estruturas subcorticais do cérebro, influenciando essas áreas por meio do córtex auditivo. Isso abre caminho para avanços potenciais no uso de tratamentos baseados em música para transtornos psiquiátricos associados à disfunção dessas regiões.


A emoção gerada pela música está fortemente ligada ao circuito de recompensa do cérebro, no qual o núcleo leito da estria terminal (BNST) – parte da amígdala estendida – desempenha um papel crucial. O BNST regula comportamentos relacionados à recompensa, como o acasalamento, e sua ativação pode intensificar o desejo por esse comportamento em camundongos.


No que diz respeito ao processamento de emoções, estudos de neuroimagem em humanos indicam que tanto a amígdala quanto o BNST compartilham propriedades funcionais semelhantes, incluindo a resposta a ameaças ambíguas.


Ambas as estruturas cerebrais reagem de forma transitória a ameaças imediatas, mas também apresentam atividade aumentada durante a exposição prolongada a situações ameaçadoras. Esses insights reforçam o papel central dessas regiões no processamento emocional e nas respostas comportamentais a estímulos. 

(A) Os pacientes foram submetidos a tratamento musical enquanto gravavam LFPs no circuito BNST-NAc e sinais de EEG temporais. (B) Comparação das pontuações de depressão visual e ansiedade na escala visual analógica para depressão (VAS-D) e escala visual analógica para ansiedade (VAS-A) entre os grupos de tristeza e excitação após ouvir música. (C) Análise de correlação entre o grau de apreciação musical e melhora nos sintomas depressivos (n = 13). (D) Os pacientes foram reagrupados com base nos resultados da escala. (E) Resumo de todo o procedimento experimental. 

DOI: 10.1016/j.celrep.2024.114474


O núcleo accumbens (NAc) desempenha um papel central no circuito de recompensa, sendo especialmente sensível a sinais emocionais negativos. O BNST e o NAc formam uma rede funcionalmente integrada nesse circuito. Estudos anatômicos sugerem que a via GABAérgica entre o BNST e o NAc está diretamente envolvida em respostas neurais associadas à depressão.


A ativação do BNST pode melhorar as respostas do NAc, ajudando a reduzir experiências emocionais negativas. Pesquisas iniciais indicam que as emoções induzidas pela música estão ligadas à atividade nesse circuito BNST-NAc.


A música influencia o circuito de recompensa por meio de dois mediadores principais: o córtex auditivo e o córtex motor. O processamento auditivo da música, iniciado no córtex auditivo primário, coordena a atividade neuronal, ativando o circuito de recompensa e gerando respostas emocionais.


Martorell e colaboradores demonstraram que frequências auditivas específicas podem arrastar neurônios auditivos corticais, alterando seu padrão de disparo de atividade irregular espontânea para uma ação coordenada, promovendo efeitos neuroprotetores.


Nesse contexto, os cientistas utilizaram implantes para monitorar a atividade cerebral em um circuito conectando o BNST ao NAc em 13 pacientes com depressão resistente ao tratamento. Eles registraram sinais de eletroencefalograma (EEG) no couro cabeludo, além de gravações intracranianas do BNST e do NAc enquanto os pacientes ouviam música clássica.


Os participantes foram divididos em dois grupos: aqueles com baixa apreciação musical e aqueles com alta apreciação musical, buscando investigar a correlação entre a música e a atividade no circuito de recompensa. 

Usando esses implantes, os pesquisadores descobriram que os pacientes do grupo com alta apreciação musical apresentaram uma sincronização neural mais significativa e melhores efeitos antidepressivos.


Em contraste, aqueles do grupo com baixa apreciação musical mostraram resultados mais modestos. Os efeitos antidepressivos da música parecem ocorrer por meio da sincronização das oscilações neurais entre o córtex auditivo, responsável pelo processamento sensorial, e o circuito de recompensas, que processa informações emocionais.


"Este estudo revela que a música induz um bloqueio triplo das oscilações neurais no circuito cortical-BNST-NAc por meio da sincronização auditiva", explica o professor Bomin Sun, diretor do Centro de Neurocirurgia Funcional da Universidade Jiao Tong de Xangai.


Ao dividir os pacientes em grupos, os pesquisadores conseguiram analisar os mecanismos antidepressivos da música com maior precisão e propor planos de musicoterapia personalizados que aprimoram os resultados do tratamento.


Por exemplo, ao inserir ruído de frequência teta nas músicas, aumentaram o acoplamento oscilatório entre o BNST e o NAc, o que levou os pacientes com baixa apreciação musical a relatar maior satisfação com a música.


Diversas peças de música clássica ocidental foram utilizadas no estudo, uma escolha intencional, já que a maioria dos participantes não tinha familiaridade com esse gênero, evitando, assim, possíveis interferências causadas pela familiaridade.


Os próximos passos da equipe de pesquisa incluirão explorar como a interação entre a música e as estruturas profundas do cérebro afeta os transtornos depressivos. Eles também planejam introduzir estímulos sensoriais adicionais, como imagens visuais, para avaliar os potenciais benefícios terapêuticos da estimulação multissensorial no tratamento da depressão.


"Colaborando com clínicos, musicoterapeutas, cientistas da computação e engenheiros, pretendemos desenvolver produtos de saúde digital baseados em musicoterapia, como aplicativos para smartphones e dispositivos vestíveis", afirma Sun.



LEIA MAIS:


Auditory entrainment coordinates cortical-BNST-NAc triple time locking to alleviate the depressive disorder

Xin Lv; Yuhan Wang; Yingying Zhang; Yunhao Wu; Valerie Voon

Volume 43, Issue 8114474. August 27, 2024


Abstract:


Listening to music is a promising and accessible intervention for alleviating symptoms of major depressive disorder. However, the neural mechanisms underlying its antidepressant effects remain unclear. In this study on patients with depression, we used auditory entrainment to evaluate intracranial recordings in the bed nucleus of the stria terminalis (BNST) and nucleus accumbens (NAc), along with temporal scalp electroencephalogram (EEG). We highlight music-induced synchronization across this circuit. The synchronization initiates with temporal theta oscillations, subsequently inducing local gamma oscillations in the BNST-NAc circuit. Critically, the incorporated external entrainment induced a modulatory effect from the auditory cortex to the BNST-NAc circuit, activating the antidepressant response and highlighting the causal role of physiological entrainment in enhancing the antidepressant response. Our study explores the pivotal role of the auditory cortex and proposes a neural oscillation triple time-locking model, emphasizing the capacity of the auditory cortex to access the BNST-NAc circuit.


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