top of page

Jogo da Mente: Como o Esporte Aumenta sua Memória e Reflexos

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 27 de mar.
  • 5 min de leitura

Atletas não dependem apenas da força física, mas também da memória de trabalho para tomar decisões rápidas. Estudos indicam que esportes podem melhorar essa habilidade, especialmente quando comparados a pessoas sedentárias. Isso sugere que a prática esportiva beneficia não só o corpo, mas também o cérebro.


O desempenho esportivo de alto nível não depende apenas da capacidade física e técnica dos atletas, mas também do desenvolvimento e uso eficiente de funções cognitivas, como atenção e tomada de decisões. 


Durante a prática esportiva, o cérebro se adapta, criando novas conexões e fortalecendo sua estrutura, o que melhora as funções cognitivas. O exercício regular contribui para essas melhorias, enquanto um estilo de vida sedentário pode prejudicar a cognição.


Nos últimos anos, os estudos têm dado mais atenção ao papel da memória de trabalho (WM) no esporte. A memória de trabalho é uma espécie de “bloco de notas mental” que permite armazenar e manipular informações temporárias, ajudando os atletas a tomar decisões rápidas durante os jogos.  

Por exemplo, jogadores de futebol precisam monitorar constantemente a posição dos colegas e adversários para planejar seus movimentos. Para medir essa habilidade, cientistas utilizam testes como o N-back.


O teste N-back é uma tarefa cognitiva usada para medir a memória de trabalho e a capacidade de atenção. Durante o teste, os participantes veem ou ouvem uma sequência de estímulos (como letras, números ou imagens) e precisam identificar quando o estímulo atual corresponde a um apresentado N posições antes na sequência.

Por exemplo, em um teste 2-back, se a sequência for A - B - C - A, o participante deve reconhecer que o último "A" corresponde ao que apareceu duas posições antes. O teste pode variar em dificuldade aumentando o valor de N, exigindo maior esforço mental e ativação de áreas do cérebro associadas à memória e ao controle cognitivo.


Os estudos mostram que atletas tendem a ter um desempenho superior em tarefas de memória de trabalho relacionadas ao esporte. No entanto, os resultados sobre sua vantagem em tarefas cognitivas gerais (que não envolvem esportes) são contraditórios. 


Algumas pesquisas indicam que a prática esportiva pode melhorar a cognição de forma ampla, enquanto outras sugerem que os benefícios se limitam ao contexto esportivo. Além disso, o tipo de esporte praticado parece influenciar o impacto na memória de trabalho. 

Atletas de esportes de habilidade aberta (como futebol e basquete), que exigem adaptação constante a mudanças no ambiente, podem desenvolver maior flexibilidade cognitiva do que aqueles que praticam esportes de habilidade fechada (como natação ou corrida).


Para entender melhor essa relação, cientistas analisaram diversos estudos comparando o desempenho de atletas e não atletas em testes de memória de trabalho. 


Os cientistas reuniram informações de várias bases de dados científicas, como PubMed e Scopus, que armazenam artigos de pesquisas sobre saúde e comportamento humano envolvendo 1455 participantes. Eles buscaram artigos publicados até 29 de janeiro de 2024, sem restrições de idioma ou data de publicação.


Para encontrar estudos relevantes, usaram palavras-chave como “atletas” e “memória de trabalho”. Essas palavras foram combinadas com outras relacionadas, como “jogadores” e “capacidade de memória”, utilizando uma técnica chamada operadores booleanos, que ajuda a refinar os resultados. 


Além disso, revisaram manualmente artigos e referências para garantir que nada importante fosse deixado de fora. Dois especialistas revisaram todos os estudos e, caso houvesse discordância, um terceiro especialista ajudava a decidir.


Para garantir que os resultados fossem confiáveis, os pesquisadores estabeleceram regras para selecionar os estudos. Para serem incluídos, os estudos precisavam: Ser pesquisas originais com coleta de dados próprios; Comparar grupos de atletas e não atletas; Avaliar a memória de trabalho de forma prática; medindo precisão ou capacidade; Incluir apenas participantes saudáveis; Ter sido publicados nos últimos 20 anos (entre 2004 e 2024); e Estar escritos em inglês.

Eles definiram “atletas” como pessoas que praticam esportes competitivos regularmente. Já os “não  atletas” eram aqueles que não cumpriam as diretrizes mínimas de atividade física ou praticavam apenas de forma recreativa, sem foco em competições.


Os pesquisadores excluíram estudos que:


- Tivessem menos de 10 participantes em um dos grupos.

- Envolvessem jogadores de e-sports (games) ou xadrez, pois esses não exigem atividade física.

- Avaliassem apenas os efeitos de treinamentos físicos temporários.


A análise mostrou que, no geral, atletas apresentam uma leve vantagem sobre não atletas. No entanto, essa vantagem é mais evidente quando comparados a indivíduos sedentários, sugerindo que a falta de atividade física pode prejudicar a função cognitiva.

A pesquisa também investigou outros fatores que podem influenciar a memória de trabalho, como idade, nível de experiência esportiva e tipo de esporte. Atletas mais velhos tendem a se beneficiar mais da prática esportiva, pois o exercício ajuda a reduzir o declínio cognitivo associado ao envelhecimento. 


Esportes aeróbicos, como corrida e ciclismo, também parecem ter um impacto positivo na memória de trabalho devido à sua relação com a saúde do cérebro. Por outro lado, esportes de alto impacto, como futebol americano e boxe, podem trazer riscos de lesões cerebrais, o que pode afetar negativamente a cognição.


No geral, os resultados reforçam a importância da prática esportiva não apenas para o desempenho físico, mas também para a saúde mental e cognitiva. A atividade física regular pode ser uma estratégia eficaz para manter o cérebro saudável, especialmente em um mundo onde o sedentarismo está cada vez mais presente.



LEIA MAIS:


Comparison of working memory performance in athletes and non-athletes: a meta-analysis of behavioural studies

Chenxiao Wu, Chenyuan Zhang, Xueqiao Li, Chaoxiong Ye and Piia Astikainen

Memory. Volume 33, 2025 - Issue 2, Pages 259-277

DOI: 10.1080/09658211.2024.2423812


Abstract: 


The relationship between sports expertise and working memory (WM) has garnered increasing attention in experimental research. However, no meta-analysis has compared WM performance between athletes and non-athletes. This study addresses this gap by comparing WM performance between these groups and investigating potential moderators. A comprehensive literature search identified 21 studies involving 1455 participants from seven databases, including PubMed, Embase, and ProQuest. Athletes primarily engaged in basketball, football, and fencing, while non-athletes included some identified as sedentary. The risk of bias assessment indicated low risk across most domains. Publication bias, assessed through a funnel plot and statistical tests, showed no significant evidence of bias. The forest plot, using a random effects model, revealed moderate heterogeneity. The overall effect size indicated a statistically significant, albeit small, advantage for athletes over non-athletes (Hedges’ g = 0.30), persisting across sports types and performance levels. Notably, this advantage was more pronounced when athletes were contrasted with a sedentary population (Hedges’ g = 0.63), compared to the analysis where the sedentary population was excluded from the non-athlete reference group (Hedges’ g = 0.15). Our findings indicate a consistent link between sports expertise and improved WM performance, while sedentary lifestyles appear to be associated with WM disadvantages.

Comments


© 2020-2025 by Lidiane Garcia

bottom of page