Resumo:
Um novo estudo revela uma ligação entre bactérias intestinais e a doença de Parkinson (DP). Pesquisadores descobriram uma diminuição nos genes responsáveis pela síntese de vitaminas B essenciais em pacientes com DP, o que pode enfraquecer a barreira intestinal e levar à inflamação no cérebro. Essa descoberta sugere que a suplementação de vitamina B pode ser uma via terapêutica potencial para a DP.
A doença de Parkinson (DP) é um distúrbio de longo prazo que afeta o cérebro e piora gradualmente ao longo do tempo. Ela não causa apenas sintomas físicos, mas também afeta outras partes do corpo e da mente.
Os principais sintomas físicos são rigidez muscular, dificuldade de equilíbrio, lentidão de movimento, problemas para caminhar e tremores, especialmente em repouso. Já os sintomas não físicos podem incluir problemas de memória, depressão, redução do olfato, problemas de bexiga, constipação e pressão arterial baixa.
Os cientistas acreditam que o Parkinson é causado por um acúmulo anormal de uma proteína chamada alfa-sinucleína nas células cerebrais que produzem dopamina, uma substância química que ajuda a controlar o movimento e o humor.
Esses aglomerados, chamados corpos de Lewy, não ficam apenas no cérebro, mas podem se espalhar para outras áreas do sistema nervoso e até mesmo para fora dele, afetando o olfato, o sistema digestivo e outros órgãos.
Em 2003, o neuropatologista alemão Heiko Braak propôs que esses aglomerados de proteínas prejudiciais podem começar a se formar no intestino ou em partes do cérebro conectadas ao intestino e, então, gradualmente se espalhar para outras áreas do cérebro responsáveis pelo movimento.
Isso pode explicar por que algumas pessoas apresentam sintomas como constipação, depressão ou certos distúrbios do sono muitos anos antes de desenvolverem os sintomas físicos comuns do Parkinson.
Curiosamente, a cirurgia que remove parte de um nervo conectado ao intestino (uma vagotomia) parece reduzir o risco de Parkinson em cerca de 50%, sugerindo que a doença pode começar no intestino para algumas pessoas.
O papel das bactérias intestinais, ou do microbioma, no Parkinson está recebendo mais atenção. Em vários estudos, os pesquisadores descobriram que pessoas com Parkinson tendem a ter mais certos tipos de bactérias intestinais e menos outras que são benéficas para a saúde geral.
Por exemplo, bactérias como Akkermansia, que decompõe o muco, são frequentemente encontradas em quantidades maiores, enquanto bactérias benéficas como Faecalibacterium e Roseburia são menores.
Bactéria Akkermansia
Essas bactérias produzem substâncias essenciais para a saúde, como ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs), que ajudam a proteger as células cerebrais e apoiam uma resposta imunológica saudável.
Níveis reduzidos desses AGCCs e certas vitaminas produzidas por bactérias intestinais, como B2 (riboflavina) e B7 (biotina), são observados no Parkinson e podem estar envolvidos em sua progressão.
Um estudo, liderado por pesquisadores da Universidade de Nagoya, no Japão, analisou amostras de pessoas com Parkinson em vários países. Eles descobriram que bactérias específicas envolvidas na produção de riboflavina e biotina eram menores em pessoas com Parkinson.
Essas vitaminas são essenciais porque a riboflavina, por exemplo, reduz os danos celulares e a inflamação, que são problemas na doença de Parkinson. Quando as bactérias intestinais não produzem o suficiente dessas vitaminas, a suplementação com riboflavina pode ser benéfica para ajudar a proteger a saúde do cérebro.
A pesquisa também destaca como o intestino pode se tornar mais permeável, permitindo que substâncias nocivas como pesticidas e outras toxinas entrem no corpo e possivelmente desencadeiem o acúmulo de proteínas prejudiciais nos nervos intestinais.
Esta pesquisa sugere que, ao melhorar a saúde intestinal e restaurar o equilíbrio nas bactérias intestinais, pode ser possível retardar ou até mesmo prevenir a progressão do Parkinson.
Resumo e perspectivas especulativas do estudo atual. A diminuição de ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs) e poliaminas leva ao afinamento das camadas de muco, o que aumenta a permeabilidade intestinal. O aumento da permeabilidade intestinal pode expor o plexo nervoso intestinal a pesticidas, herbicidas e outras toxinas e levar à agregação anormal de fibrilas de α-sinucleína. Além disso, os AGCC e as poliaminas facilitam a polarização do macrófago M2 e diminuem relativamente o macrófago M150, e sua deficiência induz neuroinflamação. Portanto, levantamos a hipótese de que a disbiose intestinal na DP causa diminuição da produção fecal de AGCC e poliaminas, o que aumenta a formação de fibrilas de α-sinucleína intestinal e a neuroinflamação. F.p., Faecalibacterium prausnitzii; B.o., Blautia obeum; B.w., Blautia wexlerae; P.v., Phocaeicola vulgatus; B.ov., Bacteroides ovatus; P.d., Phocaeicola dorei; e B.f., Bacteroides fragilis.
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Meta-analysis of shotgun sequencing of gut microbiota in Parkinson’s disease.
Hiroshi Nishiwaki, Jun Ueyama, Mikako Ito, Tomonari Hamaguchi, Keiichi Takimoto, Tetsuya Maeda, Kenichi Kashihara, Yoshio Tsuboi, Hiroshi Mori, Ken Kurokawa, Masahisa Katsuno, Masaaki Hirayama & Kinji Ohno
Nature. npj Parkinsons Dis. 10, 106 (2024).
Abstract:
We aimed to identify gut microbial features in Parkinson’s disease (PD) across countries by meta-analyzing our fecal shotgun sequencing dataset of 94 PD patients and 73 controls in Japan with five previously reported datasets from USA, Germany, China1, China2, and Taiwan. GC-MS and LC-MS/MS assays were established to quantify fecal short-chain fatty acids (SCFAs) and fecal polyamines, respectively. α-Diversity was increased in PD across six datasets. Taxonomic analysis showed that species Akkermansia muciniphila was increased in PD, while species Roseburia intestinalis and Faecalibacterium prausnitzii were decreased in PD. Pathway analysis showed that genes in the biosyntheses of riboflavin and biotin were markedly decreased in PD after adjusting for confounding factors. Five out of six categories in carbohydrate-active enzymes (CAZymes) were decreased in PD. Metabolomic analysis of our fecal samples revealed that fecal SCFAs and polyamines were significantly decreased in PD. Genes in the riboflavin and biotin biosyntheses were positively correlated with the fecal concentrations of SCFAs and polyamines. Bacteria that accounted for the decreased riboflavin biosynthesis in Japan, the USA, and Germany were different from those in China1, China2, and Taiwan. Similarly, different bacteria accounted for decreased biotin biosynthesis in the two country groups. We postulate that decreased SCFAs and polyamines reduce the intestinal mucus layer, which subsequently facilitates the formation of abnormal α-synuclein fibrils in the intestinal neural plexus in PD, and also cause neuroinflammation in PD.
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