top of page

Insuficiência Cardíaca: O Vilão Silencioso por Trás do Encolhimento do Cérebro

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 7 de abr.
  • 5 min de leitura

A insuficiência cardíaca pode afetar o cérebro, aumentando o risco de problemas de memória e demência. Esse estudo analisou mais de 10 mil pessoas e descobriu que quanto pior a função do coração, menor era o volume de algumas regiões cerebrais, como o hipocampo, essencial para a memória. Isso sugere que manter o coração saudável pode ajudar a proteger o cérebro contra o envelhecimento e o declínio cognitivo.


A insuficiência cardíaca é uma condição em que o coração não consegue bombear sangue de maneira eficiente para o corpo. Isso pode afetar diversos órgãos, incluindo o cérebro. Pesquisas anteriores mostraram que pessoas com insuficiência cardíaca têm um risco maior de apresentar problemas de memória, dificuldades cognitivas e até mesmo demência. 


Dependendo dos critérios usados, entre 25% e 70% dos pacientes com insuficiência cardíaca apresentam algum grau de comprometimento cognitivo, o que pode dificultar o tratamento e a qualidade de vida.


Os cientistas ainda não entendem completamente por que a insuficiência cardíaca prejudica o cérebro, mas algumas hipóteses incluem:


  1. Redução do fluxo sanguíneo cerebral (hipoperfusão), levando a danos nas células nervosas.


  2. Processos inflamatórios, que podem afetar a saúde dos neurônios.


  3. Mini AVCs repetitivos (eventos tromboembólicos), causando pequenos danos acumulativos ao cérebro.


  4. Produção de substâncias pelo coração, como os peptídeos natriuréticos, que podem afetar o cérebro.


Estudos em animais já demonstraram que a falta de sangue no cérebro pode causar deterioração da memória, perda de neurônios e diminuição do tamanho do hipocampo, uma região crucial para o aprendizado e a memória.


Alguns estudos em humanos mostraram cérebro menor e maior risco de danos aos pequenos vasos sanguíneos do cérebro, enquanto outros não encontraram essa relação.


Diante dessa incerteza, os pesquisadores decidiram fazer um grande estudo para entender como a insuficiência cardíaca e outros problemas cardíacos estão ligados a mudanças estruturais no cérebro.


Os pesquisadores da Erasmus MC, Holanda, analisaram dados de 7 grandes estudos internacionais realizados nos Estados Unidos e na Europa. No total, participaram 10.889 pessoas com idade média de 66,8 anos. A ideia foi comparar os resultados de exames de coração e cérebro para ver se existia uma relação entre a função cardíaca e alterações cerebrais.


Passos do estudo:


- Coleta de dados do coração: Foram usados exames como ecocardiograma (ultrassom do coração) e ressonância magnética cardíaca para avaliar o quão bem o coração bombeava o sangue. Os cientistas analisaram principalmente:


  • Fração de ejeção (a porcentagem de sangue que o coração bombeia a cada batida).

  • Fluxo sanguíneo e relaxamento do coração (importante para saber se o coração enche e esvazia corretamente).

  • Presença ou não de insuficiência cardíaca.


-Coleta de dados do cérebro: Os participantes fizeram ressonância magnética cerebral para medir o Volume total do cérebro (um cérebro menor pode ser um sinal precoce de neurodegeneração). Também o Volume do hipocampo (região fundamental para a memória) foi averiguado, alem da quantidade de lesões na substância branca (manchas no cérebro que indicam danos aos pequenos vasos sanguíneos). 


Os pesquisadores compararam os dados do coração e do cérebro usando modelos estatísticos avançados, levando em conta fatores como idade, sexo e outras condições médicas. Eles utilizaram uma meta-análise para combinar os resultados de todos os estudos e garantir que os achados fossem confiáveis.

Os pesquisadores descobriram que quanto pior a função do coração, menores eram algumas regiões do cérebro. Especificamente, pessoas com disfunção cardíaca moderada a grave tinham cérebros menores do que aquelas com um coração saudável.


Problemas no relaxamento do coração (disfunção diastólica) estavam associados a um hipocampo menor, o que pode afetar a memória e aumentar o risco de demência. 


Pessoas com insuficiência cardíaca diagnosticada tinham um volume cerebral reduzido, especialmente no hipocampo. No entanto, não foi encontrada uma relação clara entre disfunção cardíaca e lesões na substância branca (área do cérebro associada à comunicação entre os neurônios).


Os resultados sugerem que problemas cardíacos podem levar a mudanças no cérebro mesmo antes do aparecimento de sintomas cognitivos. Isso significa que manter um coração saudável pode ser essencial para proteger o cérebro do envelhecimento e da demência.


Os pesquisadores recomendam que estudos futuros analisem se o tratamento precoce da insuficiência cardíaca pode prevenir o declínio cognitivo. Além disso, seria interessante acompanhar os participantes ao longo do tempo para entender melhor como essas alterações cerebrais evoluem.


Esse estudo reforça a ideia de que coração e cérebro estão profundamente conectados e que cuidar da saúde cardiovascular pode ter benefícios para a função cerebral.



LEIA MAIS:


Clinical and Imaging Markers of Cardiac Function and Brain Health: A Meta-Analysis of Community-Based Studies

Amber Yaqub, Joshua C. Bis, Stefan Frenzel, Marisa Koini, Djass Mbangdadji, Gina M. Peloso, Rajesh Talluri, Alvaro Alonso, Martin Bahls, Robin Bülow, Marcus Dörr, Stephan Felix, Alison Fohner, Nele Friedrich, Edith Hofer, Maryam Kavousi, Lenore J. Launer, Tran Le, Will Longstreth, Thomas H. Mosley, Meike W. Vernooij, Henry Völzke, Katharina Wittfeld, Alexa S. Beiser, Hans J. Grabe, Vilmundur Gudnason, Mohammad Arfan Ikram, Bruce M. Psaty, Reinhold Schmidt, Jeannette Simino, Sudha Seshadri and Frank J. Wolters as Cross-Cohort Collaboration

Neurology. Volume 104 | Number 8. April 22, 2025

DOI: 10.1212/WNL.0000000000213421


Abstract: 


Cardiac dysfunction and heart failure are linked to cognitive impairment, but the underlying brain pathology remains undetermined. We investigated associations between cardiac function (measured by echocardiography or cardiac MRI), clinical heart failure, and structural markers on brain MRI, including volumes of gray and white matter (WM), the hippocampus, and white matter hyperintensities (WMHs). We leverage data from 7 prospective, community-based cohorts across Europe and the United States, all part of the Cross-Cohort Collaboration. The included cohorts were the Age, Gene/Environment Susceptibility-Reykjavik Study, Atherosclerosis Risk in Communities study, Austrian Stroke Prevention Study, Cardiovascular Health Study, Framingham Heart Study, Rotterdam Study, and Study of Health in Pomerania (SHIP-START and SHIP-TREND). Each cohort performed cross-sectional multivariable linear regression analyses, after which estimates were pooled through random-effects meta-analysis. Heterogeneity was assessed by the I2 index (%). Among 10,889 participants (mean age: 66.8 years, range 52.0–76.0; 56.7% women), markers of systolic dysfunction were consistently associated with smaller total brain volume (TBV) (e.g., adjusted standardized mean difference for moderate to severe dysfunction −0.19, 95% CI −0.31 to −0.07, I2 = 20%). Impaired relaxation and restrictive diastolic dysfunction were also associated with smaller TBV (e.g., for impaired relaxation −0.08, 95% CI −0.15 to −0.01, I2 = 32%) and hippocampal volume (−0.18, 95% CI −0.33 to −0.03, I2 = 0%), with similar results for the E/A-ratio. Systolic and diastolic dysfunction was not consistently associated with volume of WMHs. Among 5 cohorts with available data, 302 (3.4%) participants had clinical heart failure, which was associated with smaller brain volumes, particularly in the hippocampus (−0.13, 95% CI −0.23 to −0.02, I2 = 1%). In this large study among community-dwelling adults, subclinical cardiac dysfunction was associated with brain imaging markers of neurodegeneration. These findings encourage longitudinal investigations on the effect of maintaining cardiac function on brain health.

Comments


© 2020-2025 by Lidiane Garcia

bottom of page