
A dinâmica de dominância em gêmeos é complexa e influenciada por múltiplos fatores, incluindo desenvolvimento, zigosidade e personalidade. O estudo destacou que, em díades mistas, o gêmeo com desenvolvimento típico tende a assumir um papel dominante, e essa diferença pode ter implicações para o bem-estar emocional de ambos.
Gêmeos compartilham um ambiente pré-natal, a data de nascimento e uma trajetória de vida que se desenrola em paralelo, desde a infância até a vida adulta.
Contudo, ao mesmo tempo em que dividem esses marcos, os gêmeos são indivíduos distintos, formando um relacionamento único que mescla semelhanças e diferenças.
Esse vínculo é marcado por dinâmicas específicas, incluindo aspectos de poder relativo, onde um gêmeo pode assumir um papel mais dominante, enquanto o outro adota um papel mais submisso.
Assim como em outros tipos de relacionamentos, as interações entre gêmeos envolvem questões como liderança e submissão, influenciadas por fatores como ordem de nascimento, desenvolvimento e personalidade.
Nos relacionamentos de irmãos únicos, a ordem de nascimento geralmente define a dominância: irmãos mais velhos tendem a liderar e estabelecer regras, enquanto os mais novos frequentemente seguem, imitam ou se submetem.
Entretanto, essa lógica não se aplica diretamente aos gêmeos, que compartilham a mesma idade. Isso levanta a pergunta: quais fatores influenciam a dominância em relações de gemelares?

Pesquisas iniciais mostraram que as dinâmicas de dominância entre gêmeos são, em geral, mais simétricas do que entre irmãos únicos. Em um estudo retrospectivo com gêmeos adultos, foi observado que a dominância varia conforme o domínio: psicológico, verbal ou físico.
Além disso, o gêmeo mais dominante em um desses aspectos tende a ser mais equilibrado ou até submisso em outros, sugerindo que nenhum dos gêmeos domina completamente o relacionamento.
Outra descoberta importante é que as dinâmicas de dominância entre gêmeos mudam com o tempo, tornando-se mais equilibradas à medida que amadurecem.
Contudo, assimetrias persistentes podem estar associadas a desafios de saúde mental, como sintomas depressivos em gêmeos submissos e ansiedade em gêmeos dominantes. Esses achados indicam que o equilíbrio de poder entre gêmeos pode ter implicações significativas para o bem-estar emocional de ambos.
Quando um gêmeo apresenta desenvolvimento típico (DT) e o outro desenvolvimento atípico (não DT), a dinâmica de dominância pode se tornar mais assimétrica. Gestações de gêmeos têm maior risco de complicações, e isso pode levar a atrasos no desenvolvimento em um ou ambos os gêmeos.
Pesquisas sugerem que gêmeos de desenvolvimento atípico frequentemente ocupam um papel mais submisso em relação ao irmão de desenvolvimento típico, independentemente da ordem de nascimento. Essa diferença pode ser exacerbada pelas comparações constantes entre os gêmeos, que compartilham a mesma idade e contexto de desenvolvimento.

Estudos também indicam que, ao contrário de irmãos únicos, os gêmeos com desenvolvimento atípico têm menos oportunidades de assumir um papel dominante em seu relacionamento. Isso pode dificultar o equilíbrio de poder no par, mesmo que o atraso no desenvolvimento seja superado mais tarde na infância.
A personalidade de cada gêmeo também desempenha um papel crucial na dinâmica de dominância. Algumas crianças têm uma predisposição maior para controlar ou liderar, enquanto outras podem ser mais propensas a seguir. Além disso, a zigosidade (se os gêmeos são monozigóticos, MZ, ou dizigóticos, DZ) influencia essas dinâmicas.
Gêmeos monozigóticos, que compartilham praticamente 100% de seus genes, tendem a ser mais semelhantes em comportamento e personalidade, resultando em relações mais simétricas.
Em contrapartida, gêmeos dizigóticos, que compartilham em média 50% de sua genética, frequentemente exibem maior variação em seus comportamentos, o que pode levar a relações mais assimétricas.
O presente estudo, realizado por pesquisadores da The Academic College of Tel-Aviv Jaffa, Israel, investigou como o desenvolvimento atípico afeta a dinâmica de dominância entre gêmeos.
Foram analisadas díades de gêmeos monozigóticos e dizigóticos, incluindo casos em que um dos gêmeos apresentava desenvolvimento não típico. Além disso, o estudo explorou como essas dinâmicas mudam ao longo do tempo, particularmente quando o atraso no desenvolvimento é superado.
Os dados vieram de um estudo longitudinal israelense com 1.657 famílias de gêmeos nascidos em 2004–2005.
As mães relataram a condição de desenvolvimento de seus filhos em quatro momentos: aos 3, 5, 6,5 e 8–9 anos de idade. Questionários avaliaram os relacionamentos dos gêmeos, incluindo aspectos de dominância. Uma subamostra de pais também respondeu aos questionários.
O estudo focou em dois tipos de díades:
Díades com condições de desenvolvimento semelhantes: ambos os gêmeos com desenvolvimento típico ou ambos com desenvolvimento atípico.
Díades mistas: um gêmeo com desenvolvimento típico e o outro com desenvolvimento atípico.
Os resultados revelaram que, em díades com condições de desenvolvimento semelhantes, não houve diferenças significativas de dominância, independentemente de ambos os gêmeos terem desenvolvimento típico ou atípico.
Já nas díades mistas, o gêmeo de desenvolvimento típico era consistentemente mais dominante. Essa assimetria persistiu ao longo da infância, mesmo quando o gêmeo de desenvolvimento atípico superava os atrasos no desenvolvimento.

Além disso, gêmeos monozigóticos apresentaram relacionamentos mais simétricos em termos de dominância do que gêmeos dizigóticos, independentemente da condição de desenvolvimento. Isso sugere que a similaridade genética pode mitigar a assimetria de poder entre gêmeos.
A dinâmica de dominância em gêmeos é complexa e influenciada por múltiplos fatores, incluindo desenvolvimento, zigosidade e personalidade.
O estudo destacou que, em díades mistas, o gêmeo com desenvolvimento típico tende a assumir um papel dominante, e essa diferença pode ter implicações para o bem-estar emocional de ambos. No entanto, demonstrar comportamentos de dominância pode ser possível para o gêmeo de desenvolvimento atípico em outros contextos.
Esses achados são importantes para pais e cuidadores, que podem usar essas informações para ajustar suas estratégias parentais e promover interações mais equilibradas entre os gêmeos.
Compreender e apoiar as necessidades emocionais e sociais de cada criança pode ajudar a minimizar os impactos de desequilíbrios de poder e promover o bem-estar dos gêmeos como indivíduos e como unidade.
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“You and me”: Parental perceptions on asymmetry in twins' development and their dominance relationship dynamics
Hila Segal, Yonat Rum, Adi Barkan, Ariel Knafo-Noam
Family Relations. First published: 26 October 2024
Abstract:
This study investigated the role of nontypical development in the relative dominance in twins' relationships throughout childhood. Dominance dynamics, affecting siblings' well-being, are different in twins than in singletons for whom age and development often dictate sibling hierarchy. These dynamics in twins, who share similar ages and developmental contexts, remain underexplored and demand further understanding.
A longitudinal study surveyed 1,547 mothers and 536 fathers of 322 monozygotic (sharing nearly 100% genes) and 1,199 dizygotic (sharing 50% genetic variance) twin pairs, aged 3 to 8–9. Both parents reported on the twins' relationships. Mothers reported whether either twin had a developmental condition. No dominance difference was found in similar developmental conditions dyads, whether both twins had typical or nontypical development. However, in dyads where twins differed in the developmental condition, nontypically developing twins were less dominant than their typically developing cotwins. This dominance imbalance persisted throughout childhood, even if initial developmental issues were resolved. From parents' perspectives, nontypical development does not, in itself, prevent children from demonstrating dominance behaviors in twinship, but it is more likely that the asymmetry in developmental conditions is associated with the relationship between the twins. According to parents' perceptions, twins with nontypical development might experience imbalances in their relationship throughout childhood when their co-twin is a typically developing child. However, demonstrating dominance might be possible for them in other contexts. Understanding these dominance dynamics is vital for caregivers, informing tailored parenting strategies and interventions to support the well-being of children.
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