
Um estudo com crianças em Bangladesh descobriu que a exposição ao flúor durante a gravidez e infância pode estar ligada a uma redução nas habilidades cognitivas, especialmente no raciocínio e na linguagem. Quanto maior a quantidade de flúor na urina, menores foram as pontuações nos testes de inteligência aos 5 e 10 anos. Esses resultados levantam preocupações sobre os possíveis impactos do flúor no desenvolvimento do cérebro infantil.
O flúor é amplamente conhecido por seus benefícios à saúde bucal, ajudando a prevenir cáries quando adicionado à água potável e a produtos de higiene dental. No entanto, alguns estudos sugerem que a exposição ao flúor pode ter efeitos negativos no desenvolvimento do cérebro, especialmente quando ocorre durante a gestação e a infância.
Esse estudo buscou investigar se a exposição pré-natal e infantil ao flúor afeta as habilidades cognitivas de crianças aos 5 e 10 anos de idade.
A pesquisa foi conduzida com 500 mães e seus filhos que fazem parte da coorte MINIMat, um estudo sobre nutrição materna e infantil realizado em uma área rural de Bangladesh.

Para medir a exposição ao flúor, os pesquisadores analisaram amostras de urina das mães durante a oitava semana de gravidez, os níveis médios normais foram estabelecidos em 0,63 mg/L, e depois coletaram amostras dos filhos aos 5 e 10 anos de idade. As concentrações de flúor foram ajustadas para garantir precisão nos resultados.
Além disso, aos 10 anos, a equipe também analisou a quantidade de flúor presente na água consumida pelas crianças. Para avaliar as habilidades cognitivas, foram aplicados testes de inteligência padronizados usados para medir o desenvolvimento mental infantil.
Os resultados mostraram que níveis mais altos de flúor na urina das mães estavam associados a pontuações mais baixas nos testes de inteligência das crianças aos 5 e 10 anos de idade.
Especificamente, a cada duplicação da exposição ao flúor, houve uma queda nas pontuações cognitivas. Aos 10 anos, as crianças com concentrações de flúor na urina acima de 0,72 mg/L tiveram uma redução significativa em suas habilidades cognitivas em comparação com aquelas expostas a níveis menores.

O efeito foi especialmente evidente no raciocínio perceptivo, que envolve a capacidade de interpretar e organizar informações visuais, mas também impactou as habilidades verbais. Aos 5 anos, a relação entre flúor e inteligência também foi negativa, mas os resultados não foram estatisticamente significativos.
O estudo também analisou se havia diferenças no impacto do flúor entre meninos e meninas, mas os padrões observados não foram consistentes o suficiente para afirmar que um sexo seria mais afetado do que o outro.

Além disso, os pesquisadores notaram que os efeitos do flúor infantil sobre o raciocínio perceptivo foram um pouco reduzidos quando se levou em conta a exposição pré-natal, sugerindo que a exposição ao flúor antes do nascimento pode ter um impacto duradouro no desenvolvimento cognitivo.
Em conclusão, os resultados indicam que tanto a exposição ao flúor no período gestacional quanto na infância pode estar associada a um desempenho cognitivo mais baixo, particularmente em áreas como raciocínio perceptivo e habilidades verbais.
Embora o flúor seja amplamente utilizado para a prevenção de cáries, esses achados reforçam a necessidade de mais pesquisas para entender melhor seus possíveis efeitos sobre o neurodesenvolvimento, especialmente em populações expostas a níveis mais altos dessa substância.
LEIA MAIS:
Prenatal and childhood exposure to fluoride and cognitive development: findings from the longitudinal MINIMat cohort in rural Bangladesh
Taranbir Singh, Klara Gustin, Syed Moshfiqur Rahman, Shamima Shiraji, Fahmida Tofail, Marie Vahter, Mariza Kampouri and Maria Kippler
Environmental Health Perspectives. 5 March 2025
DOI: 10.1289/EHP14534
Abstract:
There are indications that fluoride exposure considered to be beneficial for dental health may not be safe from a neurodevelopmental perspective. To assess the impact of prenatal and childhood fluoride exposure on cognitive abilities at 5 and 10 years of age. We studied 500 mother-child pairs from the MINIMat (Maternal and Infant Nutrition Interventions in Matlab) birth cohort in rural Bangladesh. Urinary fluoride concentrations were measured in the pregnant women at gestational week 8 and in their children at 5 and 10 years, using an ion-selective electrode and adjusting for specific gravity. Cognitive abilities were assessed using the Wechsler Preschool and Primary Scale for Intelligence-Third Edition and the Wechsler Intelligence Scale-Fourth Edition at age 5 and 10 years, respectively. Associations of urinary fluoride concentrations (log2-transformed) with cognitive abilities (raw scores) were assessed with multivariable-adjusted linear or spline regression models. Water fluoride concentrations were measured at the 10-year-old visit. Maternal urinary fluoride concentrations (median: 0.63 mg/L, 5th–95th percentiles: 0.26–1.41 mg/L) were inversely associated with full-scale raw scores at 5 and 10 years (B [95% confidence interval]: -2.8 [-5.1, -0.6] and -4.9 [-8.0, -1.8], respectively, by exposure doubling). In cross-sectional analysis at 10 years, child urinary fluoride (overall median: 0.66 mg/L, 5th–95th percentiles: 0.34–1.26 mg/L) above -0.47 on the log2-scale (corresponding to 0.72 mg/L) was inversely associated with full-scale raw scores (B [95% CI]: -12.1 [-21.2, -3.0]). The association at 5 years was also negative but non-significant. For both prenatal and childhood exposure, associations were most noticeable with perceptual reasoning, but also verbal scores. The estimate for the association between urinary fluoride at 10 years and perceptual reasoning became 18% lower after adjustment for prenatal exposure. Non consistent sex-specific differences were observed. Urinary fluoride concentrations measured prenatally and during childhood (child urinary fluoride concentrations above -0.47 on the log2 scale (corresponding to 0.72 mg/L) were associated with lower cognitive abilities, especially perceptual reasoning and verbal abilities, in Bangladeshi children.
Comments