Resumo:
O estudo destaca a importância da regulação emocional no desenvolvimento infantil e sua relação com problemas de saúde mental e neuro desenvolvi-mento. Identificar crianças que estão em risco com base em seus padrões de desenvolvimento emocional pode abrir caminho para intervenções mais precoces e eficazes, promovendo um futuro mais saudável para essas crianças.
Os problemas de saúde mental e neurodesenvolvimento, como o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), os problemas de internalização e os problemas de conduta, são alguns dos desafios mais comuns que afetam as crianças.
O TDAH é caracterizado por dificuldade em manter a atenção, hiperatividade e comportamentos impulsivos. Os problemas de internalização, por sua vez, envolvem emoções como ansiedade e tristeza, que afetam principalmente o mundo interior da criança.
Já os problemas de conduta estão relacionados a comportamentos desafiadores, como agressividade, desobediência e dificuldade em seguir regras. Esses três tipos de problemas frequentemente aparecem juntos, formando um quadro de dificuldades emocionais e comportamentais que afetam o desenvolvimento infantil.
Esses problemas, embora comuns, geralmente não são diagnosticados antes da idade escolar. No entanto, os primeiros sinais podem estar presentes já nos primeiros anos de vida. Por isso, identificar marcadores precoces que indiquem o risco de desenvolver esses problemas é crucial para intervenções preventivas.
Isso significa que, se for possível reconhecer crianças em risco desde cedo, será mais fácil oferecer suporte antes que os problemas se agravem. Neste contexto, uma habilidade essencial para o desenvolvimento saudável é a regulação emocional, que desempenha um papel central no controle das reações emocionais e comportamentais.
A regulação emocional é a capacidade de gerenciar emoções de maneira apropriada ao contexto. Por exemplo, uma criança que perde um jogo e consegue se acalmar rapidamente está demonstrando boa regulação emocional.
Quando essa habilidade está ausente ou deficiente, temos o que se chama de desregulação emocional. Isso se manifesta por reações exageradas ou inadequadas, como explosões de raiva, tristeza intensa ou euforia descontrolada.
A desregulação pode envolver labilidade emocional (mudanças rápidas e intensas no humor) e um foco exagerado em estímulos emocionais, dificultando o equilíbrio emocional. Além disso, tanto emoções negativas quanto positivas podem ser desreguladas. Por exemplo, uma alegria excessiva que atrapalha interações sociais também é considerada um sinal de desregulação.
O desenvolvimento da regulação emocional ocorre gradualmente. Aos 3 anos, as crianças estão apenas começando a desenvolver essa habilidade, e, até os 7 anos, ela geralmente apresenta melhorias significativas, permitindo maior controle sobre as emoções.
No entanto, nem todas as crianças seguem esse padrão. Algumas adquirem essas habilidades mais lentamente, enquanto outras podem até apresentar piora na capacidade de regulação emocional ao longo do tempo. Essa variação no ritmo de desenvolvimento pode ser um indicador importante de risco para problemas emocionais e comportamentais.
Esse estudo, realizado com dados do Millennium Cohort Study (MCS), buscou investigar se o desenvolvimento da regulação emocional entre os 3 e os 7 anos está relacionado a sintomas de TDAH, problemas de conduta e problemas de internalização aos 7 anos.
Esse estudo longitudinal acompanhou mais de 14.000 crianças nascidas no Reino Unido entre 2000 e 2002. A regulação emocional das crianças foi avaliada em três momentos (aos 3, 5 e 7 anos), e os sintomas dos problemas mencionados foram medidos aos 7 anos. Os dados foram coletados por meio de questionários preenchidos pelos pais, que avaliavam como as crianças lidavam com suas emoções e comportamentos.
Os resultados mostraram que crianças com níveis mais altos de desregulação emocional aos 3 anos apresentaram maior risco de sintomas de TDAH, problemas de conduta e problemas de internalização aos 7 anos.
Além disso, crianças que demoraram mais para melhorar suas habilidades de regulação emocional ao longo do tempo também tiveram maior probabilidade de desenvolver esses problemas. Isso indica que tanto os níveis iniciais de desregulação emocional quanto a velocidade com que essas habilidades se desenvolvem são fatores importantes para prever problemas de saúde mental e neurodesenvolvimento.
O estudo também analisou diferenças entre meninos e meninas. Embora os padrões de desregulação emocional estejam associados a problemas em ambos os sexos, foi identificado que os meninos têm maior risco de desenvolver TDAH e problemas de conduta, enquanto as meninas estão mais propensas a problemas de internalização, como ansiedade e tristeza.
Essas descobertas têm implicações práticas importantes. Monitorar como as crianças desenvolvem a regulação emocional ao longo da primeira infância pode ajudar pais, professores e profissionais de saúde a identificar sinais de alerta precoces.
Além disso, intervenções que ajudem as crianças a desenvolver habilidades de regulação emocional podem ser uma estratégia eficaz para prevenir uma ampla gama de problemas emocionais e comportamentais. Por exemplo, atividades que ensinem as crianças a reconhecer e gerenciar suas emoções, como jogos de autocontrole ou técnicas de respiração, podem ser incorporadas no cotidiano escolar e familiar.
Outro ponto importante é considerar as diferenças de gênero na criação de intervenções. Meninos e meninas podem precisar de abordagens diferentes para atender às suas necessidades específicas. Isso significa que estratégias preventivas devem levar em conta tanto os fatores de risco comuns quanto as particularidades de cada grupo.
Em resumo, o estudo destaca a importância da regulação emocional no desenvolvimento infantil e sua relação com problemas de saúde mental e neurodesenvolvimento. Identificar crianças que estão em risco com base em seus padrões de desenvolvimento emocional pode abrir caminho para intervenções mais precoces e eficazes, promovendo um futuro mais saudável para essas crianças.
LEIA MAIS:
Early emotion regulation developmental trajectories and ADHD, internalizing, and conduct problems symptoms in childhood.
Murray AL, Russell A, Calderón Alfaro FA.
Development and Psychopathology. Published online 2024:1-8.
doi:10.1017/S0954579424001263
Abstract:
Emotion dysregulation is considered a transdiagnostic factor with importance for a range of neurodevelopmental and mental health issues, including attention deficit hyperactivity disorder (ADHD) symptoms, internalizing problems, and conduct problems. Emotion regulation skills are acquired from early in life and are thought to strengthen gradually over childhood. Children, however, acquire these skills at different rates and slower acquisition may serve as a marker for neurodevelopmental and mental health issues. The current study uses the UK Millennium Cohort Study, a large longitudinal study to evaluate whether developmental trajectories of emotion regulation across ages 3, 5, and 7 predict levels of ADHD symptoms, internalizing problems, and conduct problems at age 7. Both higher initial levels of and slower reductions in emotion dysregulation across ages 3, 5, and 7 predicted higher ADHD symptoms, conduct problems, and internalizing problems at age 7 in both male and female children. Our findings suggest that monitoring trajectories of emotion regulation over development could help flag at-risk children. Additionally, supporting the acquisition of emotion regulation skills in this critical period could be a promising transdiagnostic preventive intervention.
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