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Exercícios durante a Quimioterapia aumentam a Função Cognitiva


Resumo:

Mulheres que iniciaram um programa de exercícios aeróbicos durante a quimioterapia para câncer de mama relataram melhora na função cognitiva e na qualidade de vida em comparação àquelas que receberam tratamento padrão. Participantes do grupo de exercícios sentiram que conseguiam se concentrar melhor e lembrar das coisas, ajudando a reduzir os efeitos do "cérebro quimioterápico”. Essas descobertas apoiam a integração dos exercícios no tratamento do câncer para melhorar a saúde mental e física.


O comprometimento cognitivo relacionado à quimioterapia (CRCI) é um dos maiores desafios enfrentados por mulheres com diagnóstico de câncer de mama.


Aproximadamente 75% dessas mulheres relatam dificuldades como problemas de memória, concentração e raciocínio, que podem durar tanto no curto quanto no longo prazo.


Além disso, mulheres que passam pela quimioterapia tendem a apresentar resultados inferiores em testes neuropsicológicos que avaliam funções como memória de trabalho, processamento de informações, habilidades espaciais e de linguagem, comparadas a mulheres que não receberam quimioterapia ou a mulheres sem histórico de câncer. 

Esse declínio cognitivo tem um impacto significativo na qualidade de vida dessas pacientes, e ainda não existe um protocolo de tratamento estabelecido para prevenir ou gerenciar o CRCI.


A identificação de intervenções eficazes para melhorar ou manter a função cognitiva, e assim melhorar a qualidade de vida, é essencial para diminuir o impacto do câncer de mama. Uma intervenção promissora é o exercício aeróbico, que já demonstrou ser eficaz na melhora da função cognitiva em idosos e pessoas com comprometimento cognitivo leve. 


Com base nesses achados, os pesquisadores começaram a explorar se o exercício poderia ter efeitos similares em pacientes com câncer, levando a melhorias na função cognitiva. No entanto, a eficácia dos exercícios para melhorar a função cognitiva em mulheres diagnosticadas com câncer de mama ainda é incerta. 


Apesar de já terem sido realizados 53 ensaios clínicos randomizados nessa área, os resultados não são consistentes. Muitos estudos sofreram com amostras pequenas ou métodos que limitam a capacidade de generalizar os achados para a população mais ampla.


Outro problema é que alguns desses estudos não usaram medidas específicas para avaliar a função cognitiva. Por exemplo, alguns utilizaram questionários genéricos de qualidade de vida, que não capturam as várias dimensões da cognição (como memória, atenção e funções executivas). 


Além disso, poucos estudos incluíram medições objetivas da função cognitiva, como recomendado pela Força-Tarefa Internacional de Cognição e Câncer. Dados de autorrelato, que muitas vezes divergem de testes objetivos, não fornecem uma imagem clara do impacto real da quimioterapia na cognição.


Dessa forma, sem medições objetivas da função cognitiva, ainda não é possível determinar com segurança se o exercício pode realmente melhorar o desempenho cognitivo em mulheres que fazem quimioterapia.


Além disso, a maioria dos estudos não focou nas pacientes durante o tratamento quimioterápico, ressaltando a necessidade de mais pesquisas para verificar se o exercício pode mitigar o CRCI em mulheres que estão passando pelo tratamento.

Um estudo recente da University of Ottawa, chamado ACTIVATE, foi projetado para avaliar os efeitos do exercício aeróbico na função cognitiva e na qualidade de vida em mulheres que começaram a quimioterapia para tratar o câncer de mama. 


O estudo comparou um grupo de mulheres que praticaram exercícios aeróbicos durante a quimioterapia com um grupo que apenas recebeu o tratamento usual. O objetivo principal foi medir os efeitos do exercício na função cognitiva após o término da quimioterapia, utilizando testes neuropsicológicos objetivos.


No estudo, 57 mulheres, com idade media de 48 anos e diagnosticadas com cancer de mama em estágios I-III, foram divididas aleatoriamente entre os dois grupos: 28 começaram um programa de exercícios durante a quimioterapia e 29 receberam o tratamento usual, com a opção de iniciar exercícios após a quimioterapia.


A intervenção durou de 12 a 24 semanas e incluiu sessões supervisionadas de exercício aeróbico, com duração variando de 20 a 40 minutos. Foram avaliadas a função cognitiva por meio de 13 testes neuropsicológicos e questionários sobre qualidade de vida. 


Embora os resultados não tenham mostrado diferenças significativas na função cognitiva medida objetivamente entre os dois grupos após a quimioterapia, as mulheres que realizaram exercícios relataram melhoras significativas na percepção de sua função cognitiva e na qualidade de vida, quando comparadas ao grupo que não fez exercícios.


Em resumo, o exercício aeróbico pode não ter um impacto mensurável em testes objetivos de função cognitiva em mulheres que passam por quimioterapia, mas os resultados sugerem que ele pode melhorar a percepção das pacientes sobre sua cognição e aumentar sua qualidade de vida, o que pode ter implicações importantes para o bem-estar durante o tratamento.



LEIA MAIS:


Aerobic exercise and CogniTIVe functioning in women with breAsT cancEr (ACTIVATE): A randomized controlled trial

Jennifer Brunet,  Sitara Sharma, Kendra Zadravec, Monica Taljaard, Nathalie LeVasseur, Amirrtha Srikanthan. et al.

Cancer. 21 October 2024 


Abstract:


As the prevalence of chemotherapy-related cognitive impairment rises, investigation into treatment options is critical. The objectives of this study were to test the effects of an aerobic exercise intervention initiated during chemotherapy compared to usual care (wait list control condition) on (1) objectively measured cognitive function and self-reported cognitive function, as well as on (2) the impact of cognitive impairment on quality of life (QOL) postintervention (commensurate with chemotherapy completion). The Aerobic exercise and CogniTIVe functioning in women with breAsT cancEr (ACTIVATE) trial was a two-arm, two-center randomized controlled trial conducted in Ottawa and Vancouver (Canada). Fifty-seven women (Mage, 48.8 ± 10 years) diagnosed with stage I–III breast cancer and awaiting chemotherapy were randomized to aerobic exercise initiated with chemotherapy (nEX = 28) or usual care during chemotherapy with aerobic exercise after chemotherapy completion (nUC = 29). The intervention lasted 12–24 weeks and consisted of supervised aerobic training and at-home exercise. The primary outcome was objective cognitive function measured via 13 neuropsychological tests (standardized to M ± SD, 0 ± 1); secondary outcomes of self-reported cognitive function and its impact on QOL were assessed via questionnaires. Data collected pre- and postintervention (the primary end point) were analyzed.

Although no significant differences between groups were found for objective cognitive function outcomes postintervention after accounting for multiple testing, four of six self-reported cognitive function outcomes showed significant differences favoring the aerobic exercise group. Among women initiating chemotherapy for breast cancer, aerobic exercise did not result in significant differences in objective cognitive function postintervention after chemotherapy completion; however, the results do support the use of this intervention for improving self-reported cognitive function and its impact on QOL.

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