top of page

Exame de Sangue Revela Risco de Depressão Pós-Parto Antes do Nascimento


O estudo identificou que alterações nos níveis e proporções de esteroides neuroativos (NAS) durante a gravidez, especialmente no terceiro trimestre, estão associadas ao risco de depressão pós-parto (DPP). Especificamente, um aumento na razão entre isoalopregnanolona e pregnanolona foi ligado a um maior risco de DPP, enquanto um aumento na razão entre pregnanolona e progesterona teve um efeito protetor. Esses achados sugerem que desequilíbrios na via metabólica da progesterona podem desempenhar um papel importante no desenvolvimento da depressão pós-parto.


A depressão pós-parto é uma condição séria que afeta entre 10% e 15% das pessoas em idade fértil, trazendo consequências que podem impactar tanto os pais quanto os filhos, atravessando duas gerações. 


Esse transtorno pode comprometer a saúde mental da mãe, interferindo no vínculo com o bebê e aumentando o risco de problemas emocionais e comportamentais na criança.


Embora já se saiba que fatores hormonais desempenham um papel fundamental no desenvolvimento da depressão pós-parto, pesquisadores têm se aprofundado na investigação dos esteroides neuroativos (NAS), que são substâncias derivadas de hormônios que influenciam diretamente o sistema nervoso central e a regulação do humor. 

O objetivo deste estudo, realizado por pesquisadores da Weill Cornell Medical College, USA, foi analisar como as variações nos níveis e proporções desses esteroides ao longo da gravidez podem estar associadas ao desenvolvimento de sintomas depressivos no pós-parto. 


Para isso, os pesquisadores acompanharam participantes durante toda a gestação e após o parto, realizando até oito avaliações para medir os níveis de esteroides neuroativos no organismo e aplicar escalas psicológicas que avaliam o humor e o bem-estar emocional. 


As participantes incluídas no estudo eram grávidas sem histórico prévio de transtornos de humor, permitindo que os cientistas analisassem mudanças hormonais que pudessem estar diretamente relacionadas ao surgimento da depressão pós-parto.


Os dados coletados foram analisados por meio de modelos estatísticos que avaliaram as relações entre diferentes biomarcadores hormonais e o desenvolvimento da depressão pós-parto. 

Os resultados revelaram padrões específicos na variação desses hormônios no terceiro trimestre da gestação, que pareciam influenciar o risco de depressão pós-parto. 


Em particular, verificou-se que um aumento na razão entre dois metabólitos da progesterona, a isoalopregnanolona e a pregnanolona, estava associado a um risco maior de desenvolver depressão pós-parto. Especificamente, para cada aumento de uma unidade nessa razão, as chances de apresentar sintomas depressivos pós-parto aumentavam em 64%.


A isoalopregnanolona e a pregnanolona são metabólitos da progesterona que pertencem ao grupo dos esteroides neuroativos, substâncias capazes de modular a atividade do sistema nervoso central.


Elas interagem com receptores do neurotransmissor GABA (ácido gama-aminobutírico), que é responsável por promover efeitos relaxantes e ansiolíticos no cérebro. 


A pregnanolona e a isoalopregnanolona são produzidas a partir da progesterona por meio da ação de enzimas específicas, e sua proporção no organismo pode influenciar a regulação do humor e a resposta ao estresse. 


Um aumento na razão entre isoalopregnanolona e pregnanolona pode indicar uma alteração no metabolismo desses compostos, afetando negativamente o equilíbrio neuroquímico e potencialmente aumentando a vulnerabilidade à depressão pós-parto.

Por outro lado, outra relação hormonal demonstrou um efeito protetor. Um aumento na razão entre a pregnanolona e a progesterona no terceiro trimestre esteve relacionado a uma redução de 36% no risco de depressão pós-parto.


Esse achado sugere que a forma como o corpo metaboliza a progesterona pode ter um papel crucial na regulação do humor materno após o parto. 


Além disso, os pesquisadores identificaram que um aumento nos níveis absolutos de progesterona no terceiro trimestre estava ligado a um risco significativamente maior de depressão pós-parto. Para cada aumento de uma unidade logarítmica nos níveis desse hormônio, o risco de desenvolver depressão pós-parto quadruplicava. 


Esse achado reforça a importância de compreender como os níveis hormonais e seus metabólitos interagem no final da gestação e como podem predispor algumas pessoas à depressão pós-parto.


As análises também sugeriram alterações na atividade de duas enzimas essenciais para o metabolismo da progesterona: a 3α-HSD e a 3β-HSD. No terceiro trimestre, os resultados indicam que pode haver uma redução na atividade da 3α-HSD, enzima que converte a progesterona em compostos com efeito positivo sobre o humor, e/ou um aumento na atividade da 3β-HSD, que gera metabólitos com menor impacto neuroprotetor. 


Essas mudanças no equilíbrio hormonal podem contribuir para um estado neuroquímico mais vulnerável ao desenvolvimento da depressão pós-parto.

Esse estudo contribui para uma compreensão mais aprofundada dos fatores hormonais envolvidos na depressão pós-parto, abrindo caminho para novas abordagens preventivas e terapêuticas.


Monitorar os níveis de esteroides neuroativos ao longo da gravidez pode ajudar na identificação precoce de pessoas com maior risco de desenvolver a condição, possibilitando intervenções mais eficazes e personalizadas para promover a saúde mental materna e infantil. 



LEIA MAIS:


Neuroactive steroid biosynthesis during pregnancy predicts future postpartum depression: a role for the 3α and/or 3β-HSD neurosteroidogenic enzymes?

Lauren M. Osborne, Semra Etyemez, Graziano Pinna, Rebecca Alemani, Lindsay R. Standeven, Xin-Qun Wang & Jennifer L. Payne 


Abstract:


Postpartum depression (PPD) affects ~10–15% of childbearing individuals, with deleterious consequences for two generations. Recent research has explored the biological mechanisms of PPD, particularly neuroactive steroids (NAS). We sought here to investigate associations between NAS levels and ratios during pregnancy and the subsequent development of depressive symptoms with postpartum onset. NAS levels and psychological scales were measured in individuals with and without mood disorders at up to eight visits across pregnancy and postpartum. Generalized linear mixed-effects regression models were used to assess relationships in euthymic pregnant individuals between each of the NAS biomarkers and ratios and subsequent PPD. Participants with a one-unit increase in the log isoallopregnanolone/pregnanolone ratio at the third trimester (T3) had higher odds (OR = 1.64, 95% CI: 1.13–2.37, FDR adjusted p = 0.038, C-index = 0.82), and those with a one-unit increase in the log pregnanolone/progesterone ratio at T3 had lower odds (OR = 0.64, 95% CI: 0.47–0.88, FDR adjusted p = 0.036, C-index = 0.82) of developing PPD; those with a one-unit increase in the log progesterone level at T3 had higher odds of developing PPD (OR = 4.00, 95% CI: 1.54–10.37, FDR adjusted p = 0.035, C-index = 0.80). We found key differences in the progesterone metabolic pathway at the third trimester, indicating likely decreased activity/expression of the 3α-HSD enzyme and/or increased activity/expression of 3β-HSD.

Comments


© 2024 by Lidiane Garcia

bottom of page