Esquizofrenia e Bipolaridade: Filhos De Pais Com Transtorno Mental Têm Risco Dobrado De Adoecer
- Lidi Garcia
- 30 de jun.
- 4 min de leitura

Um estudo mostrou que filhos de pessoas com esquizofrenia ou transtorno bipolar têm maior risco de desenvolver problemas de saúde mental, como transtornos de humor, déficit de atenção e sintomas psicóticos leves. Esse risco varia de acordo com o tipo de doença dos pais. Além disso, ter melhores condições de vida e pais que conseguem manter boas relações sociais ajuda a proteger essas crianças. O acompanhamento e o apoio às famílias são fundamentais para reduzir esses riscos.
Os transtornos psiquiátricos, como a esquizofrenia e o transtorno bipolar, afetam profundamente a vida das pessoas e das famílias. Uma das grandes preocupações de quem convive com essas condições é o impacto que elas podem ter sobre os filhos.
Recentemente, um estudo realizado por pesquisadores da Espanha acompanhou crianças e adolescentes cujos pais têm esquizofrenia ou transtorno bipolar para entender melhor como essas doenças dos pais podem influenciar a saúde mental da nova geração. O trabalho, publicado na revista European Child & Adolescent Psychiatry, trouxe informações importantes que ajudam a identificar riscos e a pensar em formas de proteção.

O estudo acompanhou durante quatro anos 238 crianças e adolescentes, com idades entre 6 e 17 anos no início da pesquisa. Entre eles, estavam filhos de pessoas diagnosticadas com esquizofrenia, filhos de pessoas com transtorno bipolar e um grupo de comparação formado por filhos de pais sem essas doenças.
Os pesquisadores avaliaram não só se essas crianças desenvolveram algum transtorno psiquiátrico ao longo do tempo, mas também outros fatores, como a situação socioeconômica da família, a idade dos pais quando os filhos nasceram e sinais mais leves, chamados de subclínicos, que poderiam indicar um risco maior para doenças no futuro.
Os resultados confirmaram o que outros estudos já sugeriam: filhos de pessoas com esquizofrenia ou transtorno bipolar têm um risco maior de desenvolver algum tipo de problema de saúde mental. Mas o estudo também revelou que os padrões de risco são diferentes conforme o transtorno dos pais.

Por exemplo, filhos de pessoas com esquizofrenia apresentaram maior chance de desenvolver transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), problemas de comportamento (os chamados transtornos disruptivos) e sintomas leves relacionados à psicose.
Já os filhos de pessoas com transtorno bipolar tiveram mais casos de transtornos de humor, como depressão e mania, além de TDAH e sintomas leves ligados ao transtorno bipolar.
Outro ponto importante é que o ambiente em que essas crianças crescem faz diferença. Famílias com melhor condição financeira e pais com bom funcionamento psicossocial, ou seja, que mesmo com a doença conseguem manter relações sociais e atividades do dia a dia de forma adequada, tiveram filhos com menor risco de desenvolver transtornos psiquiátricos.

Isso reforça a importância de oferecer apoio não só às crianças, mas também aos pais, ajudando-os a lidar melhor com suas próprias dificuldades e a criar um ambiente mais protetor para os filhos.
Por fim, os autores do estudo alertam que é necessário continuar acompanhando essas crianças por mais tempo para entender melhor se os primeiros sintomas identificados podem ou não evoluir para doenças completas.
Além disso, pesquisas com um número maior de participantes podem ajudar a confirmar esses achados e a guiar melhor as intervenções preventivas. O estudo mostra como é fundamental olhar para a saúde mental de forma integrada, cuidando das famílias como um todo.
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Effects of parental characteristics on the risk of psychopathology in offspring: a 4-year follow-up study.
E. De la Serna, D. Moreno, G. Sugranyes, P. Camprodon-Boadas, D. Ilzarbe, A. Bigorra, B. Mora-Maltas, I. Baeza, I. Flamarique, S. Parrilla, C. M. Díaz-Caneja, C. Moreno, R. Borras, C. Torrent, C. Garcia-Rizo, and J. Castro-Fornieles
Eur Child Adolesc Psychiatry (2025).
Abstract:
Offspring of patients diagnosed with schizophrenia (SZoff) or bipolar disorder (BDoff) have double the risk of developing a psychiatric disorder. Here we report the effects of some parental characteristics on the offspring risk of psychopathology at 4-year follow-up. At baseline, 90 BDoff, 41 SZoff and 107 Community Control offspring (CCoff) aged 6 to 17 were included. At 4-year follow-up, 71% of the sample was assessed. Parents’ and offspring’s psychiatric diagnoses as well as socio-economic status (SES) and global functioning were assessed in addition to parents’ ages at childbirth and offspring subclinical psychotic/bipolar symptoms. Kaplan-Meier method and Cox regression analysis were used to assess between-group differences in the cumulative incidence of psychiatric disorders and subclinical psychotic/bipolar symptoms and the association of some offspring and parents’ variables with risk of psychopathology and subclinical psychotic/bipolar symptoms. SZoff and BDoff had a higher risk of psychopathology than CCoff at 4-year follow-up. SZoff showed a higher risk for attention deficit hyperactivity disorder (ADHD), disruptive disorders and subclinical psychotic symptoms, whereas BDoff displayed a heightened risk for mood disorders, ADHD and subclinical bipolar symptoms when compared to CCoff. Higher parental psychosocial functioning and SES were associated with a lower prevalence of psychopathology. Both SZoff and BDoff samples have a higher risk for psychopathology but the pattern of this psychopathology seems to be group specific. Longer follow-up studies and larger sample sizes are needed to assess the capacity of psychopathological disorder and subclinical psychotic or bipolar symptoms to predict progression to fully-fledged disorders.
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