Resumo:
A Terapia de Oxigênio Hiperbárico (HBOT) mostrou-se promissora para veteranos com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), promovendo neuroplasticidade e melhorando a conectividade cerebral. Em um estudo recente, veteranos tratados com HBOT apresentaram uma redução significativa nos sintomas de TEPT e depressão, com mudanças positivas na conectividade de áreas cerebrais ligadas ao processamento emocional. Esses achados indicam que a HBOT pode ser uma alternativa eficaz para pacientes que não respondem bem aos tratamentos convencionais para o TEPT.
O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) é uma condição que provoca impactos profundos e duradouros na vida social, emocional e profissional de muitos veteranos de combate, levando a problemas de integração social e dificuldades de comportamento.
Apesar dos avanços na psicoterapia e no uso de medicamentos, ainda é comum que muitos veteranos com TEPT não consigam superar completamente o transtorno; mesmo após tratamentos padrão, a maioria mantém o diagnóstico.
Estudos realizados em clínicas israelenses e em outros países demonstram que as taxas de resposta ao tratamento para TEPT são limitadas, principalmente entre militares.
Em Israel, por exemplo, observou-se que apenas 39,4% dos veteranos tratados apresentaram remissão total dos sintomas. Nos Estados Unidos e na Austrália, os dados são semelhantes, sugerindo uma necessidade urgente de novas abordagens de tratamento para essas populações.
Recentemente, a ciência tem explorado uma abordagem inovadora para tratar o TEPT: a Terapia de Oxigênio Hiperbárico (HBOT). O TEPT pode estar ligado a alterações físicas no cérebro, especialmente em áreas que regulam o processamento emocional.
Estudos de neuroimagem (ressonância magnética funcional ou fMRI) mostram que o TEPT está associado a alterações nas conexões entre o córtex pré-frontal (responsável por funções como a tomada de decisões e o controle emocional) e o sistema límbico (que regula emoções e respostas ao estresse).
Com base nessas descobertas, cientistas começaram a investigar métodos que promovam a neuroplasticidade, isto é, a capacidade do cérebro de se reorganizar e formar novas conexões.
A HBOT é um tratamento que envolve a exposição do corpo a altas concentrações de oxigênio em uma câmara pressurizada, estimulando o processo de neuroplasticidade e favorecendo a recuperação de áreas do cérebro prejudicadas.
Esse processo acontece porque o oxigênio em excesso provoca alterações celulares que promovem a formação de novos vasos sanguíneos, o crescimento de células e até a renovação de neurônios. Esses benefícios já foram observados em pacientes com sequelas de acidentes vasculares cerebrais (AVCs) e lesões traumáticas.
O estudo atual teve como objetivo avaliar a eficácia da HBOT em veteranos de combate com TEPT, sem histórico de lesão cerebral traumática (LCT). Realizado entre 2020 e 2023, o estudo incluiu veteranos de 25 a 60 anos com TEPT grave.
Eles foram divididos aleatoriamente em dois grupos: um grupo recebeu o tratamento real com oxigênio a 100% sob alta pressão, e o outro grupo (controle) foi submetido a um tratamento simulado com oxigênio a baixa pressão. Cada um recebeu 60 sessões de 90 minutos.
Para medir os efeitos, os pesquisadores usaram questionários e exames de ressonância magnética funcional antes e depois do tratamento.
O principal critério de sucesso foi uma redução de pelo menos 30% nos sintomas de TEPT. Os resultados mostraram que o grupo que recebeu o tratamento real (HBOT) teve uma redução significativa nos sintomas, incluindo uma queda importante nas pontuações de TEPT e depressão.
A figura mostra a conectividade funcional elevada entre o córtex pré-frontal lateral esquerdo (c) e os tálamos bilaterais (a), e entre o córtex pré-frontal lateral direito e os giros supramarginal e angular, o putâmen, a ínsula, o pré-cúneo e o polo frontal direito (b). Dentro da rede de saliência (d), conectividade aumentada foi notada entre o córtex pré-frontal rostral bilateral e o polo frontal direito. Não houve reduções significativas de conectividade grupo por tempo.
Os hipocampos e a amígdala como sementes não tiveram interações significativas grupo por tempo com base na análise semente-voxel.
Além disso, exames de fMRI revelaram uma melhoria nas conexões cerebrais, especialmente nas redes responsáveis pelo processamento emocional e pelo controle de comportamento.
Em resumo, a terapia HBOT não só reduziu os sintomas de TEPT em veteranos, mas também fortaleceu a conectividade cerebral em áreas importantes para o controle emocional.
Esses resultados oferecem uma nova perspectiva para o tratamento do TEPT, indicando que a HBOT pode ser uma abordagem promissora para aqueles que não respondem aos tratamentos tradicionais.
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Hyperbaric Oxygen Therapy for Veterans With Combat-Associated Posttraumatic Stress Disorder: A Randomized, Sham-Controlled Clinical Trial
Keren Doenyas-Barak, Ilan Kutz, Erez Lang, Amir Assouline, Amir Hadanny, Kristoffer C. Aberg, Gabriela Levi, Ilia Beberashvili, Avi Mayo, and Shai Efrati
J Clin Psychiatry 2024;85(4):24m15464
Abstract:
Cumulative data indicate that new protocols of hyperbaric oxygen therapy (HBOT) may induce neuroplasticity and improve clinical symptoms of patients suffering from posttraumatic stress disorder (PTSD). The aim of the current study was to evaluate the effects of HBOT on veterans with combat-associated PTSD (CA-PTSD) in a randomized, sham-controlled trial. Male veterans aged 25–60 years with CA-PTSD, with a Clinician-Administered PTSD Scale for DSM-5 (CAPS-5) score above 20, were included. Exclusion criteria included a history of traumatic brain injury, other psychiatric diseases, or contraindication to HBOT. Participants were randomly assigned to HBOT or sham intervention. Both interventions involved 60 daily sessions, with 90 minutes of either 100% oxygen at 2 atmospheres absolute (ATA) (HBOT) or 21% oxygen at 1.02 ATA (sham) with 5-minute air breaks every 20 minutes. CAPS-5 score, Beck Depression Inventory-II (BDI-II), the Depression, Anxiety and Stress Scale 21 Items (DASS-21), and resting-state functional magnetic resonance imaging (rsfMRI) were assessed at baseline and posttreatment, with the primary end point defined as a 30% reduction in CAPS-5 score from baseline. The study was conducted between February 2020 and July 2023. Of 63 veterans who underwent randomization, 56 completed the study protocol (28 in each group). The HBOT group showed a significant decrease in mean CAPS-5 total score, from 42.57 ±9.29 at baseline to 25.8±9.5 following HBOT (P< .001) and 25.08± 13.08 at follow-up (P< .001). The sham group demonstrated a significant increase in CAPS-5 total score from baseline to follow-up, from 45.11 ±8.99 to 47.75± 11.27 following HBOT (P= .069) and 49.22± 10.26 at follow-up (P= .011). Significant improvements in the depression domain of the DASS-21 questionnaire and BDI-II were demonstrated (F=4.55, P= .03 and F=4.2, P= .04, respectively). The stress and anxiety domains of DASS-21 did not reach statistically significant levels. Analysis of rsfMRI demonstrated improved connectivity within the 3 main networks (default-mode network, central-executive network, salience network) in HBOT vs sham groups. Dedicated HBOT protocol can improve PTSD symptoms of veterans with CA-PTSD. The clinical improvement was accompanied by enhanced functional connectivity demonstrated by rsMRI.
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