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Epilepsia: O Exame de Sangue que Pode Facilitar o Diagnóstico


Utilizando gravações contínuas de vídeo-eletroencefalograma (vEEG), os pesquisadores observaram níveis aumentados de interleucina-6 (IL-6) no sangue de pacientes com epilepsia do lobo temporal (TLE) entre e após as crises, mas não em pacientes com epilepsia do lobo frontal (FLE) ou com convulsões não epilépticas psicogênicas (PNES). Os resultados sugerem que fatores imunológicos, como a IL-6, podem ser potenciais biomarcadores para diferenciar tipos de crises epilépticas e melhorar o diagnóstico.


A epilepsia é um distúrbio neurológico caracterizado por crises recorrentes e imprevisíveis, resultantes de uma atividade elétrica anormal no cérebro. Estima-se que cerca de 1% da população mundial seja afetada por essa condição, que pode variar em gravidade e manifestação. 


As causas da epilepsia são diversas, incluindo fatores genéticos, lesões cerebrais, infecções e outros problemas de saúde. As crises epilépticas podem ser de diferentes tipos e locais, como as crises do lobo temporal (ELT) e do lobo frontal (ELF) sendo elas focais ou generalizadas, cada uma com suas características clínicas e implicações específicas.

Pesquisas recentes apontam para uma interação bidirecional entre processos inflamatórios e crises epilépticas. Inflamações podem desencadear crises, e as crises, por sua vez, podem intensificar respostas imunológicas. 


Fatores imunológicos como citocinas (proteínas que modulam a resposta imune) e quimiocinas (que atraem células imunológicas) desempenham um papel crucial no controle entre a comunicação e na hiperexcitabilidade neuronal, características da epilepsia.


Um foco significativo da pesquisa é a interleucina-6 (IL-6), uma citocina pró-inflamatória que foi encontrada em níveis elevados no líquido cefalorraquidiano e no soro de pacientes após crises tônico-clônicas generalizadas. 


As crises tônico-clônicas generalizadas são um tipo de convulsão em que a pessoa perde a consciência e passa por duas fases: uma inicial de rigidez muscular (fase tônica) seguida por movimentos de sacudida ou espasmos (fase clônica). Essas crises resultam de atividade elétrica anormal no cérebro e podem deixar a pessoa confusa e cansada após o episódio.


A interleucina-6 (IL-6) é uma citocina, ou seja, uma proteína sinalizadora envolvida na regulação da resposta imunológica. Ela desempenha um papel importante no combate a infecções, promovendo a inflamação como parte da resposta do corpo a lesões ou infecções. 


Além de suas funções no sistema imunológico, a IL-6 está envolvida em processos como a febre e a produção de proteínas de fase aguda no fígado.


Níveis elevados de IL-6 são frequentemente observados em condições inflamatórias crônicas, doenças autoimunes e após crises epilépticas, indicando sua importância na mediação de respostas inflamatórias sistêmicas.

Estudos indicam que os níveis de IL-6 aumentam não apenas durante as crises, mas também no período interictal (tempo entre as crises) em certos tipos de epilepsia, como a do lobo temporal. No entanto, os resultados são inconsistentes, com alguns estudos relatando aumento de IL-6 apenas no período pós-ictal (após as crises).


Para investigar essas discrepâncias, pesquisadores da Universidade de Lund, na Suécia, conduziram um estudo detalhado envolvendo pacientes com epilepsia do lobo temporal (TLE) e frontal (FLE), além de crises não epilépticas psicogênicas (PNES). 


Usando gravações contínuas de vídeo-eletroencefalograma (vEEG), eles coletaram amostras de soro antes e após as crises para medir os níveis de 25 proteínas imunológicas, incluindo a IL-6.


Durante o exame, o EEG registra a atividade elétrica do cérebro de forma contínua ao longo de várias horas ou dias. Os eletrodos são colocados no couro cabeludo do paciente para captar sinais elétricos cerebrais, que são registrados e analisados.


Enquanto o EEG capta a atividade cerebral, uma câmera grava continuamente o comportamento do paciente. Isso permite a correlação entre eventos clínicos (como convulsões) e alterações na atividade elétrica cerebral.


Os pacientes foram cuidadosamente monitorados em ambiente hospitalar, garantindo a precisão na identificação dos períodos inter-ictal e pós-ictal. 


Além disso, os pesquisadores consideraram fatores como carga convulsiva, atividade epileptiforme no EEG, patologias cerebrais observadas por ressonância magnética, comorbidades, prática de exercícios físicos e uso de medicamentos anticonvulsivantes.

Os resultados revelaram que os níveis de IL-6 estavam elevados interictalmente em pacientes com TLE, mas não em aqueles com PNES.


Após uma crise, os níveis de IL-6 aumentaram temporariamente em pacientes com TLE, mas não em pacientes com FLE. Além da IL-6, outros cinco fatores imunológicos mostraram aumentos pós-ictais significativos apenas em pacientes com TLE.


Essas descobertas sugerem que fatores imunológicos no sangue periférico podem servir como biomarcadores úteis para diferenciar entre tipos de crises epilépticas e não epilépticas.


A pesquisa também destaca a complexidade da resposta imunológica na epilepsia, indicando que diferentes tipos de crises podem estar associados a diferentes perfis imunológicos, independentemente de outras comorbidades.


A pesquisa sobre a relação entre imunologia e epilepsia está em constante evolução, com potenciais implicações significativas para o diagnóstico e o tratamento da condição.


A identificação de biomarcadores imunológicos específicos pode ajudar a personalizar o manejo clínico da epilepsia, melhorando a qualidade de vida dos pacientes e abrindo caminhos para novas terapias.



LEAI MAIS:


Immune response in blood before and after epileptic and psychogenic non-epileptic seizures

Matilda Ahl,  Marie K. Taylor, Una Avdic, Anna Lundina, My Andersson, Åsa Amandussonc, Eva Kumliend, Maria Compagno Strandberge, Christine T. Ekdahla

Heliyon, Volume 9, Issue 3, e13938

DOI: 10.1016/j.heliyon.2023.e13938


Abstract:


Inflammatory processes may provoke epileptic seizures and seizures may promote an immune reaction. Hence, the systemic immune reaction is a tempting diagnostic and prognostic marker in epilepsy. We explored the immune response before and after epileptic and psychogenic non-epileptic seizures (PNES). Serum samples collected from patients with videoEEG-verified temporal or frontal lobe epilepsy (TLE or FLE) or TLE + PNES showed increased interleukin-6 (IL-6) levels in between seizures (interictally), compared to controls. Patients with PNES had no increase in IL-6. The IL-6 levels increased transiently even further within hours after a seizure (postictally) in TLE but not in FLE patients. The postictal to interictal ratio of additionally five immune factors were also increased in TLE patients only. We conclude that immune factors have the potential to be future biomarkers for epileptic seizures and that the heterogeneity among different epileptic and non-epileptic seizures may be disclosed in peripheral blood sampling independent of co-morbidities.

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