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Do Ar para o Cérebro: A Conexão entre Poluição e o Risco de Autismo


Resumo:

O aumento global da poluição do ar representa um fator de risco ambiental cada vez mais preocupante para transtornos do neurodesenvolvimento, particularmente transtorno do espectro autista (TEA). Estudos epidemiológicos recentes revelaram associações convincentes entre a exposição a poluentes atmosféricos específicos, incluindo partículas finas (MP), óxidos de nitrogênio (NO, NO2), dióxido de enxofre (SO2) e ozônio (O3), e aumento do risco de TEA.


O transtorno do espectro autista (TEA) é uma condição complexa que afeta o desenvolvimento neurológico, geralmente se manifestando em dificuldades na comunicação, comportamentos repetitivos e desafios nas interações sociais.


Embora a causa exata do TEA ainda não seja completamente compreendida, pesquisadores sabem que ele resulta de uma interação entre fatores genéticos e ambientais. 


Recentemente, a poluição do ar tem emergido como um possível fator de risco ambiental que pode desempenhar um papel significativo no desenvolvimento do TEA.


A poluição do ar é composta por pequenas partículas e gases tóxicos emitidos por indústrias, veículos, queimadas e outros processos humanos. Entre os componentes mais nocivos estão as partículas finas chamadas PM2.5 (menores que 2,5 micrômetros de diâmetro), óxidos de nitrogênio (NOx), ozônio e compostos orgânicos voláteis. 


Essas substâncias são tão pequenas que podem ser inaladas profundamente nos pulmões e entrar na corrente sanguínea, espalhando-se pelo corpo. 

Ilustração da ligação entre poluição do ar e TEA. Fonte: Shashank Kumar Ojha and Haitham Amal


Nos últimos anos, estudos científicos sugerem que a exposição à poluição do ar, especialmente durante a gravidez e nos primeiros anos de vida, pode ter impactos prejudiciais no cérebro em desenvolvimento. O sistema nervoso em formação é extremamente sensível a substâncias químicas, e a exposição a toxinas no momento errado pode alterar processos críticos, como a formação de conexões neuronais.


Pesquisas vêm mostrando uma associação crescente entre a exposição à poluição do ar e um risco aumentado de TEA. Estudos realizados em várias partes do mundo analisaram grandes populações e observaram que crianças expostas a altos níveis de poluentes durante a gestação ou nos primeiros anos de vida têm maior probabilidade de receber um diagnóstico de autismo.


Um dos mecanismos propostos é a inflamação: os poluentes podem causar inflamações no corpo da mãe durante a gravidez, afetando o ambiente intrauterino. Isso pode alterar o desenvolvimento do cérebro do bebê. Além disso, os poluentes podem atravessar a placenta, expondo diretamente o feto a toxinas que podem interferir no crescimento saudável das células cerebrais.


Outro fator é o estresse oxidativo. Os poluentes do ar podem desencadear a produção de radicais livres, moléculas instáveis que danificam células e tecidos. O cérebro, por ser altamente dependente de oxigênio, é especialmente vulnerável a esses danos.


Tambem foram identificados modificações epigenéticas e interrupção do sistema neurotransmissor glutamatérgico/GABAérgico. 

O momento da exposição parece crucial, com maior vulnerabilidade durante o desenvolvimento pré-natal e primeira infância, quando ocorrem processos neurodesenvolvimentais críticos, como migração neuronal, sinaptogênese e mielinização. 

 

Mas é possível evitar esse risco? Embora não possamos eliminar completamente a exposição à poluição do ar, algumas medidas podem reduzir os riscos. Grávidas, por exemplo, podem evitar exercícios ao ar livre em dias de alta poluição e usar purificadores de ar em casa. Políticas públicas que visem reduzir as emissões de poluentes, como regulamentar indústrias e promover o uso de veículos elétricos, também são fundamentais para proteger populações vulneráveis.


Apesar das evidências, os cientistas ressaltam que a relação entre poluição do ar e TEA ainda não é totalmente compreendida. Não se trata de um fator determinante, mas de um risco adicional. O autismo é um transtorno multifatorial, e a poluição do ar é apenas uma peça do quebra-cabeça, que inclui predisposição genética, outros fatores ambientais e interações complexas entre esses elementos.


Estudos futuros continuarão explorando como diferentes tipos de poluentes afetam o cérebro em desenvolvimento e como podemos mitigar esses efeitos. Esse campo de pesquisa é crucial para entender melhor as causas do TEA e criar estratégias para prevenir novos casos.



LEIA MAIS:


Air pollution: an emerging risk factor for autism spectrum disorder 

Shashank Kumar Ojha and Haitham Amal

Brain Medicine (2024), 1–4; Published online: 12 November 2024


Abstract:


The global surge in air pollution poses an increasingly concerning environmental risk factor for neurodevelopmental disorders, particularly autism spectrum disorder (ASD). Recent epidemiological studies have revealed compelling associations between exposure to specific air pollutants, including fine particulate matter (PM), nitrogen oxides (NO, NO2), sulfur dioxide (SO2) and ozone (O3), and increased ASD risk. While the rising global ASD prevalence, now affecting 1%–1.5% of the population, partially reflects expanded diagnostic criteria and enhanced screening, mounting evidence points to the critical role of gene–environment interactions in ASD etiology. Air pollutants can trigger multiple pathogenic mechanisms, including neuroinflammation, oxidative/nitrosative stress, epigenetic modifications, and glutamatergic/ GABAergic neurotransmitter system disruption. The timing of exposure appears crucial, with heightened vulnerability during prenatal development and early childhood when critical neurodevelopmental processes, such as neuronal migration, synaptogenesis, and myelination occur. Research priorities should focus on how air pollutants affect brain development in genetically susceptible individuals, especially during pregnancy and early childhood. Better ways are needed to identify individuals at the highest risk and develop practical protective measures. Given the rising global pollution levels, this knowledge will help shape meaningful public health policies to protect future generations from environmental factors that may contribute to ASD.

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